O prefeito Orlando Morando ganhou a sorte grande da loteria econômica regional. Basta, agora, dar tratos à bola. Que não deixe a peteca cair. Que faça uma sucessão de gols. Ou de metafóricos veículos Polo. Morando só não poderá repetir o carioca Dudu Varela e tantos ganhadores de loteria de verdade (no caso a Esportiva dos anos 1970) que atiraram pela janela todo o dinheiro que o destino lhes reservou.
Duvido que Morando cometa tamanha bobagem. Justamente Morando que teve leitura acurada e meticulosa do que se lhe apresentava no formato da Volkswagen do Brasil.
O tucano entrou em campo na prorrogação de um jogo todo tramado pela multinacional, a CUT e o PT e se tornou estrela maior. Morando teve senso de oportunidade. Que também pode ganhar o rótulo de oportunismo sem que a qualificação tenha conotação pejorativa, como alguns imaginam. Quando se diz que um centroavante é oportunista, o que se atribui a quem tem a missão de fazer gols é um elogio, não é verdade? Morando fez um Polo de placa.
Tanto Orlando Morando teve capacidade de leitura político-administrativa e senso de oportunidade que recebeu das mãos de dirigentes da multinacional alemã o troféu garantidor dos investimentos em duas linhas de novos veículos.
Cadê os sindicalistas?
Possivelmente ninguém se perguntou a razão de não haver representação do sindicalismo de São Bernardo na recepção dos alemães. Não sei, gostaria de saber, mas não tenho uma fonte confiável para garantir que se trataria de simples esquecimento, de formalidade dispensável no entendimento dos alemães ou se algo mais grave -- como eventual turbulência na relação entre a multinacional e o braço trabalhista-ideológico de quem até outro dia gozava dos poderes executivos em São Bernardo e em Brasília.
Orlando Morando vinha repetindo nos seis primeiros meses de gestão em São Bernardo -- e também no Clube dos Prefeitos, do qual é o titular -- a mesma ladainha improdutiva dos antecessores e também dos seus pares regionais.
Entenda-se por ladainha repetitiva a fórmula desgastada de destinar a agenda diária a temáticas corriqueiras, varejistas, no campo econômico e social, e enfadonha na seara político-administrativa. Aquele joguinho de poder que não leva a nada de pedagogicamente instrutivo à sociedade. Tudo que determinados jornalistas gostam – até porque estão cada vez mais sobrecarregados -- por não dar à apuração dos fatos mais complexos. Muito menos exige análises aprofundadas.
Acúmulo de prejuízos
Morando vinha cumulando déficits institucionais imensuráveis. As medidas à frente do Clube dos Prefeitos estão a anos-luz de premissas de regionalidade poderosamente organizada. A redução de investimentos na Agência de Desenvolvimento Econômico e a descentralização do Clube dos Prefeitos em direção a Brasília sem um plano estratégico e abrangente comprometido como a sistematicidade do futuro são tiros nágua. Mas ainda há tempo à reconstrução desse enredo.
Nos primeiros seis meses de gestão municipal e regional de Orlando Morando tudo corria de forma modorrenta. Foi aí que apareceu a Volkswagen no meio do caminho.
A Volkswagen não foi literalmente a pedra no caminho de Orlando Morando até então um andarilho sem destino econômico.
A Volkswagen foi a pedra de toque em favor de um futuro diferente do que se ensaiava. Uma pedra de toque que pode catapultar uma carreira então claramente reticente quando se fixavam os olhos no futuro. Agora Morando ganhou uma oportunidade de ouro para brilhar. Muitos se desfariam do sinal de novos tempos. Morando tem o mérito da sensibilidade aguçadíssima.
Província ainda tem saída
Se Orlando Morando souber avançar no projeto de reestruturação da agenda regional, colocando a economia em primeiríssimo plano, vai se consagrar. Até porque, embora decadente, a Província do Grande ABC não é um caso irremediavelmente perdido às bordas da capital econômica mais importante do continente. É um caso a ser repensado com inteligência e sem dogmatismos.
Orlando Morando precisa sair da prisão ideológica e administrativa dos antecessores. Até porque, reafirmou-se a cada temporada de novos gestores de São Bernardo uma dura realidade: com sectarismo não se chega lá.
Entenda-se chegar lá como algo semelhante a encontrar o equilíbrio entre receitas e despesas orçamentárias sem que isso se traduza em enquadramento a novo formato de empobrecimento contínuo. São Bernardo e a região como um todo não podem se rum time de Terceira Divisão no ranking de desenvolvimento econômico. Infelizmente, esse tem sido o resumo das últimas temporadas quando se apanham os indicadores mais relevantes.
Não vou entrar em detalhes neste artigo sobre o que Orlando Morando poderá fazer para contribuir imensamente para a reforma econômica da região. Talvez o faça quando ele confirmar o convite que fez ontem ao telefone, da Alemanha, de que gostaria de me receber de novo no Paço Municipal.
Orlando Morando não sabe o que está perdendo ao desdenhar de um jornalista que não teve escapatória ao longo dos anos senão aprender a decifrar a região ouvindo atentamente fontes de todas as áreas. Meus anos de janela, de cama e mesa não podem ser jogados fora. Meu perfil reformista seria supostamente beligerante. E mesmo que o fosse, há sempre uma salvação porque os filósofos garantem que só os rebeldes mudam o mundo.
Mas, retomando o fio da meada do golpe de mestre de Orlando Morando (ele me disse ontem que jamais se arvorou dono da bola dos investimentos da Volkswagen, como os jornais locais traduziram sua iniciativa de ir à Alemanha após receber convite da direção da empresa), a chegada de novos e salvadores investimentos não pode se resumir à fábrica da Anchieta.
A oportunidade que se oferece a Orlando Morando é excepcional. É hora de um chamamento coletivo no Clube dos Prefeitos pela retomada econômica da região. Até porque, a alternativa é o aprofundamento do precipício social.
Ainda vou escrever muito sobre o dia seguinte da viagem de Orlando Morando à Alemanha. Mas na edição de segunda-feira volto a analisar as respostas do prefeito à Entrevista Especial desta revista digital. Vou tentar matar as pendências de uma vez para deixar o campo livre a novos tempos que parecem surgir no horizonte. Até porque, aquelas respostas foram de um Orlando Morando antecessor do caso Volkswagen. Ali ele ainda parecia dopado na seara econômica.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?