A Província dos Sete Anões perde feio na geração e no estoque de postos de trabalho formais para a Capital e também para o G-3M, o grupo formado por Guarulhos, Barueri e Osasco, à Leste e Oeste da Região Metropolitana de São Paulo. O referencial desta análise é inédito. Segue linha análoga ao medidor do ambiente criminal recomendado pela ONU (Organização das Nações Unidas), utilizado em várias áreas, inclusive na definição do ranking de homicídios. Nesse caso, o ranking é de vitalidade do mercado formal de trabalho, que passo a batizar de Índice de Vitalidade do Mercado de Trabalho Formal.
A pergunta que me desafiou ao que tanto me inquietava parece que está respondida. Queria saber como é possível tomar o pulso do mercado de trabalho com carteira assinada de forma a estabelecer comparações entre municípios da região e de outras localidades. Considerar exclusivamente o número absoluto de postos de trabalho é péssima ideia, porque o indicador desprezaria diferenças populacionais.
Números absolutos enganam
Tenho feito sistemático uso do estoque municipal e regional dos empregos com carteira assinada como modelo de comparações sobre o andar da carruagem de demissões e admissões líquidas. O estoque está diretamente relacionado à queima ou conquista de carteiras assinadas por Município. Números absolutos também dizem pouco. São Bernardo, por exemplo, conta com maior volume de demissões líquidas nesta temporada, mas ao se compararem os números com o estoque geral verifica-se que a realidade é outra. Diadema e São Caetano sofrem neste ano mais perdas relativas do emprego industrial do que São Bernardo.
A explicação é que São Bernardo sofreu muito nos últimos anos e parece próxima da estabilidade após certa recomposição das montadoras e autopeças. Já São Caetano e Diadema, menos dependentes diretamente das montadoras, perdem com outras atividades que retardaram o quanto puderam as demissões.
Vou sair do terreno de conjecturas. Nos primeiros seis meses deste ano, São Bernardo acusou baixa de 642 postos de trabalho industrial com carteira assinada, segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho. O volume representou 0,85% do total de empregos do setor no Município; ou seja, o estoque disponível. Já Diadema perdeu neste ano 522 postos de trabalho industrial, o que representou 1,21% do estoque, ou seja, acima de São Bernardo. São Caetano perdeu empregos industriais em números absolutos apenas levemente acima de São Bernardo (714 contra 642) mas quando se vai aos números relativos, as perdas atingiram 3,04% do estoque de São Caetano – quase quatro vezes mais que São Bernardo, portanto.
Nem tudo que reluz é ouro
Feita a distinção entre números absolutos e números relativos para demonstrar que nem tudo que brilha e ouro, chegamos ao ponto pretendido: o ranking de vitalidade do mercado de trabalho formal. E é nesse ponto que a Província vai mal antes os números da Capital e também de outros contendores, caso da soma de Guarulhos, Osasco e Barueri tão próximas da região e que contam com aliados estratégicos ao desenvolvimento econômico, os trechos oeste e leste do Rodoanel Mario Covas.
Então, como se forma o Índice de Vitalidade do Mercado de Trabalho Formal? Simples: divide-se o total de postos de trabalho pela população do respectivo Município ou agrupamento de municípios.
A Província dos Sete Anões registrava em junho deste ano 712.548 empregos formais em diferentes categorias econômicas. Quando se divide esse número pelo total da população, de 2.753.202 habitantes, chega-se ao índice regional de 25,88%. Ou seja: para cada grupo de 100 habitantes da região, há estoque de postos de trabalho de 25,88. Não se pode dizer que para cada grupo de 100 habitantes da região há 25,88% de moradores empregados com carteira assinada porque muitos profissionais em atividade moram fora dos sete municípios. Menos, claro, que os quase 25% dos habitantes da região que atuam em São Paulo.
Agora, as comparações
Como saber se os 25,88% de empregos com carteira assinada em relação à população da região é resultado satisfatório ou não? Basta comparar com os números da Capital. O índice de vitalidade da cidade de São Paulo é de 34,77%. Ou seja: para cada grupo de 100 moradores da Capital, mais de um terço encontra mercado de trabalho local. Os quase 10 pontos percentuais de diferença (34,77% versus 25,88%) favoráveis à Capital significam 244.766 trabalhadores com carteira assinada. Ou uma vantagem de São Paulo na geração de emprego de 34,35% sobre a Província. Indo mais fundo ainda: para ter a vitalidade empregatícia de São Paulo, a Província dos Sete Anões precisa acrescer ao estoque de 712.548 profissionais nada menos que 244.766 contratações, totalizando 957.314.
Quando a comparação envolve a soma dos sete municípios da Província e os três municípios que tangenciam a Capital do Estado do outro lado da Região Metropolitana, a diferença é de 130.482 postos de trabalho. Ou seja: Guarulhos, Osasco e Barueri têm estoque de trabalhadores formais mais substantivo que a Província. Contando com população de 2.286.090 habitantes, o G-3M soma 700.034 empregos formais, também registrados em junho deste ano. Ou 30,62% da população.
Para cada grupo de 100 habitantes, Guarulhos, Barueri e Osasco têm registrado em seus territórios 30,62% empregos formais. Quase cinco pontos percentuais acima dos 25,88% da Província. Trocando em miúdos: para contar com vitalidade empregatícia formal do G-3M, a Província do Grande ABC deveria contar hoje com 843.030 empregos formais, não os 712.548 reais.
Correlação com o PIB
Há estreita correlação entre a vitalidade do mercado de trabalho formal e o PIB (Produto Interno Bruto). Nem poderia ser diferente. Cada posto de trabalho significa geração de riqueza no sistema capitalista. Quanto mais emprego com carteira assinada um Município conta em relação à população, maiores serão as possibilidades de fortalecimento do Produto Interno Bruto.
A Província dos Sete Anões vem patinando há muito tempo no ranking do PIB dos Municípios anunciado a cada final de ano pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mais precisamente, vem perdendo a força. Com nova metodologia desde 2010, o PIB dos Municípios sofre defasagem de dois anos. Ou seja: divulgado em dezembro de 2016 o PIB dos Municípios corresponde ao ano de 2014.
Entre 2010 (base) e 2014, o PIB da Província avançou em termos nominais, sem considerar a inflação do período, apenas 26,03%%. Como a inflação de janeiro de 2011 a dezembro de 2014, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou 27,03%, a região acusou o golpe de permanecer congelada na geração de riqueza.
Os resultados de 2015 e 2016 serão desastrosos porque o Brasil acumulou quase 8% de queda do PIB e a Província, dependente do mercado automotivo, sofrerá muito mais. Já o G-3M, no mesmo período de 2010 a 2015 cresceu em termos nominais 10 pontos percentuais acima da inflação: contra os 27,03% do IPCA, Guarulhos, Osasco e Barueri avançaram 37,14%.
Em 2014, sempre em termos nominais, o PIB da Província registrou R$ 120.190.959 bilhões. Já o PIB de Osasco, Guarulhos e Barueri somou R$ 156.107.676 bilhões. Uma vantagem de 23%sobre o PIB da região. Em 2010, marco da nova metodologia do IBGE, o PIB de Guarulhos, Osasco e Barueri somava R$ 113.830.503, ante R$ 95.363.205 da Província -- uma diferença de 16,22%.
Como se observa, os vizinhos à Leste e a Oeste da Capital do Estado avançam em ritmo muito maior que os antigos lideres à Sudeste. O mercado de trabalho formal é, portanto, um dos sinalizadores mais importantes à tomada da temperatura do ambiente de negócios. E a Província está ficando cada vez mais para trás.
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