Está confirmada a boa notícia para o Grande ABC: paramos mesmo de sofrer vazamentos no Índice Nacional de Potencial de Consumo, conforme estudos divulgados oficialmente pela Alpha Assessoria e Pesquisa, uma das mais tradicionais empresas do setor no País. Os novos números são fresquíssimos e foram anunciados por Gerson Danelli em Ubatuba, onde a Alpha centraliza os trabalhos.
Depois de conhecer três ciclos diferentes desde 1982, quando se iniciaram os estudos, o Grande ABC volta a apresentar rendimento positivo. O crescimento apontado por esse que é um indicador de vitalidade econômica alcançou 4% nos dois últimos anos. A comparação envolve os dados coletados e esmiuçados neste ano pela Alpha e os relativos ao período de 1993 a 1995. São Caetano, o Município que mais sofreu perdas desde 1982, foi o que mais reagiu nos dois últimos anos.
Os estudos incorporam novos medidores sócio-econômicos divulgados pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que tornam as análises menos suscetíveis a desvios. Em vez de tradicionais 10 quesitos sócio-econômicos, agora são 15. Além de itens como geladeiras, televisores, telefones, energia elétrica, água, esgoto, coleta de lixo, número de banheiros, grau de instrução do chefe de família e renda mensal em cada um dos domicílios pesquisados pelo IBGE, acrescentam-se automóvel particular, freezers, máquina de lavar, aspirador de pó e rádio. Além desses dados do IBGE, o trabalho da Alpha está baseado na população e nas vendas a varejo de cada Município.
Reação explicada
A reação do Grande ABC no Índice Nacional de Potencial de Consumo está relacionada sobretudo ao desenvolvimento do setor comercial e de serviços, compensando em parte as perdas industriais. O surgimento de inúmeros estabelecimentos no setor terciário, de shopping a hipermercados, de franquias das mais diferentes atividades ao boom do varejo, tem possibilitado aos 2,3 milhões de habitantes do Grande ABC reter parte maior da capacidade de consumo, estimada em R$ 12 bilhões.
Anteriormente, a evasão de consumidores rumo à Capital era alternativa à falta de maior oferta de produtos e serviços de uma região que não tinha outro símbolo econômico senão as indústrias. A retomada pode não ser retumbante, mas já significa alívio para quem observava a derrocada regional nesse indicador importante. Ou não era preocupante demais observar que no período de 1989 a 1993 a região registrou as mais dramáticas perdas de sua história, atingindo 31%, ao deixar o patamar de 2,311% do Índice Nacional para 1,753%?
Anteriormente a esse período, o Grande ABC experimentara sucesso nos dados da Alpha, já que em 1982 registrava índice de 2,070% e saltou para 2,370% na pesquisa divulgada em 1986. A esses dois períodos contrastantes somou-se o terceiro, envolvendo os anos de 1993 a 1995, quando foi divulgada a penúltima pesquisa. Houve estabilidade explícita, já que o índice de 1,753% na pesquisa de 1993 é praticamente o mesmo de 1995 -- de 1,773%.
Quedas distintas
Uma comparação ponta a ponta dos índices da Alpha de 1982 e 1997 registra perda de 12% do potencial de consumo nacional do Grande ABC. Se o período de comparação restringir-se entre os dados da pesquisa divulgada em 1986 e os deste ano, a queda será mais acentuada, atingindo 28%. Haverá leve redução da perda se a comparação for entre 1989 e 1997 -- aí chegará a 25%.
Depois de contabilizar sucessivas perdas, despencando de 0,350% para 0,157% de participação relativa no Índice de Potencial de Consumo, São Caetano é o Município do Grande ABC a conseguir melhor reação na pesquisa divulgada por Gerson Danelli. Foram 17% de recuperação entre os números relativos de 1995 e os de agora. Mas nem assim consegue descontar o enfraquecimento detectado pela pesquisa, já que no período de 1986 a 1997 o IPC caiu de 0,310% para 0,184%, o que significa 68%.
Em período semelhante, de 1985 a 1996, a população de São Caetano caiu de 171.005 para 139.825 habitantes, ou seja, cerca de 18%. Nesse mesmo período, o índice de participação da população de São Caetano no conjunto nacional desabou de 0,126% para 0,089%, ou perto de 30%.
Perda de empresas
Conclusão de Gerson Danelli sobre São Caetano: "Há realmente queda do Município na participação no Índice de Potencial de Consumo Nacional, devido principalmente à diminuição dos moradores e secundariamente ao poder aquisitivo da população que restou. As razões para isso provavelmente estão na fuga de grandes empresas que davam bons empregos na falta de espaço territorial para instalação de novas empresas, na evasão da população jovem e de maior poder de consumo e outras causas não identificadas" -- disse o pesquisador.
Também deve ser relacionada como motivo de arrefecimento econômico de São Caetano a expressiva população de idosos, proporcionalmente a segunda maior do Estado em relação ao total de moradores, atrás apenas da veranista Santos. As permanentes dificuldades do Instituto Nacional de Seguridade Social em ajustar receitas e despesas, recorrendo ciclicamente a artifícios atuariais sempre em detrimento de pensionistas e aposentados, reduziu significamente nos últimos 15 anos os vencimentos reais dos beneficiários. A massa de recursos financeiros que circula entre os idosos de São Caetano, portanto, já foi maior.
A nova sistemática da pesquisa da Alpha também contribuiu para melhorar a posição da Capital, detentora do maior Índice de Potencial de Consumo do País. São Paulo atingiu este ano 9,994% de participação, contra 9,448% registrados na pesquisa com dados até 1995. Um confronto ponta a ponta, entre 1982 e 1997, revela que o fenômeno de esvaziamento econômico não é privilégio do Grande ABC. São Paulo detinha, em 1982, 13,620% do potencial de consumo nacional, ou seja, 36% mais que em 1997.
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