Economia

Central de compras
é estratégica

DANIEL LIMA - 05/04/1998

A formação de uma central de compras de matérias-primas para atender às necessidades estratégicas das indústrias de terceira geração de petroquímicos do Grande ABC é uma das principais novidades que o grupo temático da Câmara Regional costura para mudar o quadro do setor na região.

A iniciativa é revolucionária, porque poderá estabelecer administração tripartite da qual participariam representantes dos pequenos empreendedores da iniciativa privada, executivos públicos municipais e lideranças do Sindicato dos Químicos. A central de compras é a alternativa mais viável, segundo integrantes do grupo temático, para dinamizar o Grande ABC num setor em que produtos petroquímicos ganham forma de manufaturas de plásticos cada vez mais intensamente utilizadas na área automotiva, entre outras.

Carlos Augusto Cafu Cesar é diretor do Sindicato dos Químicos e um dos integrantes do grupo de petroquímicos da Câmara Regional do Grande ABC. Ele pode ser confundido como representante do empresariado, tal a disponibilidade de números que exibe para justificar a ação cooperada. Segundo Cafu, há no Grande ABC perto de 500 empresas de pequeno porte que transformam petroquímicos de segunda geração em produtos plásticos. Mas a maior parte não se abastece das empresas do Pólo de Capuava porque atua individualmente e não consegue atingir a cota mínima para compras junto às transformadoras de segunda geração.

Com isso, são obrigadas a adquirir matérias-primas de intermediários, com consequentes custos adicionais. Algo semelhante ao que se verifica no comércio varejista, no qual os pequenos negócios acabam sacrificados nas compras de mercadorias de atacadistas e atravessadores.

Cafu argumenta que, com a central de compras, será possível abastecer-se diretamente das produtoras da região. Isso significará dupla vantagem: além de eliminar a ação de intermediários, muitos dos quais não sediados na região, e de seus custos suplementares, a medida permitirá maior volume de negócios entre empresas de segunda e terceira gerações sediadas na região. O que se verifica hoje é a aquisição de matérias-primas originárias de empresas instaladas nos pólos petroquímicos do Rio Grande do Sul (Copesul) e Bahia (Copene). Um dos resultados práticos dessa eventual nova equação, que interessa muito às Prefeituras não só de Santo André e de Mauá, onde se localiza o Pólo de Capuava, é que haverá geração de massa suplementar de impostos.

Pelos cálculos do dirigente do Sindicato dos Químicos, as empresas de terceira geração petroquímica da região consomem mensalmente 120 mil toneladas de eteno e derivados. “Nem 30% dessa tonelagem é adquirida aqui na região” — estima Cafu. “Considerando-se — afirma o sindicalista — que as matérias-primas representam 45% dos custos médios de produção das pequenas empresas do setor, é fácil concluir que haverá grande economia das empresas que se juntarem numa central de compras”.

Engana-se, entretanto, quem imagina que o Sindicato dos Químicos, filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores), tenha se convertido em ramal do empresariado. Além de pretenderem demonstrar que têm consciência da complicada situação econômica da região, os dirigentes sindicais buscam desafogar a situação financeira das pequenas empresas, sobretudo por causa dos custos das matérias-primas, para obter melhor relacionamento com os trabalhadores. Cafu reclama da falta de cumprimento dos acordos trabalhistas entre o sindicato e muitas das pequenas empresas exatamente porque as dores financeiras que envolvem os empresários acabam repassadas aos trabalhadores em forma de baixa remuneração, atraso no pagamento de salários, informalidade nos contratos, entre outros contratempos.

O movimento de aproximação entre administração pública, sindicato dos trabalhadores e representantes empresariais ganha corpo. Até mesmo a Abiplast e o Sindiplast, respectivamente entidades nacional e estadual dos empresários da indústria de plástico, têm enviado representante aos debates. Não deixa de ser inovador, porque até então as duas instituições tratavam as questões da região de forma macronacional e macroestadual, não especificamente local. É claro que isso se deve às ações de sensibilização das próprias lideranças empresariais da região que participam do grupo de trabalho.

Sem outra saída

Antonio Castilho Jato Júnior, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo e integrante do grupo de trabalho dos petroquímicos na Câmara Regional, não tem certeza quanto ao formato gerencial da central de compras, embora também entenda que esteja se encaminhando para atuação tripartite. Mas não admite dúvidas quanto à necessidade de cooperativismo voltado às pequenas empresas do setor: “Os custos adicionais da intermediação de matérias-primas alcançam de 20% a 25%, o que praticamente inviabiliza as atividades. É um sobrecusto que não existe em lugar algum no mundo. Essa é uma das razões de as empresas estarem absolutamente descapitalizadas, de apresentarem tecnologia defasada e de terem, inclusive, dificuldades para honrar compromissos trabalhistas” — afirma. Jato Júnior lembra que todo movimento para fortalecer a produção das indústrias de primeira e segunda gerações do Pólo de Capuava acabará refletindo na vinda de novas empresas de terceira geração.

“O Rio Grande do Sul e a Bahia fizeram trabalho de fortalecimento das empresas de transformações, de terceira geração, para dar maior sustentação aos pólos petroquímicos de que dispõem. Temos de fazer a mesma coisa. A diferença é que estamos começando de forma regional, enquanto lá agiram em todo o Estado. O que está em jogo é a sobrevivência de grande parte das empresas de transformação de petroquímicos que atuam no setor de autopeças, da linha branca e também de embalagens plásticas” — diz.

O dirigente do Ciesp São Bernardo, que também atua no Fórum da Cidadania do Grande ABC, lamenta que pequenas empresas continuem sendo desrespeitadas e desenvolvendo atividades praticamente na marginalidade econômica. “Todos parecem trabalhar contra as pequenas indústrias. Temos dificuldades para financiamentos voltados à atualização tecnológica, não nos diferenciam nas negociações trabalhistas e sofremos com uma política econômica que nos obriga a recorrer a juros estratosféricos. Além disso, a imagem de que o Grande ABC é rico nos prejudica, porque, de fato, o comportamento de órgãos de fiscalização de tributos estaduais e federais, principalmente, é muito mais severo, muito mais intenso no parque fabril do qual fazemos parte”– desabafa Jato Júnior, sócio-diretor da Pumaspray, empresa do setor de transformação de plásticos com sede em São Bernardo.

Um programa de reciclagem e treinamento de 12 mil trabalhadores, previsto para ser executado em 30 meses e ao custo de R$ 18 milhões com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), também faz parte das ações do grupo temático da Câmara Regional. E também atingiria diretamente as pequenas empresas de terceira geração petroquímica, pois as indústrias do Pólo de Capuava já desenvolvem ações de qualificação profissional. Essa ação conjunta já não depende só das forças regionais, porque envolve recursos financeiros que precisam ser liberados pelo governo federal.

É o caso de verba do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) prevista para aplicação em programas de financiamento das pequenas empresas, a maioria das quais — conforme denuncia Jato Júnior — inadequadamente preparada para a globalização econômica. São parques fabris completamente desatualizados tecnologicamente. Máquinas e equipamentos que já viraram sucata no Primeiro Mundo continuam em atividade aqui com baixa produtividade.

Outra prioridade do grupo temático da Câmara Regional é a criação do chamado Pólo de Moldes, em parceria com a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). A proposta é concentrar em determinada área geográfica grupo de empresas do setor de autopeças voltadas à produção de ferramental em plástico e também em metal, para atender principalmente às indústrias de plásticos e automobilística. A expectativa dos articuladores da proposta da Câmara do Grande ABC é de que a concentração de empresas dinamizaria a indústria de manufatura metal e plástica da região e preencheria vácuo produtivo traduzido em custos com importações.

O sindicalista Cafu cita mais números para lembrar a importância do segmento do qual faz parte. Menciona a produção de veículos que incorpora cada vez mais material plástico, subproduto de petroquímicos. “Só dentro dos veículos, do assoalho ao teto, 63% do material utilizado têm origem petroquímica. E fora do carro, do retrovisor ao pára-choque, a participação do plástico atinge outros 27%. O plástico vem ocupando espaços cada vez maiores na economia. Por isso não podemos perder essa disputa” — afirma, com veemência equivalente a de um pequeno empreendedor do setor.



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