Economia

Trecho oeste altera
centro de gravidade

DANIEL LIMA - 10/10/2006

O que a região Oeste da Grande São Paulo (G-9) tem que o Grande ABC (G-7), na região Sudeste, não tem? O que o G-7 tem que o G-9 não tem? O que essas diferenças significam economicamente no presente, o que representaram no passado e o que pode acontecer no futuro? Prepare-se para uma constatação impactante que alguns poderão atribuir à insanidade: os sete municípios do Grande ABC estão ameaçados de perder a condição de maior centro de produção da Região Metropolitana de São Paulo, atrás da efervescente Capital. A ameaça é formada por um conglomerado de nove municípios igualmente colados a São Paulo e que tem Osasco e Barueri principais âncoras.  

Isso mesmo: o G-9, conjunto integrado por Osasco, Cotia, Vargem Grande Paulista, Santana de Parnaíba, Barueri, Carapicuiba, Itapevi, Jandira e Pirapora do Bom Jesus, até uma década atrás completamente excluído de qualquer possibilidade de disputar hegemonia suplementar à Capital no campo produtivo, está ameaçando o G-7, do Grande ABC.  

Osasco, Barueri e seus vizinhos contam com benefício de infra-estrutura que ajuda a fazer a diferença: o trecho oeste do Rodoanel, serpentina desenvolvimentista de 32 quilômetros inaugurada em 2000 mas que, mesmo antes disso, pela força gravitacional da própria obra, começou a atrair empresas de transformação industrial, de logística e também de serviços tradicionais. 

Saindo do papel  

O trecho sul do Rodoanel, que vai atender o Grande ABC, mal está saindo do papel. Pelo cronograma inicial, deveria ter sido entregue há pelo menos dois anos. O Rodoanel, portanto, é um ferramental que a região Oeste da Grande São Paulo apresenta aos investidores como vantagem logística sobre o Grande ABC. Mas não é só: os municípios do Grande ABC encontram nas barreiras naturais e ambientais da Serra do Mar forte redutor de investimentos geradores de riqueza. Já Osasco e os demais municípios da região Oeste nadam de braçadas diante de vantagens geográficas que desobstruem em larga faixa as amarras legais de investimentos produtivos.  

Dados estatísticos do IEME (Instituto de Estudos Metropolitanos), braço eletrônico de LivreMercado que conta com suporte técnico da Target Marketing, sustentam que no período de 10 anos, entre janeiro de 1996 e dezembro de 2005, os sete municípios do Grande ABC viram reduzidas as diferenças que os separavam dos nove municípios da Grande Osasco.  

O confronto tem como base os resultados de 1995 e de 2005. Nesses 120 meses, período no qual se anunciou, se construiu e se colocou à disposição de tráfego o trecho oeste do Rodoanel, caiu de 66,6% para 36,7% a diferença de transformação de riqueza entre o G-7 e o G-9. O Valor Adicionado do Grande ABC registrado em 1995 atingia em valores monetários atualizados a dezembro de 2005 pelo IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado), da Fundação Getúlio Vargas, exatamente R$ 47,597 bilhões. Já o G-9, Osasco à frente, não passava de R$ 15,898 bilhões.  

A realidade dos números 10 anos depois reflete tanto o fluxo de investimentos no G-9 como o período mais preocupante da economia do G-7, de evidente evasão industrial: o Valor Adicionado do Grande ABC caiu para R$ 40,106 bilhões, enquanto o G-9 saltou para R$ 25,388 bilhões. O estreitamento da diferença de 29,9 pontos percentuais em uma década (o Grande ABC perdeu 15,7% de Valor Adicionado no período, enquanto o G-9 ganhou 59,6%) e a distância final de 36,7% em dezembro de 2005 indicam que, a seguir a tendência de crescimento do G-9 e queda absoluta ou relativa do G-7, em 12,2 anos, pouco mais de uma nova década, o G-9 superará o G-7. Ou seja: o eixo de desenvolvimento nas bordas da Capital se deslocaria do Sudeste para o Oeste.  

Menos da metade desse período (exatamente seis anos) será suficiente para que numa outra contabilidade que tem importância para o equilíbrio socioeconômico o Grande ABC seja superado por Osasco e vizinhança do G-9. Trata-se do Valor Adicionado por habitante — produção da indústria de transformação dividida pela população. No período de 10 anos completados em dezembro de 2005, o Grande ABC perdeu (sempre em valores monetários atualizados pelo IGP-M) nada menos que 31,24 pontos percentuais de vantagem sobre o G-9. 

Em dezembro de 1995 o Grande ABC detinha por habitante R$ 21.858 de Valor Adicionado, contra apenas R$ 10.952 do G-9. A diferença de 50% caiu para 18,7% em dezembro de 2005, quando o Grande ABC registrou R$ 15.759 por habitante, contra R$ 12.802 do G-9. Ou seja: enquanto o Grande ABC perdia 27,9% de Valor Adicionado por habitante, o G-9 ganhava 16,9%. A prosseguir essa tendência, em apenas seis anos, mais precisamente em 2011, Osasco e vizinhança ultrapassarão o Grande ABC nesse quesito que indexa em 76% o repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), ainda uma das principais fontes de receitas dos municípios.  

Desconforto regional

Colocar no plano de comparações o G-7 e o G-9 tão próximos geograficamente mas tão distantes de peculiaridades à atração de investimentos pode ser situação desconfortável para o Grande ABC, mas é mais que necessária. Desconfortável porque décadas de domínio absoluto do G-7 por conta da indústria automobilística, plantada em meados dos anos 1950, parecem cada vez mais virar passado. Necessária porque serve de alerta e se desdobra em pelo menos três vetores:  

Primeiro, porque provavelmente causará desconforto e calará eternos triunfalistas. Mesmo que aparentemente mais comedidos, esses representantes de interesses quase sempre escusos estão sempre à espreita de alguma novidade supostamente positiva que os leve a alardear dose de razão de acreditarem num futuro menos complexo sem, entretanto, apresentarem contrapartida de planejamento e trabalho. Eles deverão pensar antes de se darem ao papel de propagandistas em vez de planejadores ou pelo menos de críticos.  

Segundo, porque o eixo do desenvolvimento regional do G-9 gira em torno do trecho oeste do Rodoanel. Trata-se de apenas um pedaço de uma obra que quando integralmente executada somará 170 quilômetros que circundarão a Grande São Paulo. Aqueles pouco mais de 30 quilômetros do trecho sul foram uma derrota para o Grande ABC, incapaz de competir com o conglomerado de políticos de um outro pedaço da Grande São Paulo que, como todos os pedaços suburbanos de grandes metrópoles, tem forte componente de gataborralheirismo. Ao perder a disputa política para Osasco, Barueri e outros municípios a Oeste da Capital, o Grande ABC se viu num mato sem cachorro porque assistiu em silêncio, também, ao deslocamento de muitas empresas locais para aquela região. A produção de riqueza do G-9 não evoluiu mais de 50% no período de 10 anos por obra do acaso. De fato, abriu-se um corredor preferencial para beneficiar Osasco, Barueri e outros municípios. O Grande ABC ainda não se deu conta de que boa parte dessa diferença foi paga e continua sendo paga pelos municípios locais e seus mais de 2,5 milhões de habitantes.  

Terceiro, porque deve estimular sentimento de urgência no ritmo de obras do trecho que ligará Mauá à Rodovia Régis Bittencourt, em quase 60 quilômetros que cortarão tangencialmente também Santo André e São Bernardo e passará um pouco distante das divisas de Diadema. Mais que isso: por mais que o traçado seja considerado definitivo, com apenas três alças de acesso na área de abrangência do Grande ABC (nas rodovias Anchieta e Imigrantes, além de Mauá), nada impede que, com o suporte do governo do Estado e do governo federal o Grande ABC obtenha recursos para obras de infra-estrutura interna de acessibilidade rápida e fluente àqueles três pontos. As empresas do Pólo Petroquímico, que se dividem nos territórios de Santo André e Mauá, clamam por melhorias viárias que encurtem e agilizem o trajeto em direção à Avenida Papa João XXIII, em Mauá, que alcançará o Rodoanel em São Bernardo. 

Os executivos do Pólo Petroquímico também reclamam em nome do adensamento de empresas de pequeno porte de terceira geração, as chamadas transformadoras de plástico, tanto as já instaladas quanto as que poderão optar por Santo André e Mauá para capitalizar o aumento da produção física da empresa-mãe, a Petroquímica União, como da Polietilenos União, da segunda geração.  

No G-9, quatro municípios não seguiram o ritmo de geração de Valor Adicionado acima da inflação do período de 10 anos pesquisado pelo IEME: Vargem Grande Paulista perdeu 48,16%, Osasco 8,55%, Cotia 4,61% e Santana de Parnaíba 3,91%. Exceto Vargem Grande, números discretíssimos. Em compensação, Pirapora do Bom Jesus cresceu 114,74%, Jandira 113,57%, Itapevi 44,64%, Carapicuiba 18% e Barueri 9,85%. No geral, 16,89% em números absolutos descontada a inflação.  

No G-7, apenas São Caetano escapou do desastre, ao alcançar crescimento de 3,9%. Rio Grande da Serra nem perdeu nem ganhou. Os demais municípios foram de mal a pior: São Bernardo caiu 21,5%, Santo André 16,7%, Diadema 1,1%, Mauá 24,7% e Ribeirão Pires 43,2%. No conjunto, o G-7 emagreceu 15,7% no período de 10 anos.   



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