Depois de apresentar entre 1989 e 1993 as mais dramáticas perdas de sua história, o Grande ABC conseguiu nos dois anos seguintes, 94 e 95, estabilizar a participação relativa de potencial de consumo no Brasil. O resultado, novo elemento esclarecedor sobre o grau de esvaziamento econômico da região, assemelha-se ao que se registrou com o Estado de São Paulo e deverá ser atualizado com dados do ano passado até o final deste mês pela Alpha Assessoria e Pesquisa, que há 25 anos desenvolve trabalhos de assessoria estratégica para importantes grupos empresariais do País.
O Índice de Potencial de Consumo do Grande ABC, apresentado com exclusividade por LivreMercado, viveu três momentos distintos desde que a Alpha iniciou os estudos. No período entre 1982 e 1986, os sete Municípios da região apresentaram performance positiva, com crescimento relativo de 13%. Em 1982, o Grande ABC registrava índice de 2,070% e saltou para 2,370% em 1986. Já entre 1989 e 1993 a queda foi abissal, de 31%: deixou o patamar de 2,311% e despencou para 1,753%. O terceiro período, entre 93 e 95, mostra estabilidade, já que o índice de 1,753% é praticamente o mesmo de 95, de 1,773%.
Números históricos
Se comparado, ponta a ponta, o Índice de Potencial de Consumo de 1982 com o registrado em 1993, o Grande ABC terá sofrido perdas de 16,75%. Um resultado que não surpreende quem acompanha a descentralização da economia nacional. Quem mais ganhou foram Minas Gerais e outros Estados brasileiros, em menor escala. O Interior paulista teve discretíssimo crescimento, já que em 1982 detinha 18,006% do potencial de consumo nacional e em 1995 passou para 18,222%, o que significa acréscimo de 1,2%. A estabilidade do Interior paulista amorteceu a queda do Estado de São Paulo, que perdeu 14,4% de potencial de consumo nos 15 anos abrangidos pela pesquisa. O Interior conseguiu amenizar os efeitos do enfraquecimento da Grande São Paulo: essa área que envolve 38 Municípios sofreu queda de 26,7% no período, já que de participação nacional de 17,420% em 1982 caiu para 13,749% em 1995.
Pior que a performance do Grande ABC e da Grande São Paulo foi a da Capital paulista. Os paulistanos tinham participação relativa no Índice de Potencial de Consumo do País de 13,620% em 1982 e passaram para 9,448% em 1995 -- um salto para baixo de 44%.
Dupla perdedora
Os números da Alpha mostram que Santo André e São Caetano foram os Municípios do Grande ABC que mais perderam nos últimos 15 anos. Algo que pode ser facilmente explicado pela evasão industrial que atingiu significativamente os dois Municípios. Santo André caiu 47,7% na participação relativa nacional, enquanto que o tombo de São Caetano foi mais profundo, de 129%. Esse número tem provavelmente também muita ligação com o emagrecimento dos salários de aposentados e pensionistas ao longo dos anos, já que São Caetano só perde para Santos na participação relativa de idosos junto à população total.
São Bernardo, sempre dependente da indústria automotiva, cresceu 12%. Diadema, de parque industrial diversificado mas fortemente ligado à complementariedade da produção automotiva e química de São Bernardo, cresceu 9,6%. Mauá perdeu 3% de participação relativa. Os demais Municípios têm participação residual.
Os resultados da Alpha diferenciam-se da Target Pesquisas que, recentemente, anunciou o Grande ABC como terceiro maior potencial de consumo do País, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. O trabalho da Alpha coloca a região em quarto lugar. São Paulo está em primeiro com 9,448% do País, Rio de Janeiro em segundo com 5,606%, Belo Horizonte em terceiro com 2,012%, Grande ABC em quarto com 1,773% e Salvador em quinto com 1,701%. Os índices do Grande ABC nos dois trabalhos são bastante diferentes: 2,52% na Target contra 1,773% da Alpha, ou seja, 42%. Também São Paulo, Capital, apresenta clara diferença: de 13,26% pela Target para 9,448% pela Alpha, ou seja, 40%. Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador têm índices menos contrastantes.
Qualidade de vida
Gerson Danelli, que dirige a Alpha Assessoria e Pesquisa, explica a metodologia do trabalho que desenvolve no balneário de Ubatuba, para onde transferiu a sede da empresa, antes em São Paulo. Ele uniu a fome por qualidade de vida com a vontade de comer das facilidades da tecnologia de ponta dos microcomputadores. São considerados três vetores ponderados para produzir os estudos: população, vendas a varejo e indicadores sócio-econômicos. No quesito indicadores econômicos, fornecidos pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, são considerados 10 itens, segundo Danelli. Pesam aspectos como geladeiras, televisores, telefones, energia elétrica, água, esgoto, coleta de lixo, banheiros, grau de instrução do chefe de família e renda mensal em cada um dos domicílios pesquisados pelo IBGE.
Uma das vertentes dos estudos -- venda a varejo -- certamente ajuda a explicar o equilíbrio do Grande ABC entre 94 e 95, já que se tem consolidado o crescimento do setor com grandes investimentos.
As perdas do Grande ABC constatadas pelos estudos da Alpha reforçam o pioneirismo de LivreMercado na abordagem do assunto, há mais de cinco anos, quando série de investimentos nas áreas de comércio e serviços levaram lideranças regionais a contestar a silente mas preocupante debandada industrial. Em junho último, LivreMercado publicou estudo comparativo sobre o repasse da cota-parte do ICMS, Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, entre os anos de 1982 e 1997, com dados oficiais da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. A receita caiu 10% numa avaliação ponta a ponta. Como no período a população aumentou 27%, houve na realidade perda per capita de 37% de receita do ICMS, o principal imposto do bolo de arrecadação dos Municípios.
O diretor-presidente da Alpha Assessoria e Pesquisa, Gerson Danelli, é sociólogo e geógrafo, formado pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e pela Universidade de São Paulo. Trabalhando há 40 anos no setor, é um dos pioneiros em pesquisa de mercado no Brasil. Um total de 1,5 mil empresas já comprou pesquisas da Alpha, entre as quais Standard Ogilvy & Mather, Philip Morris Marketing, Pão de Açúcar, OESP Gráfica, Itaú Seguros, Procter & Gamble do Brasil, Chocolates Garoto, Ford e Lojas Renner.
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