Há quem queira, inocentemente ou por obra de manipulação dos mercadores imobiliários, dourar a pílula regional. Mas não há saída senão o bom senso. E o bom senso respaldado pela realidade recomenda que se diga, porque a materialidade está na cara: os micos imobiliários da Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC, se espalham por todos os segmentos da atividade.
Houvesse um Fundo de Investimento Imobiliário cuja carteira fosse formada apenas por empreendimentos lançados na região nos últimos anos, as perdas e danos seriam enlouquecedores à imensa maioria dos clientes. E teria deixado mais ricos os especuladores conhecidos.
Tanto no segmento de hotelaria como de salas comerciais, passando por apartamentos e terrenos, o que temos é a desvalorização monstruosa após o golpe dos aumentos especulativos de preços muito acima da potencialidade regional.
O Fundo de Investimento Imobiliário da Província, como chamaria a carteira sugerida, não é só de alto risco financeiro, mas também de altíssima octanagem ética, por conta das travessuras geralmente impunes dos bandidos sociais que mancham a imagem da maioria dos empreendedores imobiliários.
Prova das complicações
O Diário do Grande ABC de hoje contempla manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) com amplo destaque ao setor hoteleiro da região. O título “Setor de hotelaria amplia número de leitos em 50¨ é o resumo do resumo dos estragos dos últimos anos, cuja consumação se dá gradativamente, na medida em que são concluídos os empreendimentos lançados durante o período de lua de mel anabolizada pelo viagra da artificialização de cenários.
O jornal que sempre negou a desindustrialização e o empobrecimento da região (com lapsos de realismo, como os que marcaram minha presença naquela redação) sugere aos leitores (e aos potenciais investidores e compradores) uma Província atrativa a negócios naquele segmento. Nada mais equivocado.
Já há excesso de oferta de unidades na rede hoteleira regional. Com o desaguadouro do período de falso crescimento do PIB, porque à base do consumo que tem data de validade, os estragos serão ainda maiores.
O lobby dos mercadores imobiliários é incontrolável não apenas na região. Trata-se de cultura nacional, de endeusamento da atividade entre outros motivos porque é generosa em publicidade.
Entretanto, na Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC, o ambiente de orquestramento delitivo de preços é indomável. Verdade que por conta da recessão econômica e da troca de presidência no Clube dos Construtores, com a queda do famigerado empresário Milton Bigucci, houve contenção verborrágica.
O presidente atual daquela entidade, Marcus Santaguita, é mais comedido e responsável socialmente do que o antecessor que ali se manteve durante mais de duas décadas de inutilidades.
Novos encalacrados
O suposto Fundo de Investimento Imobiliário da Província seria um coquetel de infortúnios quando se consideram os últimos anos. Os novos shoppings centers, os novos apartamentos residenciais, as novas salas comerciais e os novos terrenos colocados na praça para negociações acumularam reveses seguidos.
Nessa constelação de desgraças, quem acaba se saindo muito bem, para variar, são apenas os grandes investidores, os mesmos especuladores do período anterior de crescimento muito abaixo do que o PIB Regional sustentaria. Mas o que se pode fazer quando a maioria das pesquisas sempre a cargo dos mais interessados – os mercadores imobiliários – cria cenários à margem das potencialidades?
Trata-se de um crime perfeito porque os vendedores de ilusão de preços elevados ganham muito e os compradores, para não passarem recibos de otários, negam-se a admitir que foram ludibriados.
Sonho com o dia em que o Ministério Público Estadual tenha especialistas em número suficiente, e estrutura física e material indispensável, para acabar com a farra da manipulação desavergonhada no mercado imobiliário da região.
Como as empreiteiras
Manipulação associada a roubalheiras em conexão com escalões das administrações públicas. Essas empreiteiras urbanas não diferem muito das empreiteiras colhidas em delito na Operação Lava Jato. O modus operandi é semelhante. As traquinagens se perpetuam.
Os escândalos regionais no setor imobiliário são sufocados, casos do Marco Zero, do Ventura, da Cidade Pirelli, do Semasa, do Residencial Royale, do Barão de Mauá e de tantos outros que não saltam aos olhos da sociedade.
Há uma confraria que se deleita com os arranjos corporativos. Em Santo André, tempos atrás, o Legislativo criou comissões especiais para fiscalizar determinadas questões, entre as quais as imobiliárias. Da mesma forma que foram concebidas, desapareceram.
Quando se instala uma Comissão Parlamentar de Inquérito, ou se anuncia a pretensão de utilizar esse dispositivo legal, o melhor é se preparar porque os objetivos são outros. Julinho Fuzari, vereador em São Bernardo, alardeou disposição de criar uma CPI do caso Marco Zero, de Milton Bigucci, escândalo que causou prejuízos aos cofres públicos de São Bernardo. Alguns dias depois se fez de morto. O assunto jamais entrou em pauta.
Caçapa cantada
Sem falsa modéstia, cantei nesta revista digital a crise imobiliária que se instalou na região. Cansei de alertar sobre enganações estatísticas divulgadas constantemente pelo então presidente do Clube dos Construtores. Milton Bigucci usou e abusou da liberalidade concedida pela imprensa regional. Aliás, como tantos outros representantes da classe em tantas outras cidades e regiões.
Basta uma leitura atenta dos jornais e revistas nos últimos cinco anos para detectar o entreguismo dos jornais e revistas aos baronatos imobiliários. Tudo em detrimento da sociedade, ludibriada sistematicamente ao se deixar seduzir por números grandiloquentes de suposta valorização dos investimentos, a maioria dos quais para moradia própria.
Os distratos estão aí para comprovar que uma das muitas versões da chamada bolha imobiliária é latente, embora a mídia não trate o descompasso com essa marca porque não se pretende levar pânico ao mercado. Como se já não houvessem cristaleiras estilhaçadas.
Basta dizer que os cinco maiores conglomerados financeiros detêm a maior carteira de imóveis do País. Superam largamente a soma das maiores incorporadoras, de capital aberto.
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