Antes de tudo uma explicação: VA é Valor Adicionado, indicador econômico fortemente influenciado pela produção industrial e cadeia de fornecedores. É espécie de prévia do PIB (Produto Interno Bruto). Ou seja: para onde vai o VA, o PIB vai atrás. Exceções confirmariam a regra. Pois saiu o VA da Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC, de 2016. O PIB dos Municípios Brasileiros de 2016 só será conhecido em dezembro do ano que vem. O atraso é regularmente de dois anos. Estamos antecipando uma queda mais que lógica. Os números finais do PIB não serão tão distintos do Valor Adicionado.
Os dados são exclusivos de CapitalSocial. Tanto quanto a sistematização e a análise. Destrinchamos o calhamaço de dados da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Cuidamos de dados econômicos da região e dos principais municípios paulistas desde sempre. Este endereço é múltiplo em abordagens. Regionalidade é nosso ponto de partida e de chegada. Querem saber quanto perdemos de VA no ano passado?
Perdemos 5,43% do VA em relação a 2015. Que por sua vez vinha acumulando perdas desde que Dilma Rousseff, em janeiro de 2011, assumiu a presidência da República. Os números do ano passado podem e devem ser atribuídos à gestão de Rousseff, apeada do poder antes que o primeiro semestre se encerrasse, mas cujos estragos macroeconômicos somente recentemente foram minimizados --apesar das trapaças éticas de Michel Temer.
No ano passado o Valor Adicionado total da Província dos Sete Anões registrou 69.470.095 bilhões. Um pouco acima, nominalmente, que os R$ 69.113.424 bilhões de 2015. Entretanto, quando se aplica a atualização monetária, os números de 2015 passam a ser R$ 73.460.066 bilhões. Daí a perda de 5,43% entre uma temporada e outra. O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu 3,4% em 2016.
Duas grandes perdas
Nem tudo se comportou na Província dos Sete Anões de forma padronizada em 2016 quando se observam os números do Valor Adicionado. Há dois estrondos em perdas. Tente o leitor acertar quais foram os dois municípios que mais acusaram golpes de perdas produtivas. Esqueçam o título deste artigo e pensem no mercado automotivo. Pensaram? Então não tem como errar.
Foram São Bernardo e Diadema, claro. São Bernardo porque tem montadoras e autopeças a dar com pau. Diadema tem autopeças aos magotes. São os dois municípios locais que sofrem da Doença Holandesa Automotiva.
São Bernardo não escapou no ano passado à degringolada nacional no setor automotivo. Mais que isso: sofreu muito, porque concentra empresas que já perderam o viço de modernidade e tentam se reerguer -- mas que são cada vez mais impactadas pela concorrência menos pesada.
Para manter-se incólume no Valor Adicionado de 2015, São Bernardo deveria ter registrado R$ 28.901.269 bilhões. Mas apontou R$ 27.190.100 bilhões. Uma diferença de 11,78%. Quando indico o valor monetário a que deveria chegar São Bernardo o fiz levando em conta o total de 2015 acrescido da inflação de 6,29% do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
São Bernardo ficou em termos reais, R$ 1.711.169 mais pobre em matéria de Valor Adicionado no ano passado. O equivalente ao Valor Adicionado de Ribeirão Pires. Ou seja: São Bernardo perdeu uma Ribeirão Pires de produção de riqueza industrial. São Bernardo representa 36,70% do Valor Adicionado da região. A influência desse domínio contamina integralmente a economia regional.
Diadema perdeu mais em termos relativos e menos em termos absolutos. A queda de 12,62% do Valor Adicionado no ano passado (um pouco acima de São Bernardo) quando comparada ao ano anterior representou R$ 575.164 milhões (um terço de São Bernardo). O total equivale a quase três vezes o Valor Adicionado de Rio Grande da Serra.
Para que mantivesse o Valor Adicionado de 2015, Diadema deveria ter contabilizado R$ 9.719.268 bilhões, considerando o valor monetário do ano anterior acrescido do IPCA. O resultado foi de R$ 9.144.104 bilhões. Diadema representa 13,16% do Valor Adicionado da região.
Santo André cresce
A participação de Santo André no Valor Adicionado da região no ano passado registrou 16,78%. Em outros tempos os números favoreciam a antiga capital econômica em doses cavalares. Eram mais que o triplo de Diadema. No ano passado o Valor Adicionado de Santo André cresceu 4,51%. Tudo porque a desindustrialização continuada durante mais de três décadas rebaixou a base de comparação. Qualquer movimento positivo pode gerar dados positivos. Ainda mais que a dependência do setor automotivo é bem menor quando se confronta com São Bernardo e Diadema. Santo André registrou VA de R$ 11.658.167 bilhões no ano passado. Levemente acima dos R$ 11.152.053 do VA do ano anterior já inflacionado pelo IPCA – originalmente R$ 10.492.100 bilhões.
Como teria se comportado o Valor Adicionado de São Caetano, sabendo-se como se sabe da influência do setor automotivo -- por causa da General Motors -- é bastante expressiva mas não avassaladora como nas vizinhas São Bernardo e Diadema? Resultado? empate técnico. São Caetano alcançou no ano passado o VA de R$ 11.549.132. No ano anterior, relativo ao comportamento da economia em 2015, foram nominais R$ R$ 10.868.583 bilhões. Valores nominais não incorporam inflação. Quando se aplica o IPCA do ano passado, de 6,29%, São Caetano chega a R$ 11.552.217 bilhões de Valor Adicionado. Pega-se esse valor e se compara com o efetivamente realizado, de R$ 11.549.132, e temos o que chamou de empate técnico. Menos mal.
Mauá dependente em larga escala do Polo Petroquímico registrou crescimento do Valor Adicionado no ano passado, quando comparado ao ano anterior. São míseros 2,91%, mas já é alguma coisa. Foram contabilizados R$ 10.435.321 bilhões (15,02% da região). Um pouco acima do VA de 2015 quando se aplica o IPCA de 6,29% (de R$ 9.540.079 nominais para R$ 10.140.150 bilhões).
A vizinha Ribeirão Pires registrou empate técnico. Foram R$ 1.616.949 de Valor Adicionado em 2016 ante R$ 1.616.992 bilhão de 2015, já com atualização monetária dos originais R$ 997.521 milhões.
Completando a Província, a pequeníssima Rio Grande da Serra registrou queda de 2,50% do Valor Adicionado em 2016 frente a 2015. Foram R$ 221.510 milhões ante R$ 277.000 milhões de 2015, já com a incorporação inflacionária de 6,29% do IPCA nos originais R$ 260.608 milhões.
Voltaremos com mais análise sobre o comportamento do Valor Adicionado da Província dos Sete Anões na próxima segunda-feira. Há insumos fartos a aprofundamentos. Nossa caminhada regional produtiva é uma sucessão de tropeços.
Fosse possível passar aos leitores uma imagem do que significaria o Valor Adicionado da Província no período de Dilma Rousseff e praticamente durante os últimos 30 anos (com intervalo para os anos falsamente dourados do governo Lula da Silva), não teria dúvidas em preparar uma arte especial, fosse minimamente habilitado a transferir em forma de traços. Desenharia um bêbado ao léu, ou seja, o pior tipo de bêbado. Há bêbados que ao menos procuram alguma saída para resgatar a dignidade. Não temos nada na linha do horizonte que indique algo que não seja cada vez mais vexatório.
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