Passados oito meses desde que assumiu a chefia da Prefeitura, Orlando Morando ainda não amarrou uma proposta sequer para reduzir a força antagônica que a construção do trecho sul do Rodoanel causou sobretudo a São Bernardo que o elegeu em outubro do ano passado. Cantada em prosa e verso pelo governador do Estado -- apoiado pelo então deputado estadual Orlando Morando -- como a melhor esquina do Brasil, quando da inauguração em 2010, o traçado tem-se confirmado presente de grego. Ou, usando uma linguagem mais aguda, o trecho sul do Rodoanel virou um mico logístico para a região, embora seja a salvação da lavoura para municípios no entorno Leste e Oeste da Capital e, mais que isso, uma dádiva para a Baixada Santista.
O PIB (Produto Interno Bruto) per capita confirma o desastre econômico de São Bernardo já identificado no PIB Geral exaustivamente analisado por este jornalista. Apontei ainda no século passado, quando já se falava em Rodoanel na Província, que o estrago poderia ser enorme. Não deu outra.
Sem mascaramentos
PIB per capita leva em conta a divisão do resultado da geração de riqueza em forma de bens e serviços pelo conjunto da população. Isso significa que o vetor demográfico é condicionante à avaliação dos municípios de tamanhos diferentes. A classificação do Brasil no ranking mundial do PIB é mascarada pelos números gerais, por exemplo, por conta da população de mais de 200 milhões de habitantes. O PIB per capita do Brasil ocupa a 91ª posição no ranking mundial.
É o caso de São Bernardo num confronto com Barueri, do outro lado da Grande São Paulo: o PIB per capita é três vezes maior em Barueri. Em Osasco é mais de 30% superior.
Quando o PIB per capita não avança na mesma proporção de concorrentes municipais, o alerta deveria estar ligado: há desarranjo econômico a corrigir. São Bernardo não tem dado importância à derrocada há mais de duas décadas. Prefere ostentar a arrogância de Capital Automotiva do País.
Caçapa cantada
Comprova-se cada vez mais acertada a caçapa cantada de que São Bernardo perderia empregos e investimentos industriais, principalmente com a chegada do trecho sul tempos depois da construção do trecho oeste, que tem Osasco como principal estrela. Vários fatores pesam nessa equação, entre os quais o sindicalismo cutista e a logística interna regional que não acompanhou o crescimento demográfico e veicular, além de permitir crimes continuados no uso e ocupação do solo pelo mercado imobiliário sem barreiras e sem contrapartidas relevantes.
Em 2002, último dos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso, período de grandes estragos na região, e também data da inauguração do trecho oeste do Rodoanel, São Bernardo contava com PIB per capita 58,40% inferior ao de Barueri, mas superior em 11,58% ao de Osasco e 46,69% ao de Guarulhos. Esses municípios da Grande São Paulo formam o G-3M e, fora a Capital, são os maiores concorrentes da Província na disputa por investimentos.
Na outra ponta estatística, que leva em conta resultados do PIB dos Municípios em 2014, o mais recente divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou-se o tamanho do rombo no PIB per capita. A diferença favorável a Barueri ante São Bernardo aumentou para 67,16%, o que era vantagem de São Bernardo sobre Osasco de 11,58% passou a ser desvantagem de 30,62% e a vantagem de 46,69% sobre Guarulhos caiu para 33,34%.
Perdendo fôlego
O PIB per capita de São Bernardo, em valores nominais, era de R$ 21.390,00 em 2002, ante R$ 51.430,00 de Barueri, R$ 11.403,00 de Guarulhos e R$ 18.912 de Osasco. Já em dezembro de 2014 o PIB per capita de São Bernardo (R$ 60.492, 00) perdia para o de Barueri (R$ 184,256,00) superava o de Guarulhos (R$ 35,294,00) e era vencido pelo de Osasco -- R$ 87.193,00.
Mais uma vez vamos explicar a razão básica de o trecho sul do Rodoanel tornar-se muito mais problema do que vantagem para a economia da região quando se medem os resultados do PIB tanto no âmbito geral quanto por habitante. Há dois fatores que tornaram a obra nova pedra no caminho da expansão da economia principalmente de São Bernardo.
O que mais pesa
O primeiro vincula-se à logística: o trecho sul passa apenas tangencialmente pela região. O braço curto que invade a área urbana de Mauá é exceção. Sem inserção territorial abrangente, como a que existe na Grande Oeste, os municípios da Província usufruem muito pouco do traçado. Até porque – e esse é um ponto decisivo – há apenas três alças de acesso, contra mais de uma dezena em Osasco e região.
Desde a inauguração, em 2002, o trecho oeste do Rodoanel, da região de Osasco, atraiu dezenas de empresas da Província e de várias regiões do Estado. Tornaram-se mais competitivas ao se aproximarem do trecho do Rodoanel e também por contarem com mão de obra menos suscetível a imperiosidades sindicais.
Osasco investiu em empresas de logística, mas não apenas em empresas de logística. Barueri já descobrira o filão de investimentos muito antes, sobretudo na área de tecnologia da informação. O resumo da ópera é que as empresas que se evadiram da região encontraram espaço mais competitivo para crescer. E usufruíram ainda mais do Rodoanel quando foi inaugurado o trecho sul da Província. Era o que faltava principalmente para chegar com mais facilidade à Baixada Santista.
Novidades improváveis
É muito pouco provável que tanto o prefeito Orlando Morando quanto o governador do Estado, Geraldo Alckmin, anunciem novidade que redesenhe o potencial de atratividade de investimentos do traçado do Rodoanel na Província. Eventual possibilidade de se abrirem novas alças de acesso, retirando da estrada o que os especialistas chamam de lacre ambiental, não suportaria pressões de militante verdes.
O trecho que serve a região foi concebido para ajustar competitividade econômica e proteção ambiental. Os idealizadores esqueceram de combinar com os russos da vizinha da Província, que, contando com elasticidade dos traçados que os servem, seguem a usufruir de pedaços majoritários dos bolos de investimentos que geram riquezas. Os números do PIB Geral dos Municípios e também do PIB per capita provam a assimetria que penaliza a região.
Viva a Baixada Santista
O prefeito Orlando Morando não tem pelo Rodoanel que tanto incensou no passado de deputado estadual qualquer disposição de avaliação dos resultados. O perfil de uso daquele traçado na região é uma incógnita. Informações de bastidores, mas sem garantia fundamentada em números, confirmariam o que os olhos cansam de constatar: o trecho sul tornou-se estrada de passagem rumo ao Porto de Santos. Sobretudo de veículos integrados à produção do campo e das fábricas. A revelação de dados poderia causar constrangimento ao próprio governo do Estado, mais que avaliador da obra: ele glorificou discurso eleitoral. A melhor esquina do Brasil jamais existiu na região, exceto para os russos.
O trecho que serve a região teria contribuído para moradores de determinados bairros de São Bernardo e de Mauá que trabalham na Capital. Nada que influencie o desempenho da economia regional.
O Polo Industrial de Sertãozinho, em Mauá, que ganhou puxadinho no traçado do Rodoanel após intervenção do então prefeito Oswaldo Dias, é a única área com densidade de empresas que realmente tornou o trecho sul em aliado de competitividade. Nada, entretanto, que tenha sido planejado pelos administradores públicos. Muito pelo contrário: há carência de infraestrutura de energia e comunicação, principalmente, a desafiar a paciência e a competitividade das empresas locais. Não se dispensam aos agentes econômicos geradores de riqueza, principalmente industrial, cuidados que outros municípios correm para atender.
Descaso e deslocamento
O descaso histórico de Mauá com os empreendedores levados pelas vantagens locais do trecho sul do Rodoanel não é exceção, mas regra no Poder Público. O traçado construído pelo governo do Estado não foi antecedido por qualquer estudo econômico que procurasse conciliar logística e investimentos na Província. Esse descuido gerou desequilíbrio latente entre a região Sudeste da Grande São Paulo, da qual fazem parte municípios da região, e as regiões Oeste, Norte e Leste. Quando o grande circuito estiver fechado, com mais de 180 quilômetros de extensão, estará consumado o torniquete regional.
O deslocamento da criação de riqueza na Região Metropolitana de São Paulo em direção a Osasco, Guarulhos e Barueri e municípios vizinhos vem de longe, mas se acentuou com a chegada do trecho oeste do Rodoanel. Quando 1970 terminou e foi possível medir o tamanho do PIB Nacional, os três municípios à Leste e à Oeste da Grande São Paulo contava com participação relativa de 1,170%. O PIB de então da Província formada por sete municípios era 286% maior. Já na ponta extrema, em 2014, o PIB De Barueri, Osasco e Guarulhos superava o da Província em 29,86%.
Enquanto a Província caia de 4,520% para 2,180%, Barueri, Guarulhos e Osasco subiam 141,96% para 2,831% no PIB Nacional. Em termos monetários, a Província anotou em 2014 o PIB Geral de R$ 120.188.959 bilhões, contra R$ 156.107.675 bilhões da soma de Osasco, Guarulhos e Barueri. O Rodoanel vai acelerar ainda mais a vantagem do G-3M. O prefeito Orlando Morando e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, não podem ignorar esse desequilíbrio.
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