Economia

Predadores imobiliários prontos
para dar golpe nos compradores

DANIEL LIMA - 03/08/2017

Tudo se encaminha para mudanças nas regras de distratos imobiliários. O custo será elevadíssimo aos compradores. A ofensiva para produzir uma medida provisória no governo de um presidente da República sem aparato ético depois da lambança no Jaburu parece irreversível. Os barões imobiliários, sempre protegidos pela mídia, avançam batalhões. Eles não querem correr nenhum risco nos negócios. As ovelhas consumidoras devem seguir para os matadouros sem apelação. 

Vai se completar uma operação que deixará a clientela a deus-dará. O estelionato se completará com uma metida de mão no bolso do elo mais fraco de uma cadeia de valores movida pela especulação e por lideranças sem cerimônia na manipulação de informações. 

A Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC, se viu livre da institucionalização de mentiras estatísticas desde que o empresário Milton Bigucci, da MBigucci, foi apeado da presidência do Clube dos Construtores. O mais respeitável Marcus Santaguita botou ordem na casa e extinguiu o puxadinho de asseclas criado pelo antecessor exclusivamente para industrializar números fantasiosos que contribuíram para criar um ambiente de fertilidade econômica numa região teimosamente empobrecida. 

Bolha imobiliária 

O resultado da continuada operação mercantilista está à vista de todos que não têm medo de enxergar: uma das vertentes conceituais de bolha imobiliária faz da Província moradia permanente.  Há proliferação de placas de vende-se e aluga-se adornar imóveis de todos os tipos de padrões. Democraticamente, em bairros de classe média e de classes populares. 

Passem pelo Jardim do Mar, um bairro de classe média, em São Bernardo, e constatem com os próprios olhos. Sugerir que façam uma visita ao conglomerado de apartamentos e salas comerciais chamado Domo, ao lado da Prefeitura, é ser repetitivo. Mas não faltam Domos e Jardins do Mar na Província. O encalhe é generalizado. Venderam gato por lebre. 

A institucionalização do contorcionismo estatístico, em qualquer atividade, deveria ser duramente penalizada caso existisse no País compromisso para valer com a segurança de dados que influenciam decisões que pesam no bolso e na alma dos consumidores. No caso do mercado imobiliário, o sonho da casa própria é um fetiche criado para enfeitiçar a sociedade e torná-la refém de iminente abate financeiro de agentes inescrupulosos.

Mentiras continuadas 

Milton Bigucci passou anos e anos à frente do Clube dos Construtores mentindo para a sociedade consumidora de informações imobiliárias. Contou com a omissão, quando não com o incentivo, da maioria da mídia regional, e nada lhe aconteceu. Mais que isso: com a força econômica e os laços sociais que o dinheiro incrementa, foi ao Judiciário em três oportunidades para tirar este jornalista de circulação. 

Mas não o fez quando apontei a fraude licitatória que lhe possibilitou o arremate de uma área pública transformada num megaempreendimento -- agora também na massa grossa de exaustão de ofertas. Quando a materialidade é irrecorrível, o espaço à judicialização seria um tiro no pé, sabe bem o famigerado empresário. É mais fácil atuar na zona cinzenta da subjetividade pela subjetividade de uma frase descolada do contexto aqui, do contexto ali. 

Biguccis demais 

Não faltam Biguccis nas praças imobiliárias do País. A diferença é que poucos deles têm o mesmo grau de vaidade e de ousadia autofágica de ocuparem holofotes institucionais. Preferem a discrição das respectivas corporações que dirigem.

Um mercador imobiliário que usa a mídia para vender ilusões em nome da empresa que representa é um fraudador ético que deveria ser punido. Agora, um mercador imobiliário à frente de uma entidade de classe deveria responder às autoridades ministeriais e judiciais de forma ainda mais severamente porque comete crime contra a economia popular. 

Não vou entrar em detalhes sobre o que se pretende de mudanças nos distratos imobiliários. Em todas as notícias que dão conta da mobilização do empresariado no governo federal o tom é sempre o mesmo: pretende-se jogar todo o peso de ressarcimento pela desistência do negócio nas costas dos compradores. 

Nos últimos 12 meses os distratos significaram 40% das vendas. De fato, é um enorme contratempo aos construtores e incorporadores. O que ninguém escreve é que foram eles mesmos, esses empresários, sobretudo os de alto calibre, que fabricaram as peças de quebra-cabeças desse monstrengo que causa tantos estragos. Só não contavam com o efeito bumerangue. Do qual querem se ver livres a partir da esperada medida provisória federal. 

Terra de espertalhões 

A explicação é simples: os usos e abusos contra a clientela são frequentes porque o mercado imobiliário é uma terra sem lei nas relações entre empresas e consumidores. A esperteza de quem é especialista na matéria em confronto com a credulidade dos marinheiros geralmente de primeira viagem formam o caldo de cultura de desequilíbrio nos negócios. 

Quem já não teve pelo menos uma experiência dolorosa na compra de um imóvel? Imaginem então – e os distratos que vieram em forma de enxurrada foram plantados no período em que se vendia o crescimento do País como uma dádiva eterna – o que se formou de bolha protegidíssima pela mídia? 

Quando abro minhas pastas de arquivo de jornais impressos que identificam as nuances do mercado imobiliário (duvido que o Clube dos Construtores tenha algo semelhante) fico estarrecido com o entrosamento de time campeão do mundo entre determinadas publicações e os agentes imobiliários. 

Há um jogo involuntário ou incentivado. Sem contar, também, que se criam mecanismos supostamente científicos de aferição dos valores de metros quadrados de apartamentos e salas comerciais sem qualquer relação com o mundo real. Os preços dos imóveis desabaram, mas seguem praticamente incólumes nas estatísticas sequestradas. 



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