É claro que o título acima é uma provocação. Mas, pensando bem, houvesse um mínimo de senso crítico e de entrega à realidade dos fatos, o trecho do Hino de Santo André que remete a ”viveiro industrial” deveria mesmo ser eliminado, a bem da verdade e da vergonha.
Em abril passado, o setor da indústria de transformação de Santo André perdeu 120 empregos com carteira assinada. Parece pouco, mas não é. Nos últimos 12 meses foram 1.238 postos de trabalho fechados, ou 4,36% do estoque. Também parece pouco. O problema é o conjunto da obra.
Santo André outrora industrial, conta com apenas 14,34% de empregos industriais em relação ao conjunto de trabalhadores formais. Uma média geral abaixo de qualquer Município da região, da média da Região Metropolitana de São Paulo, do Estado de São Paulo e também do Brasil como um todo. Preciso dizer mais?
Se precisar dizer mais, então vou dizer: em 1985, Santo André contava com 64.491 empregos industriais com carteira assinada. Como agora só registra 27.156, a perda líquida chega a 37.335 postos de trabalho. Ou em números relativos, uma quebra de 57,90%. Arredondando, 58%. Arredondando ainda mais: de cada 10 empregos industriais que Santo André exibia há três décadas – e que justificavam o “viveiro industrial” – sobraram apenas quatro. Um estrago e tanto, considerando-se, como se devem considerar, os ganhos sistêmicos da atividade industrial. Em média, o emprego industrial representa salários 40% acima dos demais setores juntos. Sem contar os chamados benefícios trabalhistas.
Baixas permanentes
No mês passado, abril, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego divulgados ontem, a Província do Grande ABC voltou a registrar quebra do emprego com carteira assinada no setor de transformação industrial. Os números gerais enganam quando se afirma que, após 28 meses, o saldo de contratações na região foi maior que as demissões. Houve incremento de 845 postos de trabalho em abril. Mas a atividade-chefe da economia, a indústria, apontou nova sangria, agora de 562 trabalhadores no olho da rua. Nos últimos 12 meses a conta é muito mais salgada.
A participação relativa do emprego industrial com carteira assinada no quadro de trabalhadores de Santo André escasseia a cada temporada. Os 14,34% consolidados em abril possivelmente vão ser potencializados nos próximos meses. E não existe nenhum truque semântico nessa constatação.
O emprego industrial perde nos dois sentidos de análise: tanto em números absolutos quanto em números relativos. Ou seja: o contingente numérico murcha a cada temporada tanto quando se observa o setor especificamente como quando confrontado com outras atividades. É uma sangria repetitiva e alarmante. Os dados históricos só confirmam uma desgraceira que parece não ter fim.
Ladainha cansativa
E como acreditar que terá fim se os prefeitos que se sucedem não escapam ao drible da vaca da realidade cruel que procuram minimizar? O tucano Paulinho Serra reforça a lista dos ilusionistas que passaram pelo Paço Municipal nas últimas décadas com a ideia fixa de que daria um jeito no que parece não ter jeito. Ainda recentemente enalteceu durante um evento o que chama de vantagem logística da Avenida dos Estados. No dia seguinte desmoronou mais uma das pontes podres que jamais contaram com manutenção decente dos administradores públicos sempre de olho nos quatro anos de mandato, quando muito na reeleição.
Tenho reiterado que Santo André, particularmente Santo André, é um endereço economicamente sem futuro no já complicadíssimo xadrez de improdutividade geral da Província do Grande ABC. A Avenida dos Estados é um fetiche logístico. Perdeu as condições de competitividade desde que chegaram a Anchieta e a Imigrantes. Com o trecho sul do Rodoanel, então, aí é que se lascou.
Mais que qualquer Município da Província do Grande ABC, embora todos estejam no mesmo saco de gatos de incompetências competitivas, Santo André deveria liderar no Clube dos Prefeitos uma ação coletiva de contratar consultoria especializada para recuperar alguma parte do caminho que perdeu.
Estribilho frustrante
Enquanto prevalecer a chutometria do ocupante do Paço Municipal de plantão, sempre repetindo a mesma ladainha, os números só vão se agravar. Ou não é grave a constatação de que Santo André tem em média menos trabalhadores industriais que o Brasil recheadíssimo de empregos de comércio e serviços?
Ainda se contasse com a alternativa de empregos tecnologicamente avançados na área de serviços, seria ótimo. O mundo competitivo converge a essa direção. Mas os serviços de Santo André são call-centers de baixíssimos salários.
O estribilho do Hino de Santo André envelheceu tanto quanto as instituições que deveriam zelar pelo conjunto da sociedade mas que, em larga escala, não fazem absolutamente nada para oferecer alguma esperança de mudança de rota conectada ao que se segue:
Salve, salve, torrão Andreense
Gigantesco viveiro industrial!
Teu formoso destino pertence
Aos que lutam por um ideal!
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?