Economia

Shopping em alta
em tempo de crise

DIVANEI GUAZZELLI - 05/12/2008

A recuperação econômica do Grande ABC depois do vendaval da desindustrialização dos anos 1990 é o mais sólido dos fundamentos para que o setor de shoppings do terceiro mercado consumidor do Brasil mantenha escalada ascendente apesar da crise econômica que se espalhou pelo mundo nos últimos dois meses. Pesquisa sobre os hábitos de consumo nos shoppings da região feita em parceria entre o Núcleo Marketing de Varejo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e a agência Cavassani Integrada traçou diagnóstico detalhado das demandas e das atratividades do setor.

"Trabalhos como a pesquisa sobre hábitos de consumo abrem espaço para maior conhecimento, debates e a busca por melhor performance da parte dos shoppings da região do ponto de vista comercial e da necessidade de tomada de decisões e consolidação da imagem" -- explicou Ivan Cavassani, diretor da Cavassani Integrada e presidente da Associação Comercial e Industrial de São Caetano, durante Meeting de Varejo.

A apresentação da pesquisa que contou com a participação de Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), mostrou números estimulantes. Com base na amostragem de 400 entrevistas em domicílios para evitar o viés da indução presencial nos estabelecimentos, constatou-se que 33% dos entrevistados vão diariamente aos shoppings e 42% uma vez a cada 15 dias. 

Milhões de frequentadores 

Os menores estratos são dos frequentadores de shoppings uma vez ao mês (15%) e uma vez por semana (10%). Em números absolutos, compõem universo de 4,5 milhões de consumidores por mês, segundo anuário de 2008 da Alshop. Eles se espalham pelo Shopping ABC, ABC Plaza Shopping (Santo André), Mauá Plaza Shopping (Mauá) e Shopping Metrópole (São Bernardo).

Embora o Grande ABC registre perda de 12,37% do PIB (Produto Interno Bruto) entre janeiro de 1995 (início do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso) e dezembro de 2007 (primeiro ano do segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva), conforme LivreMercado mostrou na edição de agosto, a demanda nos templos de consumo que chegam a 644 empreendimentos no Brasil continua em alta. 

Somente no Grande ABC três unidades deverão sair do papel: o Shopping Praça da Moça, em Diadema, tem inauguração prevista para abril de 2009 com área de 94 mil metros quadrados, sete lojas-âncoras, geração de 2,5 mil postos de trabalho num total de 178 lojas e investimento de R$ 150 milhões; em São Caetano está prevista a construção de shopping no Pólo Tecnológico do Bairro Cerâmica, que também incluirá empresas de tecnologia de ponta e conjunto residencial em área de 300 mil metros quadrados; em São Bernardo, a General Shopping anunciou propósito de construir complexo com 200 lojas em terreno adquirido no Bairro Ferrazópolis com 30 mil metros quadrados de ABL (Área Bruta Locável). 

Planos de expansão 

Há também planos de expansão do ABC Plaza Shopping para o segundo semestre de 2009, com investimentos de R$ 30 milhões, 10 mil metros quadrados de ABL, 1,2 mil vagas de estacionamento e 80 lojas, o que totalizará 385 pontos-de-venda. O Mauá Plaza Shopping deve somar em 2009 novos 10 mil metros quadrados com 70 lojas. O Shopping Metrópole investiu R$ 8 milhões na ampliação da Praça de Alimentação e o Shopping ABC, R$ 5 milhões no aumento da área de estacionamento.

"A pesquisa de percepção de imagem revelou detalhes importantes sobre o comprometimento do consumo em shoppings, como vagas suficientes no estacionamento, mas ao mesmo tempo o custo do estacionamento não chega a afetar a impressão que o público tem do local" -- frisa o professor Paulo José Destro, do Núcleo Marketing de Varejo da USCS.

Outra ferramenta que pode ser utilizada pelos empreendimentos regionais com base na pesquisa da USCS e da Cavassani Integrada é a presença de dois shoppings da Capital entre os mais lembrados -- o Central Plaza, na Vila Prudente, divisa com São Caetano, e o Shopping Anália Franco, no Tatuapé, bairros da Zona Leste. A proximidade favorece o primeiro e o acesso por Santo André leva consumidores ao segundo. "Os shoppings do Grande ABC têm espaço para trabalhar com o propósito de manter o público na área de abrangência sem perdas para concorrentes paulistanos" -- observa o professor Paulo José Destro.

Fatores influenciadores 

Três vetores foram realçados como indispensáveis ao fortalecimento de imagem de bem-estar e atratividade dos shoppings. Pela ordem, variedade de vendas, número de banheiros e horários e dias de funcionamento. O presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, lembrou que o funcionamento aos domingos somente foi consolidado em 2007 com medida provisória editada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A abertura aos domingos aumentou a satisfação geral que a população tem dos shoppings. Em conceitos de 0 a 10, 35% das consultas estabeleceram nota média 8 e 30%, média 7. Segundo o anuário da Alshop, o Mauá Plaza Shopping recebe 1,5 milhão de consumidores por mês; o ABC Plaza Shopping, 1,35 milhão; o Shopping ABC, 1 milhão, e o Shopping Metrópole, 635 mil.

O temor da crise econômica não compromete o próximo Natal dos shoppings. Nabil Sahyoun mantém confiança lastreado nos recursos que estarão à disposição dos consumidores com o pagamento do 13º salário. Serão R$ 62 bilhões para 68 milhões de trabalhadores que propiciarão a criação de 112 mil empregos temporários e crescimento de 10% a 12% das vendas em comparação com o último trimestre de 2007. "A evolução das vendas para o Natal está garantida. O último trimestre é tradicionalmente o mais forte em vendas, há crédito porque a economia brasileira continua forte, tanto que foram criados 2,7 milhões de vagas até setembro. Já em 2009, acredito que todos os países serão afetados pela crise, mas o Brasil conta com sistema financeiro sólido, que está entre os melhores do mundo, e saberá monitorar os problemas que surgirem" -- avalia Nabil Sahyoun.

4% do PIB 

O volume de vendas dos shoppings mostra que o segmento pode ser um dos principais escudos contra a turbulência econômica. As 80.416 lojas dos 644 empreendimentos movimentam anualmente R$ 74,7 bilhões, cerca de 4% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional e de 26% das vendas de todo o varejo. Os shoppings empregam 850 mil colaboradores, mas os números chegam a 2,5 milhões quando é incluída a força indireta de trabalho. E recebem 200 milhões de consumidores mensalmente.

O presidente da Alshop lembrou no Meeting de Varejo da USCS e da Cavassani Integrada que o complexo pioneiro no Brasil já completou 42 anos. O Shopping Iguatemi nasceu sob a desconfiança dos varejistas e a surpresa pelo horário de funcionamento diferenciado do comércio de rua. A expansão da indústria automotiva a partir das plantas das montadoras do Grande ABC e linhas de crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) na década de 80 deram o impulso definitivo. "Os shoppings de antigamente eram os hipermercados e as galerias dos corredores comerciais. Os novos conceitos hoje atraem todas as classes socioeconômicas. Não são apenas A e B. As C e D têm forte presença" -- lembra Celso Amâncio, diretor do Banco Carrefour, diretor de Novos Negócios da Associação Comercial e Industrial de São Caetano e ex-gerente nacional de crédito das Casas Bahia. 



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