Economia

BH passa à frente
do Grande ABC

DANIEL LIMA - 16/04/2002

A Target Marketing e Pesquisas, consultoria que prepara e anuncia anualmente o ranking nacional do Índice de Potencial de Consumo, vai transmitir uma má notícia neste final de mês, quando reunir a imprensa para divulgar os dados para esta temporada. O Grande ABC de sete municípios que formam espécie de megacidade perdeu o terceiro lugar para Belo Horizonte. São Paulo continua líder e o Rio de Janeiro mantém o segundo lugar. A ultrapassagem da Capital mineira já era esperada por LivreMercado, que acompanha o desempenho econômico da região com base em várias fontes de informações, e também pelo próprio diretor da Target, Marcos Pazzini, que analisa detalhadamente os números desde 1995, quando elaborou o primeiro ranking com base no cruzamento de dados de 1991. 

O Grande ABC perdeu 0,125 ponto percentual em relação ao ano passado (2,220% contra 2,095%) e 0,809 ponto percentual se confrontado com os 2,9% de 1991. Como cada ponto percentual do IPC representa, para este ano, US$ 3,09 bilhões, com o dólar cotado R$ 2,55, a região viu embora potencial de consumo de US$ 2,5 bilhões desde 1991, praticamente a soma de todo o IPC de São Bernardo e Ribeirão Pires. Traduzido em moeda nacional, o valor corresponde a R$ 6,3 bilhões, ou seja, mais de duas vezes a soma de todos os orçamentos dos sete municípios do Grande ABC. A previsão da Target para o potencial de consumo nacional deste ano é de US$ 309 bilhões, dos quais US$ 6,4 bilhões no Grande ABC. No ano passado o IPC brasileiro foi de US$ 375,5 bilhões. A desvalorização do real explica a queda em dólar. 

A tabela do IPC da Target é válida para este ano porque significa a projeção de consumo para todos os municípios brasileiros. Os mineiros de Belo Horizonte superaram o Grande ABC ao saltar de 2,089% do IPC do ano passado para 2,272% este ano. A perspectiva para a região que mais sofreu com a abertura econômica no início dos anos 90 não é nada satisfatória: na toada dos últimos anos, além de comer poeira de Belo Horizonte, deverá ser superada por Curitiba e Brasília no ranking do ano que vem. A previsão longe está de qualquer sentido especulativo: a diferença de participação é escassa e como ao refluxo econômico do Grande ABC tem-se o afluxo de paranaenses e brasilienses, será surpresa se não houver novas modificações em 2003. 

Capital perde mais 

O mergulho do Índice de Potencial de Consumo do Grande ABC só não é pior do que o da Capital paulista, que no mesmo período (1991-2002) caiu 5,09 pontos percentuais: era 16,12% e agora está em 11,03%. A soma dos IPCs de São Paulo, Osasco, Guarulhos e dos municípios do Grande ABC que formam o principal núcleo de riqueza da Região Metropolitana de São Paulo reflete as perdas para o Interior do Estado e também para outras unidades da Federação: em 1991 esses municípios alcançaram 20,7% do IPC brasileiro, contra 14,43% previstos este ano. Ou seja: uma diferença de potencial de consumo de US$ 19,3 bilhões. 

Em termos percentuais, a perda relativa do Grande ABC no Índice de Potencial de Consumo da Target é de 27,8%. Isso significa que de cada US$ 100 consumidos no Brasil no início dos anos 90, US$ 2,90 estimativamente passavam pela região, contra US$ 2,09 previstos para 2002. 

Há sincronia entre os números divulgados anualmente pela Target e outros indicadores econômicos. Em abril do ano passado LIVRE MERCADO divulgou e analisou os números mais recentes sobre a evolução do PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil. PIB é a soma de produtos e serviços gerados no País. Embora defasados pelo tempo, já que estavam restritos ao período de 1970 a 1996, os dados do Ipea (Instituto de Pesquisas e Estudos Aplicados), do Ministério do Planejamento, detectaram que o Grande ABC caiu de 4,57% para 2,85% na participação nacional (diferença de 37,6%) e de 11,46% para 7,2% na participação estadual (menos 37,1%).

Quase invulnerável 

Também uma comparação entre o Índice de Potencial de Consumo da Target e os dados do Ipea sobre o PIB estadual oferece semelhança. O Estado de São Paulo se manteve quase invulnerável no PIB daqueles 26 anos, pois em 1970 representava 39,88% do bolo nacional e registrou 39,56% em 1966. Esse resultado se deve ao crescimento da participação do Interior de São Paulo (todos os municípios menos a Grande São Paulo e a Baixada Santista). Já quanto ao potencial de consumo averiguado nos últimos 12 anos, o Estado de São Paulo caiu de participação nacional de 34,48% em 1991 para 31,5% em 2002. A diferença de 2,98 pontos percentuais significa queda de 8,6%. Algo semelhante a todo o IPC do Estado de Goiás para este ano. 

Marcos Pazzini simplifica as explicações sobre o significado do IPC: "O sistema mede a participação proporcional de cada localidade no total do consumo do País. Ou seja: de cada US$ 100 gastos no País, o quanto é consumido em cada localidade. Estamos verificando a perda de participação do Estado de São Paulo influenciada pela descentralização do mercado de consumo no Brasil" -- afirma o especialista. 

Somente no final deste mês a Target vai detalhar estudos sobre o novo ranking do IPC. A exclusividade das informações prestadas a LivreMercado se deve à tradição da publicação em antecipar-se ao anúncio oficial e também ao fato de utilizar sistematicamente esse medidor econômico como ferramenta de análise sobre a economia do Grande ABC e também do Estado de São Paulo. Marcos Pazzini considera o IPC mais importante do que indicadores do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). "Com o IPC Target é possível determinar o tamanho do mercado consumidor de cada cidade brasileira. Uma das vantagens de nosso estudo é que se tem a medida efetiva do consumo de toda a população, seja empregado no mercado formal, informal, sub-emprego, entre outros. Os valores arrecadados pelo ICMS refletem a economia oficial, englobando empresas e produtos que pagam impostos em dia, através da emissão de notas fiscais. Além disso, os valores arrecadados do ICMS podem trazer distorções em termos de análise de mercado, quando um produto é fabricado em uma região e posteriormente comercializado em outra. A análise fica ainda complicada se na ponta do consumidor final o produto é comercializado sem nota fiscal" -- explica Marcos Pazzini. 

O Índice de Potencial de Consumo tem servido, segundo o consultor, para inúmeras empresas trabalharem o planejamento de produtos e serviços: "Para apostar numa determinada região preciso, antes de tudo, conhecer o máximo de detalhes. Esse ranking pode ser detalhado em termos de classes econômicas, de acordo com o poder aquisitivo da população consumidora para o produto que será lançado"  -- expõe. 

Campinas entre os 10

Campinas é o único Município brasileiro que está entre os 10 primeiros colocados do ranking de IPC da Target sem ser o centro nervoso do respectivo Estado. Ocupa exatamente a 10ª posição, atrás de nove Capitais. A sequência da classificação por cidade para este 2002 sofreu várias mudanças em relação ao ranking de 1991. Curitiba passou do quinto para o quarto lugar, Porto Alegre caiu do quinto para o sexto, Brasília avançou do sexto para o quinto lugar e Campinas desceu do nono para o 10º lugar. 

Na lista dos 50 primeiros municípios brasileiros do IPC da Target constam 14 paulistas, contra 16 em 1991. O Grande ABC está em 13º lugar com São Bernardo e em 16º com Santo André. Diadema e Mauá apareciam na lista dos 50 maiores em 1991, mas caíram respectivamente para 54º e 56º lugares em 2002. São Caetano desceu do 61º lugar para o 72º, Ribeirão Pires do 130º para o 179º posto e Rio Grande da Serra do 487º para o 575º lugar. 

O ranking do IPC por Estado não sofreu alteração desde 1991. Para este ano é a seguinte a classificação: 1) São Paulo com 31,5%; 2) Rio de Janeiro com 11,32%; 3) Minas Gerais com 9,89%; 4) Rio Grande do Sul com 7,77%; 5) Paraná com 6,62%; 6) Bahia com 4,22%; 7) Santa Catarina com 3,94%; 8) Pernambuco com 3,14%; 9) Goiás com 2,78%. 



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