Economia

Década marcada
por mudanças

DANIEL LIMA - 05/04/1998

São profundas as mudanças na indústria petroquímica brasileira a partir do começo da década. A desregulamentação do setor, a abertura do mercado doméstico à concorrência internacional e a privatização das participações do Estado mexeram com a atividade. Para completar o quadro de transformações, a estabilidade monetária a partir de julho de 1994, quando da implantação do Plano Real, fortaleceu a perspectiva de crescimento de vários setores consumidores de produtos petroquímicos. Casos de eletrodomésticos, automobilístico, embalagens, entre outros. Resultado: um novo ciclo de investimentos, com projetos de instalação de novas unidades e ampliação das existentes.

Desde o final dos anos 80 o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a Petrobrás e os empresários entendiam que era necessária mudança drástica na estrutura do setor. O mercado protegido contra a competição externa, por força de extrema regulamentação, exigia aprovação do governo na decisão de expandir uma unidade produtora ou de instalar uma nova fábrica. Todos os produtos da cadeia produtiva petroquímica eram controlados pelo CIP (Conselho Interministerial de Preços) e a nafta, matéria-prima das três centrais petroquímicas, tinha preço subsidiado. Os produtos importados pagavam alíquota de 45% de imposto.

O modelo tripartite também vivia seu extertor. Petroquisa e grupos privados nacionais e internacionais se associaram em empresas para montar unidades monoprodutoras, sem ganhos de escala, para competir internacionalmente e avançar tecnologicamente. O quadro internacional era ameaçador. Havia excesso de oferta, decorrente do fato de inúmeras fábricas de petroquímicos começarem a operar no mundo. Os preços caíam. A recessão interna agravava a situação. A queda de barreiras tarifárias revolucionou o mercado interno. Os preços foram liberados e se iniciou a privatização.

A privatização das companhias petroquímicas foi implantada dentro do PND (Programa Nacional de Desestatização), criado em 1990. Entre 1990 e 1997, conforme dados do BNDES, foram vendidas 55 estatais, das quais 26 do setor petroquímico. A maior parte das aquisições foi feita por empresas de capital nacional e que já tinham participação nas estatais leiloadas. Os poucos grupos estrangeiros que participaram também exerciam algum controle sobre as empresas privatizadas, entre as quais as norte-americanas Dow Chemical e Union Carbide e a alemã Hoechst.

A Petroquisa, subsidiária da Petrobrás, perdeu a maior parte das ações que detinha nas empresas privatizadas a partir de 1992. Um acordo prévio entre os acionistas facilitou as privatizações. O acerto previa que cada sócio privado exerceria o direito de preferência na aquisição da maior parcela das ações da Petroquisa na empresa privatizada.

Saber quem é quem na petroquímica brasileira é espécie de labirinto só percorrido por especialistas no assunto. Há tantas combinações acionárias que tudo parece complicado demais. Alguns exemplos traduzem a situação.

A Unipar é sócia na Petroquímica União, a central petroquímica do Pólo de Capuava. Também tem 50% do capital da Carbocloro, produtora de cloro, soda, plastificantes, anidridos e dicloroetano. Entre as outras participações minoritárias estão: OPP Polietilenos, controlada da OPP Petroquímica, do Grupo Odebrecht; Petroflex, controlada pelo Grupo Suzano; e Deten Química, produtora de linear alquibenzeno e outros intermediários. A Unipar possui um terço do capital da Polibutenos.

O Grupo Odebrecht controla a OPP, fabricante de polietilenos e de polipropileno, e a Trikem, que atua na cadeia de PVC. A Trikem possui cinco unidades: uma em São Paulo, duas na Bahia e duas em Alagoas. A OPP tem quadro fábricas localizadas nos três pólos petroquímicos, além de uma quinta unidade em Itatiba (SP), onde produz especialidades de polipropileno. A Odebrecht possui participações, por meio de subsidiárias, nos três pólos petroquímicos. Ainda participa de uma jointventure com o Grupo Mariani para atuar no segmento de PET, a Proppet.

A Conepar era a holding do extinto Grupo Econômico. Em 1995, após intervir no Banco Econômico, principal empresa do grupo, o Banco Central decidiu pela liquidação das empresas não-financeiras que pertenciam ao conglomerado. O leilão das participações da holding deverá ocorrer este ano. A Conepar controla empresas como a Ciquine, produtora de plastificantes, e tem participações na Politeno e Polialden, fabricantes de polietilenos. A Ciquine e a Polialden são ainda controladoras da holding Petronor, empresa que tem participação de 23,69% na Norquisa. A Norquisa é outra holding, controlada por quase todos os importantes grupos que atuam na petroquímica brasileira e detentora do controle da Copene, central de matérias-primas do Pólo Petroquímico de Camaçari.

Para quem está atordoado com tantas variáveis, ainda tem mais. A Petroquisa, subsidiária da Petrobrás, detém participação nas centrais de matérias-primas, depois de ter vendido suas ações em quase todas as empresas petroquímicas de segunda geração. A Petroquisa detém 15,4% do capital total da Copene, participa com 15% na Copesul e com 17,5% na Petroquímica União. Também detém capital de outras empresas do setor petroquímico, como Petroquímica Triunfo e Metanor, com 45,2% e 47,5% das ações ordinárias.

Outros grupos que participam desse complicado setor: Suzano, Ipiranga, Mariani, Ultra, Itaúsa e Unigel. Sem contar empresas internacionais que têm participações importantes, casos de Dow Chemical, Union Carbide Corporation, Basf AG, Bayer, Hoechst, Solvay e da anglo-holandesa The Royal Dutch/Shell Group.



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