Estou apostando com quem quiser, até porque isso não é uma aposta no sentido literal do termo, mas uma barbada: o PIB (Produto Interno Bruto) por habitante de São Bernardo vai cair por volta de 30% quando se completarem estudos relativos a seis dos oito anos constitucionais de Dilma Rousseff na presidência da República. Vou considerar seis anos porque não dá para atribuir ao governo de Michel Temer a temporada econômica do ano passado, quando Dilma foi apeada do poder. Aliás, não fosse a troca de guarda em Brasília, o estrago seria ainda maior.
Quando a Capital Econômica da Província do Grande ABC acumula tamanho prejuízo no PIB per capita, a expectativa é que estamos mais que ferrados. Daí que não existe outra maneira de analisar a gestão do novo prefeito da cidade, Orlando Morando, senão com nível de exigência muito maior do que seria em outras circunstâncias.
Quando esse prefeito também é prefeito dos prefeitos, como presidente do Clube dos Prefeitos, a situação é ainda mais dramática. Daí se exigirem iniciativas que sigam rumo completamente diferente do que se apresenta, embora não se deva descartar o cardápio de marketing de cada dia, desde que os anúncios ingressem no terreno da execução para valer.
Orlando Morando ainda não entendeu o que se passa com a São Bernardo que recentemente começou a administrar. E tampouco com a Província do Grande ABC que, no todo, sofre menos que São Bernardo, mas por estar no circuito automotivo, não se desgarra dos problemas.
Questão de tempo
Ainda faltam duas temporadas de apuração de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para que seja conhecido o PIB per capita dos Municípios de 2015 e de 2016. O PIB Nacional é oferecido à saciedade e à sociedade no começo do ano subsequente ao encerrado, enquanto a roda do PIB dos Municípios é mais lenta: sempre demora dois anos para a atualização das informações. Neste dezembro que há de chegar saberemos o PIB dos Municípios de 2015. Vai ser um novo estrondo regional.
Mais que medir a temperatura do PIB de São Bernardo em particular no contexto regional, o que estamos tentando dizer é que essa enfermidade vem de longe e contamina toda a nossa geoeconomia.
O PIB per capita municipal mais atualizado data de 2014. Fiz cálculos cuidadosos levando em consideração o período de janeiro de 2011 a dezembro de 2014, quando Dilma Rousseff estava na presidência e Luiz Marinho na Prefeitura de São Bernardo. A base de cálculo é o PIB dos Municípios de 2010, quando o IBGE adotou nova metodologia.
Querem saber o que houve com São Bernardo quando se pegam dados dos sete municípios da Província do Grande ABC e também de seis dos principais municípios do Estado de São Paulo, menos a Capital? Nenhum desses endereços teve comportamento produtivo mais pífio que São Bernardo.
Pior entre todos
O crescimento do PIB de São Bernardo de janeiro de 2011 a dezembro de 2014 não passou de 8,72% em termos nominais, que desconsidera a inflação do período. Quando se retrabalham os dados aplicando a inflação de 27,03%, índice acumulado de inflação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), chega-se à perda por habitante de 14,40%.
Ora, como faltam duas temporadas bravíssimos, justamente aquelas que marcaram a maior recessão da história brasileira, com queda do PIB de 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016, não é nenhuma prova de inteligência dizer que com Dilma São Bernardo aproximará de 30% de rebaixamento do PIB per capita. Os números que acabei de citar referem-se ao PIB Geral, não ao PIB per capita. E estão enquadrados no território nacional, não aos horrores de São Bernardo da indústria automotiva em decomposição.
Certamente os leitores querem saber de que cartola mágica tirei o percentual explosivo de queda projetada para São Bernardo quando emergirem os números do PIB per capita de 20-15 e 2016. Não há cartola mágica nenhum. Há mesmo atenção máxima. Os prováveis quase 30% de acúmulo de perda do PIB per capita de São Bernardo saltarão da soma dos 14,4% já mencionados, relativos aos anos de 2011, 2012, 2013 e 2014, aos números de 2015 e 2016.
Como assim? Ora, se o PIB per capita do Brasil registrou perda acumulada de 9,0% naqueles dois anos (não esqueçam que os dados nacionais são conhecidos geralmente no primeiro trimestre do ano seguinte às atividades) é automático o repasse daquela montanha de prejuízo acrescida de alguns pontos percentuais porque São Bernardo sofre mais que a média nacional quando o bicho da economia pega.
Nosso PIB Geral dos Municípios e nosso PIB per capita de 2015 e 2016, portanto, vão ser explosivamente muito superiores aos registrados no País. Somos aquilo que os leitores podem imaginar quando pretenderem estabelecer alguma metáfora sobre a escolha de um lugar do corpo humano caso o corpo humano tenha o formato de mundo. Sei que o leitor vai ter dificuldades em matar a charada, mas uma releitura com paciência e alguma pitada de sarcasmo resolverá a equação.
Sorocaba muito melhor
Aliás, cantei essa bola, sem ter os números do PIB dos Municípios de 2014, no texto que escrevi para esta revista digital em março de 2016. Portanto há mais de um ano. O titulo foi nesse sentido: “PIB per capita de São Bernardo vai cair 20% durante a gestão Dilma”. Reparem que o título deste novo artigo é bastante semelhante em termos de mensagem. A diferença é que esse texto assegura uma queda próxima a 30%, porque a recessão foi muito maior do que se imaginava.
Tanto em termos nominais quando deflacionados, o comportamento do PIB de São Bernardo é o mais dramático entre os 13 municípios que listei para comparações, ou seja, os sete da Província e os de Guarulhos, Barueri, Osasco, Campinas, Sorocaba e São José dos Campos. Desse grupo, apenas São José dos Campos rivaliza-se fortemente com a debacle de São Bernardo, com crescimento nominal de 13,42%, quase o dobro de nossa capital econômica. Mauá também se deu mal no período, juntando-se a São Bernardo e a São José dos Campos como únicos endereços que perderam por habitante, com 16,32% de avanço nominal.
Acima da inflação do IPCA do período, de 14,40%, estão todas as demais cidades relacionadas. Sorocaba lidera o ranking de crescimento nominal (e também em termos reais) com 57,50%. Quem mais se aproxima daquela cidade do Interior entre os sete municípios locais é Santo André, com crescimento nominal de 45,11%. Cabe um registro importante para explicar a evolução de Santo André: a nova metodologia de cálculo do PIB Nacional e do PIB dos Municípios utilizada pelo IBGE deu um peso maior ao setor de serviços. São Caetano cresceu 31,55% no período, Rio Grande da Serra 28,15%, Ribeirão Pires 41,14%, Diadema 27,27%.
Entre os seis municípios fora da geografia da Província do Grande ABC, além da já mencionada Sorocaba e também de São José dos Campos, Osasco acumulou crescimento nominal de 33,62%, Guarulhos 37,97%, Campinas 45,07% e Barueri 47,59%. A média de crescimento nominal do PIB per capita durante o período mencionado no Estado de São Paulo é de 38,64%. Ou seja: quase cinco vezes superior ao crescimento nominal de São Bernardo. Em termos reais, considerando-se a inflação do IPCA, o PIB Geral dos paulistas durante os primeiros quatro anos de Dilma Rousseff cresceu 9,14%, ou 2,282% ao ano. O PIB per capital de São Bernardo caiu a cada ano 3,60%.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?