Alguma coisa está fora do lugar em qualquer espaço territorial, individual ou regional, senão estadual e nacional, quando o número de funcionários públicos na ativa, ou seja, sem considerar aposentados e pensionistas, é maior que o contingente de trabalhadores da indústria da construção civil. Pois a Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC, também patrocina esse acinte. Como, aliás, a maioria dos municípios que integram o G-22, o grupo dos 20 maiores municípios paulistas, menos a Capital, além de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que completam a região.
Mais que deter mais funcionários públicos municipais, os servidores da região também recebem salários mensais muito acima dos operários da construção civil. Até que esse segundo resultado não surpreende, mas o primeiro é uma barbaridade.
Em dezembro do ano passado –número mais atualizado divulgado pelo Ministério do Trabalho – a Província contabilizava 47.948 empregos públicos. Em contraposição, os operários da construção civil eram 33.664. Quando se considera que os resultados em São Caetano e em Rio Grande da Serra são artificiais, por conta da guerra fiscal de empresas proforma do setor, a diferença é muito maior. Mas é impossível chegar aos números verdadeiros.
Quem mais bem paga servidores públicos na região é Diadema, cujo prefeito Lauro Michels sofre pressões de servidores porque recebeu um presente de grego dos antecessores socialistas, petistas e ex-petistas que comandaram a cidade durante quase três décadas. O salário médio dos servidores em Diadema é de R$ 5.364,12. A média na construção civil é 56,76% inferior: R$ 2.319,89.
Mais diferenças
São Bernardo e Santo André também reúnem quadros de servidores públicos relativamente dispendiosos. Em São Bernardo são R$ 4.038,01 contra R$ 2.657,78 da construção civil. Uma diferença de 34,17%. Menos que os 43,09% que separam servidores públicos de Santo André (média salarial de R$ 4.140,98) da construção (média de R$ 2.3565,24).
Em segundo lugar na escala de distanciamento entre as duas categorias, depois de Diadema, portanto, vem Santo André. São Bernardo é a terceira colocada. Mauá vem a seguir: a média dos servidores públicos é de salários de R$ 2.934,95 ante R$ 2.165,75 na construção civil. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra são exceções, porque os valores são semelhantes entre as duas categorias. Em Ribeirão Pires o salário médio na Administração Pública é de R$ 2.286,37 ante R$ 2.127,70 dos operários. Em Rio Grande da Serra são R$ 2.060,69 de salário médio do funcionalismo ante R$ 1.867,20 da construção civil. A diferença entre as categorias em Ribeirão Pires é de 6,95%, um pouco acima dos 4,51% da vizinha.
Massa salarial maior
Quando a massa de salários do funcionalismo público é muito superior ao que recebem mensalmente os trabalhadores da construção civil a conclusão óbvia é de que a estrutura funcional do Estado, em forma de Município, reflete com exatidão o desprezo ao desenvolvimento econômico. Em dezembro do ano passado os 47.948 servidores públicos receberam a bolada de R$ 188.969.202,08. Já os operários não passaram de R$ 43.437.575,50. Traduzindo o distanciamento: enquanto a vantagem quantidade de servidores sobre operários é de 29,80%, quando se entra no campo da remuneração das duas categorias, os servidores recebem dinheirama 77,54% superior.
É claro que esse tipo de distorção jamais comoveu empresários do setor de construção civil. E tampouco serviu de pauta em evento em que se recepcionaram secretários municipais de Desenvolvimento Econômico, caso da semana passada por iniciativa do Clube dos Construtores. Não é de interesse geral ou específico revelar o quanto o suposto capitalismo que vicejaria na região está deslocado de equilíbrio social desejável. Em outras geografias não é nada diferente, ou tão diferente. O estatismo nas relações econômicas está avantajadíssimo demais frente a outras atividades.
Tanto que o salário médio dos funcionários públicos de Diadema é quase tão elevado quanto a média dos salários dos industriários de São Bernardo, encaixotamento no qual consta a elite dos trabalhadores, no caso as montadoras de veículos. A Diadema historicamente esquerdista lubrificou as engrenagens de assalariamentos elevados ao funcionalismo público. A média de R$ 5.364,12 está muito próxima a de São Bernardo no setor de transformação industrial: R$ 5.552,25.
Acima da média
Não custa repetir que a guerra fiscal, instaurada quando Luiz Tortorello era prefeito, adiciona alguns milhares de trabalhadores da construção civil que de fato não atuam em São Caetano. Em números absolutos o Município tem mais operários da construção que qualquer outro Município da região. Eram 10.040 do total de 101.509 carteiras assinadas em todos os setores econômicos. Uma participação relativa de 9,89%. Muito acima dos padrões do G-22 e dos municípios brasileiros de maneira geral.
Tanto muito acima que São Bernardo contava no final do ano passado com 3,10% dos trabalhadores do setor de construção civil no universo de assalariados, num total de 7.821 carteiras assinadas ante 252.289. Diadema registrava efetivo da construção civil de 3.500 trabalhadores, 3,80% dos 91.960 trabalhadores em geral. Mauá conta com números um pouco acima da média geral, com 5,87% de efetivo da construção num total de 3.785 postos de trabalho de 64.480 quando se incluem todos os setores. Santo André contabiliza apenas metade do efetivo de operários da construção civil de São Caetano (7.193) de um total de 195.125 trabalhadores. Uma participação de 3,68%.
Participação baixa
Apenas 4,60% dos empregos com carteira assinada na Província do Grande ABC estão na construção civil, contra 6,56% da Administração Pública. Parece pouco? A diferença é de 30%. Tanto quanto a distância de trabalhadores nas duas atividades.
Fossem coletivamente mais bem preparados, os secretários de Desenvolvimento Econômico das prefeituras da região poderiam ter colocado essa disparidade de valores na agenda com os representantes da construção civil na semana passada. Melhor dizendo: os empresários é que poderiam ter colocado esse fosso em discussão, quem sabe estabelecendo referenciais para que num futuro que não seja distante demais haja mudanças tanto na quantidade de trabalhadores como nas respectivas remunerações. Essa desigualdade econômica é contraproducente à estabilidade social.
Os operários da construção civil são trabalhadores de quarta classe na escala de valoração profissional na Província. A elite é composta por trabalhadores das montadoras de veículos, de grandes indústrias que giram em torno do setor automotivo e também do funcionalismo público de Diadema, Santo André e São Bernardo. São trabalhadores de segunda classe todos os demais, incluindo servidores públicos em geral, industriários fora da órbita das montadoras, comerciários e empregados do setor de serviços. A construção civil de megaempreendimentos e rentabilidade nas alturas paga salários de terceira classe. Tanto aqui como em outras localidades. No mundo civilizado é diferente.
Aliás, nem é preciso sair do País para encontrar números bem melhores. Na vizinha Barueri, aqui na Região Metropolitana de São Paulo, os trabalhadores da construção civil recebiam em média em dezembro do ano passado bem mais que a média da Província: R$ 3.528,60. Comparando-se o vencimento médio em Barueri com os R$ 2, 746,38 de São Caetano (maior média da região) a diferença é de 22,15%.
A distância entre o operário da construção civil da média dos trabalhadores em geral, de todas as categorias (R$ 3.969,57) não passa de 11,11% em Barueri. Bem diferente da Província. Um exemplo que tem tudo a ver com os demais municípios locais: São Bernardo paga em média R$ 3.598,80 para os trabalhadores em geral ante R$ 2.657,78 da construção civil. Diferença de 26,15%.
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