Economia

Convergência ao
futuro de plástico

DANIEL LIMA - 20/12/2005

A idéia de que o Poder Público tudo pode é um equívoco. Acreditar que o mercado pode tudo também é barbeiragem. Deixar a comunidade do lado de fora dos debates e das decisões é igualmente estrondoso erro. Se tudo isso é verdade, então por que não juntar as peças? Essa foi, em resumo, a proposta aos representantes do Pólo Petroquímico e da administração pública de Santo André que compareceram à segunda rodada do Ciclo de Debates LivreMercado, em meados do mês passado na Oxiteno. 

Juntar inicialmente Santo André e Mauá no conceito de regionalidade mitigada é questão de sobrevivência tributária, fortalecimento econômico e responsabilidade social. Por mais que se deva defender a integração institucional e estratégica dos sete municípios do Grande ABC, não se pode atirar ao lixo a possibilidade de chegar a resultados relativamente mais auspiciosos com bilateralidades -- como é o caso de colocar frente a frente os interesses de Santo André e Mauá em relação do desenvolvimento econômico sustentado pelo Pólo Petroquímico. Foi exatamente isso que sugerimos. E, felizmente, fomos prontamente apoiados por lideranças da Apolo, a associação das empresas do Pólo Petroquímico. 

O que se ensaia para as economias de Santo André e Mauá tendo insumos petroquímicos como energia de recuperação industrial numa dimensão de compromisso social não é diferente da unilateralidade do prefeito William Dib que, há três meses, comprou a idéia de entregar-se de corpo e alma à recuperação do setor automotivo. Unilateralidade é um verbete que pode ser mal interpretado. Não é o caso de William Dib. O soerguimento da indústria automotiva do Grande ABC depende de um ponto de partida que, na sequência, capitalizaria o entusiasmo do entorno. E esse ponto de partida tem nome e sobrenome -- São Bernardo. Não é por acaso que a capital econômica do Grande ABC sedia as principais indústrias automotivas locais, exceto a General Motors plantada em São Caetano. 

Longe do triunfalismo nocivo que marcou fundo a geografia do Grande ABC nos anos 1990 e cujos efeitos colaterais ainda se fazem sentir sobretudo na dispersão de individualidades relutantes em mergulhar em novas empreitadas coletivas, surge no horizonte a possibilidade de mudanças. Com o empenho pragmático de William Dib em recolocar São Bernardo na rota de investimentos automotivos e diante da possibilidade dos igualmente pragmáticos executivos do Pólo Petroquímico sensibilizarem autoridades públicas e empresariais à capilarização dos projetos bem-sucedidos de integração negocial, tudo indica que o Grande ABC viverá situação menos reticente no futuro. 

O que isso significa? Ora, que as duas principais matrizes econômicas da região, em permanente revolução tecnológica e empresarial num mundo sem barreiras, mais e mais se cruzam e certamente vão se dar as mãos na sequência dos fatos. Indústria químico-petroquímica e indústria automotiva, provam as estatísticas, são cada vez mais interativas. Insumos plásticos, na multiplicidade de especificidades, encontram no mundo dos veículos depositário cada vez mais acessível de aplicabilidade. 

Com a chegada da Universidade Federal do Grande ABC como possível ponta-de-lança de uma reforma no Ensino Superior que acabe de vez com o romantismo de fazer de formandos desempregados de luxo, quem sabe a região chegue finalmente ao estágio em que esta publicação há muito apontou em reportagem de capa -- aquela que dizia que o futuro é de plástico.



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