Nem é preciso ser inventivo para tentar corrigir a rota de queda sistemática da economia da Província do Grande ABC. Basta pesquisar, observar, analisar e partir para o trabalho de adaptação de políticas públicas que estão a dar resultados. Sorocaba deveria ser o alvo principal do Clube dos Prefeitos na tentativa de uma mudança do cenário regional. Não há grande Município no Estado de São Paulo que poderia dispensar uma inveja mais positiva que Sorocaba. Talvez Orlando Morando, prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC, titular do Clube dos Prefeitos, devesse cuidar desse assunto ao invés de travestir-se de João Doria ao lançar-se à punição de pichadores como política principal de governo.
Não se deve, claro, simplesmente transpor a enxurrada de políticas públicas e privadas que levaram Sorocaba a destacar-se tanto nas duas últimas décadas. Mensurei o tamanho das transformações a partir do governo Lula da Silva, passando por Dilma Rousseff, entre 2003 e 2014.
Os números de Sorocaba, quando contrapostos às individualidades e ao conjunto dos municípios da Província do Grande ABC, são escandalosamente deprimentes para quem mora e vive aqui. É nessas horas que é possível medir bem e melhor o tamanho das incompetências da Província que começam e terminam com a baixa institucionalidade das organizações coletivas e a dispersão de individualidades que gozam de apetrechamento intelectual.
Goleada implacável
O PIB Geral (que é a soma de produtos e serviços de todos os setores econômicos) de Sorocaba cresceu durante os 12 primeiros anos dos governos petistas, em termos nominais, sem considerar a inflação do período, nada menos que 395,31%. O PIB Geral da Província do Grande ABC não passou de 206,25% no mesmo período. Ou seja: Sorocaba cresceu quase o dobro. E a Província um pouco mais que a inflação acumulada do período, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), de 194,04%.
Se registrasse crescimento tanto quanto Sorocaba no período em que Lula da Silva e Dilma Rousseff ocuparam o Palácio do Planalto, o PIB Geral da Província do Grande ABC ao final de 2014, que chegou a R$ 120.191.259 bilhões, teria sido de R$ 155.143.726 bilhões. A diferença de R$ 34,952 bilhões pode ser mais bem dimensionada com a revelação de que se trata da soma dos R$ 28.119 bilhões do PIB Geral de Santo André e metade do PIB Geral de Diadema, de R$ 13.910 bilhões.
Individualmente, quem mais se aproximou do PIB Geral de Sorocaba nos 12 anos de governo petista foi Ribeirão Pires, que cresceu 264,40%. Quando escrevo “quem mais se aproximou”, é claro que é força de expressão, por dois motivos. Porque a diferença é enorme (395,31% de Sorocaba contra 264,40% de Ribeirão Pires) e também porque o Município da Província do Grande ABC não representa mais que 2% do PIB Regional e, perto de Sorocaba, é quase nada: são R$ 2.606.481 bilhões em 2014 contra R$ 32.662.452 bilhões do Município do Interior do Estado.
Ganhando em todos
Os grandes municípios da Província do Grande ABC perdem de goleada para a campeoníssima Sorocaba quando o PIB Geral é colocado frente a frente. Santo André avançou em termos nominais (sempre sem considerar a inflação do período) não mais que 230,25% (não se esqueçam da inflação de quase 200%), São Bernardo não passou de 210,58%, São Caetano de 155,08%, Diadema de 220,33% e Mauá de 191,50%.
Dos compartimentos mais importantes que compõem o PIB Geral, a melhor explicação para o show econômico que Sorocaba aplica na Província do Grande ABC é que o PIB Industrial ganhou musculatura extra de 340,13% de crescimento nominal quando se comparam os dados de dezembro de 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso, e os dados de dezembro de 2014, quando o País estava sob o já aparente descontrole de Dilma Rousseff.
Nesse mesmo período, os cinco principais municípios da Província acusaram novos golpes de desindustrialização com crescimento nominal abaixo da inflação do período. Santo André registrou 133,45% de incremento no PIB Industrial, São Bernardo 145,17%, São Caetano 72,77%, Diadema 151,87% e Mauá 115,28%. Apenas as minúsculas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra (197,36% e 301,33%) elevaram os níveis da região, mas com baixíssima influência no conjunto dos sete municípios porque seus pesos relativos são quase desprezíveis.
Perdendo na metrópole
A força econômica de Sorocaba nas duas últimas décadas parece não ter limites e, salvo erro de avaliação, está entranhada de tal forma que não parece enfrentar obstáculos. Tanto é verdade que nenhum dos grandes municípios paulistas que constam do G-22, o grupo dos 20 maiores do Estado, exceto a Capital, mais Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que integram a Província, registra sintonia fina entre os vários setores medidos pelo PIB.
Sorocaba é melhor no PIB Geral, no PIB de Serviços, no PIB da Administração Pública e no PIB Industrial. Os índices registrados nos últimos 12 anos estão muito à frente dos demais municípios que pesquisei com base nas planilhas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além dos sete municípios da região, constaram das investigações os três principais endereços à Oeste e a Leste da Região Metropolitana de São Paulo (Osasco, Barueri e Guarulhos) e os outros dois polos metropolitanos do Interior do Estado (Campinas e São José dos Campos).
Houvesse por parte do prefeito dos prefeitos da Província do Grande ABC a percepção de que poderia marcar história regional se deixasse de dar prioridade a pirotecnias administrativas e enxergasse os desafios que tornam o Desenvolvimento Econômico da região portentosa tarefa de reconstrução, Sorocaba seria o alvo principal de um benchmark que não pode mais esperar.
É claro e evidente que nem tudo de que precisamos estaria disponível na prateleira de iniciativas de Sorocaba. Poderia sugerir outros endereços municipais que também auxiliariam na investida regional. Mas Sorocaba deveria ser prioridade. Os números exalam mudanças que não são por acaso.
Helicóptero de que?
Nenhum helicóptero foi contratado para jogar pó de pirlimpimpim sobre o território daquela cidade do Interior. Por outro lado, não é seguro dizer que no território da Província não tenha sido contratado outro helicóptero para atirar alguma coisa que não posso revelar aos leitores por questão de educação.
Não sei até que ponto o Poder Público Municipal e os agentes econômicos (empreendedores e sindicalistas) agiram em comunhão para transformar Sorocaba em força econômica. Está certo que entre as vantagens daquela cidade sobre a Província do Grande ABC está o fato de ser espécie de centro da metrópole de uma região do Estado, assim como o são Campinas e São José dos Campos, além de Santos, entre outros.
Essa geoeconomia sempre ajuda, mas também se dizia que a Província poderia gozar das vantagens da exuberante vizinhança com a Capital, não é verdade? Sem contar que municípios colados à mesma capital do Estado, casos de Guarulhos, Osasco e Bauru, gozam de números gerais muito melhores que os da Província do Grande ABC nos 12 anos petistas. Guarulhos cresceu 308,79% no PIB Geral, Barueri 318,23% e Osasco 371,60%. Não se esqueçam os leitores que a Província não passou de 206,25%.
A degringolada da região frente a endereços da Grande São Paulo e também do Interior do Estado vem de longe e está sendo acompanhada o tempo todo por este jornalista. Por isso não se deve atribuir apressadamente, quando não açodadamente, minhas análises à configuração político-ideológica. Não me deixo contaminar por rabugices interesseiras ou não.
Acompanhamento histórico
Em 17 de fevereiro de 2003 (portanto há mais de 14 anos) escrevi sobre uma variável do enfraquecimento regional (entre centenas de matérias que consta deste acervo), sob o título “São José, Campinas e Sorocaba empatam com Grande ABC”. Ali já cantava a bola de que seríamos superados por aqueles municípios.
Leiam alguns dos trechos daquela análise que, por não coincidir com os intentos dos triunfalistas de plantão, ajudou a construir uma barreira de rejeição a este jornalista, liderada por tergiversadores da classe política, econômica e sindical da região:
O Grande ABC de 1995, primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, contabilizava em repasse de ICMS exatamente 51,21% mais que São José dos Campos, Sorocaba e Campinas juntas. Esses municípios foram escolhidos porque têm características médias semelhantes às do Grande ABC. Sem contar que reúnem população de dois milhões de habitantes, contra 2,35 milhões de nossa região. Em valores monetários não corrigidos, São José, Campinas e Sorocaba totalizaram R$ 307,7 milhões de repasse do ICMS em 1995, contra R$ 465,5 milhões do Grande ABC. Já no ano passado (2002), essa trinca chegava a R$ 634,4 milhões, contra R$ 652,3 milhões da região. Empate técnico que, acreditem, provavelmente será desfeito este ano porque continuamos patinando. Se a comparação for per capita, aqueles três municípios levarão vantagem. O que quer dizer tudo isso? Simples: a velocidade de crescimento de Campinas, Sorocaba e São José dos Campos, de economias mais diversificadas e dinâmicas, contrasta com o emperramento da máquina automotiva e químico-petroquímica, atividades que, como se sabem, carregam o Grande ABC nas costas – escrevi há 14 anos.
Lamentavelmente, tanto tempo passou e continuamos rumo ao desfiladeiro. Enquanto isso, o prefeito dos prefeitos da Província passa um recado tipicamente marqueteiro à sociedade, ao se lançar contras os pichadores. O que deveria ser acessório virou peça fundamental de gestão pública. Seguem-se os passos do marqueteiro maior da metrópole. Nosso gataborralheirismo é vergonhoso. Quando vamos aprender com quem tem mesmo a ensinar?
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?