As transformações do mercado motivadas pelo avanço tecnológico bem como pela acelerada globalização da economia impõem às empresas novos padrões de contratação de pessoal. A reengenharia dos recursos humanos é imprescindível para manter a competitividade e a sobrevivência organizacional mas ao mesmo tempo fomenta processo de crescente dispensa de funcionários e gera legião de desempregados. Inúmeros postos de trabalho têm sido extintos, em especial os que exigem menor grau de especialização. Milhares de trabalhadores acabam excluídos do sistema produtivo por não terem escolaridade e qualificação profissional adequados às novas exigências.
Mas o fantasma do desemprego não causou sobressalto na vida de pelo menos 50 mil pessoas que foram recolocadas no mercado de trabalho pelo Centro de Solidariedade do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, da Força Sindical. Entre 600 e 700 desempregados passam diariamente pelo atendimento instalado em salão de mil metros quadrados e o cadastro, após sete anos de atividades, já atinge a marca de 1,5 milhão. “Além da busca por vagas, o trabalhador demitido conta também com serviço de orientação para recebimento das verbas rescisórias” — diz o presidente do sindicato Cícero Martinha Firmino da Silva.
O Centro de Solidariedade mantém contato com 1.480 empresas e as profissões com maior dificuldade de recolocação são preparador de torno e fresa, mandrilador, cronoanalista, engenheiro mecânico, alinhador de direção de centro automotivo, eletricista de manutenção eletroeletrônica, mecânico de refrigeração, mecânico de motor a diesel, retificador e supervisor em pintura com tratamento de superfície. “Um dos maiores problemas que o trabalhador do Grande ABC tem é procurar emprego de porta em porta de fábrica. É desanimador” — diz.
O serviço do sindicato encolheu essas distâncias e ainda incentiva à requalificação profissional. Conveniado do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), o Centro de Solidariedade recebe R$ 50 mil por mês e mobiliza 20 funcionários. A principal fonte de recursos do FAT é composta pelas contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e as principais ações financiadas estão estruturadas em torno do Programa do Seguro Desemprego e de Programas de Geração de Emprego e Renda. Na região existem mais dois programas em atividade além do Centro de Solidariedade.
Martinha pontua que a maior crise de emprego já passou. Aconteceu entre 1998 e 2002. “No último ano e meio tivemos estabilização da procura e melhora da oferta” — diz. O crescimento da indústria automobilística puxou o volume de vagas para cima mas também fechou portas para profissionais ligados à ferramentaria mecânica. “O mercado estreitou tanto esse tipo de mão-de-obra que quando alguma empresa precisa fica difícil encontrar” — lamenta. O Centro de Solidariedade dispõe de vaga há dois anos sem qualquer candidato. “O Senai já não oferece mais cursos nessas áreas e não há novos profissionais” — complementa.
Avô e neto
A grande maioria de desempregados é de aposentados e jovens atrás da primeira contratação enquanto a oferta de postos de trabalho se dá na área de informática, principalmente dentro das indústrias para operações de robôs e máquinas de última geração. “Até frentista tem de saber mexer com computador” — dispara o presidente da entidade. A faixa etária do trabalhador em atividade na região é de 25 a 40 anos. Há 30 anos havia mais trabalhadores entre 40 e 60 anos. Entre 1981 e 1983, a redução no nível de emprego atingiu o chão da fábrica e foram demitidas as pessoas mais jovens, com menor escolaridade e menor experiência.
Nos anos 90, o perfil mudou. O desemprego atingiu também a classe média e as empresas reduziram níveis hierárquicos e reorganizaram a produção, dispensando muitos quadros da média-gerência.
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