Economia

Mudança no ISS é apenas parte
do problema de competitividade

DANIEL LIMA - 05/07/1997

Os secretários municipais de Desenvolvimento Econômico e de Finanças estão preparando para os prefeitos dos sete Municípios do Grande ABC incorporados ao Consórcio Intermunicipal estudos preliminares para dar ao ISS, Imposto Sobre Serviços, sentido de organicidade regional inédito. A previsão é de que até o próximo mês os prefeitos tomem deliberações que amenizem as possibilidades da deflagração de guerra fiscal já ensaiada por Maurício Soares, em São Bernardo, e, principalmente, por Luiz Tortorello, em São Caetano. O trabalho dos secretários só peca pelo distanciamento dos contribuintes, já que lideranças empresariais não foram até agora chamadas a dar sugestões.


Ao contrário do que se imagina, ISS não é um Custo ABC que atinge apenas empresas prestadoras de serviços. O imposto sufoca também o setor industrial que se utiliza de fornecedores num número proporcionalmente maior à medida que a terceirização deixa de ser modismo gerencial e se consolida como estratégia de gestão.


Essa lógica é tão evidente que representantes da Anfavea, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, e do Sindipeças, Sindicato Nacional da Indústria de Autopeças, em encontro mantido mês passado com prefeitos e secretários da região, além do secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Emerson Kapaz, elegeram a redução das alíquotas do ISS como uma das medidas capazes de facilitar a instalação de empresas no Grande ABC.


A grade do ISS na região está sendo dissecada pelos secretários municipais. Há alíquotas para todos os gostos e desgostos. Os serviços médicos, por exemplo, podem custar 2% de ISS em São Bernardo, 3% em Mauá, 4% em Santo André e 5% em Ribeirão Pires. Uma das propostas é uniformizar as alíquotas no maior número possível de atividades.


Nelson Tadeu Pereira, secretário de Desenvolvimento Econômico e Emprego de Santo André, que interpreta o pensamento do prefeito Celso Daniel, prefere não arriscar previsão de equidade do ISS em toda região por causa de aspectos municipais mais proeminentes em determinadas atividades, mas vê os estudos com olhos de quem acredita que o quadro atual será sensivelmente melhorado.


O ISS representa média de 15% das receitas municipais no Grande ABC. O rebaixamento implicaria em perdas imediatas para os cofres públicos que já estão anêmicos com o custeio ascendente e as receitas em queda, exceto São Bernardo e São Caetano, que vivem da indústria automotiva e empresas satélites.


A batata-quente da tentativa de harmonizar a situação regional vai estar nas mãos dos prefeitos e depois segue repartida e multiplicada às Câmaras Municipais, para aprovações. O milagre de aumento de arrecadação com o rebaixamento de alíquotas se daria com a atratividade de novos investimentos. É uma operação de engenharia complexa, mas o Grande ABC não tem mais tempo a perder.


Enquanto a indústria sofreu e ainda sofre desfalques por conta de incentivos fiscais, terrenos, terraplenagem e tantos aparatos do Interior e principalmente de Minas Gerais, os serviços têm, aqui mesmo na Grande São Paulo, municípios como Barueri que se especializaram em arrecadar mais com alíquotas mínimas. A guerra fiscal interna pode até ser superada pelo Consórcio Intermunicipal, mas o livre-mercado indica que novas defecções acontecerão se as alíquotas de ISS continuarem elevadas demais para a realidade de inflação baixa.


Leia mais matérias desta seção: Economia

Total de 1893 matérias | Página 1

12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES
07/11/2024 Marcelo Lima e Trump estão muito distantes
01/11/2024 Eletrificação vai mesmo eletrocutar o Grande ABC
17/09/2024 Sorocaba lidera RCI, São Caetano é ultima
12/09/2024 Vejam só: sindicalistas agora são conselheiros
09/09/2024 Grande ABC vai mal no Ranking Industrial
08/08/2024 Festejemos mais veículos vendidos?
30/07/2024 Dib surfa, Marinho pena e Morando inicia reação
18/07/2024 Mais uma voz contra desindustrialização
01/07/2024 Região perde R$ 1,44 bi de ICMS pós-Plano Real
21/06/2024 PIB de Consumo desaba nas últimas três décadas
01/05/2024 Primeiro de Maio para ser esquecido
23/04/2024 Competitividade da região vai muito além da região
16/04/2024 Entre o céu planejado e o inferno improvisado
15/04/2024 Desindustrialização e mercado imobiliário
26/03/2024 Região não é a China que possa interessar à China
21/03/2024 São Bernardo perde mais que Santo André
19/03/2024 Ainda bem que o Brasil não foi criado em 2000
15/03/2024 Exclusivo: Grande ABC real em três dimensões