Os trabalhadores industriais de São Bernardo ganham em média 32,28% acima do que as empresas pagam em Guarulhos, também na Região Metropolitana de São Paulo. O peso do setor automotivo, sobretudo das montadoras de veículos concentradas na Capital Automotiva do Brasil, é a melhor explicação. E também um dos motivos principais para entender por que Guarulhos registrava em outubro último 16.181 mais trabalhadores do setor que São Bernardo. A Doença Holandesa Automotiva de São Bernardo custa caro para o conjunto da população. E seguirá em rota de rebaixamento.
Os dados oficiais em estado bruto são do Ministério do Trabalho. E revelam até que ponto a desindustrialização da região, a partir do centro nervoso de São Bernardo, que representa 40% das carteiras assinadas do setor, corre na mesma raia do custo adicional das montadoras, que contaminam as demais atividades.
A Doença Holandesa Automotiva é uma cilada que coloca a economia regional em situação de estresse. A mão de obra industrial de São Bernardo é a mais cara do Estado de São Paulo e do País, mesmo sem levar em conta o agregado das chamadas conquistas trabalhistas. Quando os investidores olham para São Bernardo de um sindicalismo extremamente ativo e com viés socialista, mesmo que da boca da conveniência para fora, poucos novos negócios produtivos aportam.
Confronto desigual
O confronto entre São Bernardo e Guarulhos em emprego industrial é tão emblemático quanto elucidativo ao colocar frente a frente dois modelos diferentes de produzir. Enquanto São Bernardo concentra forças principalmente no setor automotivo, Guarulhos é diversificada. É um supermercado em oposição a uma loja temática. Qualquer crise econômica tem potencial muito mais explosivo em ambiente de altíssima concentração de determinado ramo industrial.
O salário médio do trabalhador industrial de São Bernardo em dezembro do ano passado (últimos dados atualizados pelo Ministério do Trabalho) registrava R$ 5.552,25, ante R$ 3.7543,53 de Guarulhos. Aí a diferença de quase 33%. A massa salarial daquele mês em Guarulhos alcançava R$ 326.790 milhões, ante R$ 416.080 milhões de São Bernardo.
Ou seja: embora contasse com menos trabalhadores industriais registrados (eram 74.039 em São Bernardo e 87.039 mil em Guarulhos naquele dezembro do ano passado), o Município da região despendia montante 21,63% superior quando se somavam todos os valores pagos.
Diferença relevante
Se os dados de dezembro do ano passado forem transpostos a outubro deste ano, mantendo-se os salários médios nos dois municípios, a massa de rendimentos assalariados em São Bernardo com os trabalhadores industriais chegaria a R$ 413,98 milhões. Já os empregados industriais de Guarulhos registrados no mês passado multiplicados pelo salário médio de dezembro do ano passado significariam R$ 340,30 milhões. Uma diferença de 30,50% favorável a São Bernardo.
O fosso salarial que separa São Bernardo e Guarulhos é medido cuidadosamente pelos investidores que pretendem manter ou incrementar negócios industriais na Região Metropolitana de São Paulo. Não à toa Guarulhos tem tido a preferência, em contraponto a São Bernardo. Uma diferença que se alarga a cada temporada.
Basta verificar qual era a realidade do universo de empregos industriais nos dois municípios quando Fernando Henrique Cardoso deixou a presidência do Brasil em dezembro de 2002 e os dados de outubro último, sempre segundo dados oficiais do Ministério do Trabalho.
O tucano FHC foi uma catástrofe para o emprego industrial no País durante o período presidencial de oito anos. São Bernardo contava em dezembro de 2002 com 75.430 trabalhadores industriais com carteira assinada ante 78.383 de Guarulhos. Uma diferença de apenas 3,76% favorável ao Município da região Leste da Grande São Paulo. Já em outubro deste ano a diferença saltou para 17,85% por conta de Guarulhos somar 90.638 postos de trabalho no setor contra 74.457 de São Bernardo. Numa comparação entre os dois períodos, enquanto São Bernardo perdeu em termos líquidos 973 postos de trabalho industrial, Guarulhos ganhou 12.255.
Correlação indescartável
A correlação entre emprego industrial (principalmente emprego industrial com carteira assinada) e o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) fica evidenciada no embate dos dois municípios. Em 2002 (sempre é bom lembrar que se trata do último ano do governo Fernando Henrique Cardoso), o PIB Industrial de São Bernardo registrava R$ 5.089.675 bilhões, ante R$ 3.705.103 bilhões de Guarulhos. Uma diferença de 27,20%. Já em 2014 (dados mais atualizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas para os municípios brasileiros), o PIB Industrial de São Bernardo, de R$ 12.500,578 bilhões era apenas 12,99% superior ao PIB Industrial de Guarulhos de R$ 11.201.740 bilhões. A massa salarial superior de São Bernardo ajuda a compreender a vantagem do PIB no setor, apesar de menor contingente de trabalhadores.
Já quando se trata do PIB Geral dos Municípios, que leva em conta todas as atividades econômicas e também a participação da Administração Pública, a vantagem de São Bernardo de 17,89% em 2002, quando contava com R$ 15.310.266 bilhões ante R$ 12.571.159 bilhões, virou desvantagem de 7,47%: Guarulhos alcançou R$ 51.389 bilhões ante R$ 47.551 de São Bernardo. Quando forem apurados os resultados de 2015 e 2016, período de forte recessão no País, a distância a favor de Guarulhos deverá ser maior. O setor automotivo sentiu mais contrações que a média da maioria das demais atividades da indústria de transformação.
Se perde em tantas comparações, no PIB per capita, divisão do PIB Geral pelo total de moradores, São Bernardo tem vantagem considerável sobre Guarulhos. Uma vantagem, entretanto, que também já foi muito maior. Em 2002, o PIB per capita de São Bernardo era 46,69% superior ao de Guarulhos: R$ 21,390 mil ante R$ 11.403 mil. Já em 2014, a distância caiu para 33,34%, com São Bernardo registrando R$ 60.492 mil ante R$ 40.320 mil de Guarulhos. Uma queda de 13,35 pontos percentuais no período de 12 anos (2002-2014). O inchaço de Guarulhos, que conta com população de 1.349 milhão de habitantes, contra 827.379 de São Bernardo, favorece a São Bernardo nesse tipo de comparação ao atenuar o deslocamento de geração de riqueza.
Potencial de consumo
Se perde no PIB per capita, Guarulhos supera São Bernardo num indicador mais consistente e que retrata melhor o conjunto dos moradores. Trata-se do potencial de consumo, especialidade da Consultoria IPC dirigida pelo pesquisador Marcos Pazzini. O Índice de Potencial de Consumo é um coquetel de dados oficiais que mostram o que cada Município tem para gastar numa temporada. É uma espécie de PIB melhorado, porque a riqueza amealhada pertence a cada morador dos municípios brasileiros.
O potencial de consumo desta temporada coloca Guarulhos com participação de 0,71396% no País, acima dos 0,51454% de São Bernardo. Ou seja: de cada R$ 1,00 de potencial de consumo no País, Guarulhos participa com R$ 0,71396 e São Bernardo com R$ 0,51454.
O Índice de Potencial de Consumo da Consultoria IPC revela a diferenças entre as classes socioeconômicas dos dois municípios. Do total de 436.906 domicílios de Guarulhos, 1,5% é da classe rica, 24,3% da classe média tradicional, 49,6% da classe média emergente e 24,6% de pobres e miseráveis. São Bernardo de 280.127 domicílios conta com mais famílias de classe rica (3,7%), mais de classe média tradicional (30,8%), um pouco menos da classe média emergente (45,6%) e um pouco menos de pobres e miseráveis (19,8%).
Quando se divide o total do potencial de consumo de Guarulhos para esta temporada (R$30,014 bilhões) pela população, o resultado per capita é de R$ 22.247 mil. A mesma operação, tomando-se os dados de São Bernardo, de potencial de consumo de R$ 21.631.320 bilhões dividido pelo total de moradores, representa R$ 26.144 mil per capita. Uma distância que se estreita a cada nova temporada. São Bernardo perde a guerra da competitividade para o maior Município do outro lado da Região Metropolitana de São Paulo sobretudo após a chegada do Rodoanel Mário Covas. Um autêntico presente de grego para a Província que já foi Grande ABC.
Esse é mais um capítulo de uma série que vem de longe nesta revista digital: Guarulhos (e tantos outros municípios) é muito mais competitivo que São Bernardo. E que os demais municípios da região, também.
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