O contraste entre o desenvolvimento econômico de Barueri e Santo André (bem como a região como um todo) avança a cada temporada. Enquanto o Município local colecionou derrotas sobre derrotas principalmente durante o período mais devastador da desindustrialização nas duas últimas décadas do século passado, Barueri avançou extraordinariamente nas últimas três décadas. Alphaville, um imenso polo de serviços, muitos dos quais de tecnologia, entrou na agenda de investimentos produtivos e também de condomínios residenciais para quem quer qualidade de vida.
A região Oeste da Grande São Paulo tem se provado mais viável economicamente que a região Sudeste. Principalmente após a chegada do Rodoanel Mário Covas. Barueri e as vizinhas Osasco e Guarulhos ultrapassaram o PIB (Produto Interno Bruto) dos sete municípios da região. A rota de investimentos mudou de rumo. O Rodoanel virou presente de grego para a região. Os transtornos da infraestrutura interna e a restrição de apenas três alças de acesso incentivaram ainda mais a debandada industrial na direção oposta da Grande São Paulo.
Num dos melhores medidores de dinamismo econômico, o salário médio dos profissionais com carteira assinada em todas as atividades econômicas de Barueri é 30% superior a Santo André. Barueri tornou-se núcleo de empresas de tecnologia enquanto Santo André sofre com a perda de indústrias tradicionais e também com a proliferação de atividades de serviços de baixo valor agregado.
Como barata tonta
Quando o prefeito Paulinho Serra e o secretário de Desenvolvimento Econômico Ailton Lima falam em devolver a Santo André o passado de glória econômica é preciso ter muita cautela. Não serão nichos como o Polo Tecnológico há mais de uma década anunciado e jamais consolidado que atenuarão as contrariedades. Santo André, como a região de maneira geral, requer planejamento estratégico. O destino de quem não se organiza para o futuro é o presente permanente de barata tonta.
Tudo que se fizer fora de sistematização de ações oferecerá resultados muito abaixo das necessidades de gerar empregos de qualidade. O receituário vale integralmente para o conjunto dos municípios da região. A divisão geográfica deveria ser observada apenas como determinação constitucional associada à imperiosidade de articulações regionais permanentes.
Os resultados a seguir fazem parte de estudos com base em dados do Ministério do Trabalho e se referem a dezembro de 2016, os mais atualizados. Os 10 meses de intervalo não significam nada quando se sabe que esses dados agregados se movimentam como transatlânticos. As grandes mudanças ocorrem em pares de anos. Os dados de 2016 são uma massa de informações acumuladas no tempo. Os números deste ano, que serão divulgados somente em 12 meses, não deverão ser profundamente diferentes de 2016.
Distância quilométrica
A massa de salários de dezembro de 2016 nas atividades econômicas listadas pelo Ministério do Trabalho (indústria extrativa mineral, indústria de transformação, serviços industriais, construção civil, comércio, serviços, Administração Pública e Agropecuária) é emblemática da distância que separa Barueri de Santo André – e também, embora não tão proeminentemente – do conjunto dos municípios da região. A comparação prioritária com Santo André se deve justamente ao fato de o Município da região ter sofrido a maior queda do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos 50 anos no Estado de São Paulo.
Embora conte com menos de 300 mil habitantes (267.534), Barueri dá uma surra em Santo André (732.000 habitantes). O total de salários pagos naquele mês registrou R$ 1.010.958 bilhão, enquanto em Santo André foram R$ 543.342 milhões. Barueri conta com 254.677 trabalhadores com carteira assinada, enquanto Santo André não passa de 175.125. A média salarial em Barueri, de R$ 3.964,57, é a segunda maior entre os integrantes do G-22, grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo (exceto a Capital) acrescido de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que completam a participação da região.
Em quase todas as atividades profissionais Barueri supera Santo André em média salarial. Esse condimento dá tempero importante ao equilíbrio social. Diferentemente, portanto, de municípios em que uma determinada atividade econômica, sobretudo a indústria, concentra poderes de produção e salários.
Exceção é Administração Pública
Na indústria de transformação a média de Barueri é de R$ 4.068,17 contra R$ 3.913,81 de Santo André. No setor de construção civil a média de R$ 3.518,60 de Barueri é bem superior a R$ 2.356,24 de Santo André. Os comerciários de Barueri ganham de goleada: são R$ 4.739,21 contra R$ 2.125,22 de Santo André. A diferença é menor, mas também expressiva, na área de serviços: Barueri contabiliza média salarial de R$ 3.756,22 contra R$ 2.580,95 de Santo André. Completando a lista, em Administração Pública, a única vitória de Santo André, que paga em média salário mensal de R$ 4.140,98, contra R$ 3.762,14 de Barueri.
A segunda colocação de Barueri no ranking de média salarial do G-22 pode ser considerada espécie de liderança, porque só fica atrás de Paulínia, cuja população mal ultrapassa a 100 mil habitantes (exatamente 102.499). O caso de Paulínia é único entre os 20 maiores municípios do Estado. Os demais municípios contam com mais de 150 mil habitantes. No G-22, Paulínia ganha a companhia de Rio Grande da Serra, o menor Município da região, que conta com 44.084 habitantes.
A ideia sacramentada de que altos salários afastam investimentos é válida e constatada em municípios cujas matrizes econômicas estão em processo de desgaste, sobretudo do setor industrial. Barueri é a segunda colocada no ranking do G-22 exatamente porque atrai mão de obra de qualidade para os padrões nacionais. E também porque há equilíbrio entre as atividades econômicas.
Os dados de uma Santo André envelhecida e que ainda não achou o rumo da recuperação econômica são contrastantes e explicam por que está em 18º lugar na classificação do G-22. Cada trabalhador industrial recebeu em média R$ 3.913,45 (3,80% abaixo de Barueri). Já o salário médio em serviços dos trabalhadores em Santo André era de R$ 2.580,95 (31,29% abaixo de Barueri). Completando a lista de atividades que contam com maior número de trabalhadores, o comércio de Santo André pagava em dezembro do ano passado a média salarial de R$ 2.125,22 (55,16% abaixo de Barueri).
São Bernardo também perde
São Bernardo é quarta colocada em média salarial geral no G-22, mas também não é páreo para Barueri. Mesmo com mais de 800 mil habitantes (exatamente 827.437) São Bernardo perde para Barueri na massa salarial registrada em dezembro do ano passado. Foram pagos a 252.280 trabalhadores de todos os setores o montante de R$ 907.937 milhões, abaixo de mais de R$ 1 bilhão de Barueri. A média salarial geral de São Bernardo naquele mês era de R$ 3.598,80, 9,3% abaixo dos R$ 3.95957 de Barueri.
Somente na indústria de transformação São Bernardo paga melhores salários, em média, que Barueri, como efeito das montadoras de veículos: são R$ 5.552,25 contra R$ 4.068,07. O problema de São Bernardo é que, quando se confronta a média salarial dos industriários com profissionais de comércio e de serviços há desequilíbrios patentes, o que não ocorre com Barueri.
A diferença de salário médio dos industriários de São Bernardo em relação aos profissionais de serviços é de 49,18%, enquanto em Barueri não passa de 7,66%. Se a comparação for de industriários e comerciários, a diferença é ainda maior em favor de Barueri. Em São Bernardo a distância favorável aos profissionais da indústria de transformação é de 58,65%, enquanto em Barueri são os comerciários que recebem em média mais que os industriários: 14,16%. A vitalidade do comércio com consequente elevação de salários em relação a outros endereços municipais esta ligadíssima ao conjunto da obra de desenvolvimento econômico.
Vantagem superlativa
Não custa lembrar que a média salarial geral favorável a Barueri em 22,62% quando em confronto com a média dos sete municípios locais tende a aumentar nos próximos anos (até porque estudos mais antigos com base em números do Ministério do Trabalho revelam que Barueri perdia fragorosamente nesse quesito até o final dos anos 1990).
A explicação é que a massa de salários na indústria de transformação de São Bernardo é muito superior à de Barueri. Afinal, são 74.939 mil profissionais registrados nas fábricas do Município da região, enquanto Barueri contabilizava 26.384. O maior equilíbrio salarial entre os vários setores em Barueri se explica porque o Município não acusa das dores da Doença Holandesa Automotiva, com peso excessivo das montadoras de veículos. São Bernardo depende demais de uma atividade econômica específica. Já a economia de Barueri é mais fragmentada em núcleos empresariais e também em diversidade setorial.
Quando se compara a média salarial de Barueri com a média salarial dos sete municípios da região levando-se em conta todas as categorias profissionais listadas pelo Ministério do Trabalho o resultado regional é de R$ 3.071,36. Uma diferença de 22,63%, um pouco abaixo dos 31,01% de desvantagem de Santo André.
Resumo da ópera: Barueri está à frente da região quando a equação desenvolvimento econômico em contínuo crescimento é contraposta à média salarial. Os sete municípios da região têm oferecido constante perda de assalariamento médio alinhada à quebra do dinamismo econômico. No fundo, o que mais importa para detectar a sustentabilidade de uma economia não é necessariamente a média salarial geral, mas intervalos que não sejam agressivamente destoantes entre as médias salariais dos setores que mais geram empregos.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?