Celso Daniel estaria envergonhado do sonho de ver Santo André (e a região de forma suplementar) destacando-se no setor de serviços para contrabalançar a desindustrialização que começou para valer nos anos 1980 e se intensificou durante o governo Fernando Henrique Cardoso nos anos 1990.
O sonho de ver Santo André recompondo-se economicamente em atividades de serviços com valor agregado, sobretudo de tecnologia, virou pesadelo. No G-22 (grupo dos 20 maiores municípios do Estado, exceto a Capital e contando com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para completar o time da região), Santo André é apenas a 13ª colocada. Muito distante das primeiras – Barueri, Osasco, Campinas e Piracicaba.
São Bernardo, a melhor da região, não passa do sexto lugar, fortemente descolada das primeiras colocadas. Ou seja: não oferece perspectivas de virar o jogo no curto prazo. Mais que isso: é possível que a distância se acentue, São raros os investimentos em serviços de valor agregado na região. A intersecção entre indústria e serviços avançados também é baixíssima. Os assalariamentos denunciam.
Muito abaixo dos primeiros
Produzi o ranking do setor de Serviços do G-22 com base nos dados divulgados recentemente pelo Ministério do Trabalho. O resultado tem como âncora a média salarial dos trabalhadores do setor em dezembro do ano passado. Os dados de dezembro deste ano serão conhecidos somente em setembro do ano que vem. Deverão oscilar muito pouco. A grandiosidade torna os movimentos lentos quando vistos num horizonte imediato.
A média salarial dos trabalhadores de serviços em Santo André em dezembro do ano passado era de R$ 2.580,95. Quando se soma a média salarial ao universo de 109.157 profissionais que atuavam na área a massa de vencimentos alcançava R$ 281.728.759,15 milhões.
A média salarial em Santo André estava muito abaixo da registrada em Barueri, Município da Grande São Paulo que lidera o G-22 no setor com R$ 3.756,22. A massa de assalariados chegava a R$ 587.581.738,38 milhões em dezembro do ano passado, resultado da multiplicação da média pelo total de 156.429 trabalhadores em serviços.
Como se observa, a distância entre Barueri e Santo André no setor de serviços é quilométrica. Em valores médios de salários, uma diferença de 31,28%. Na massa de salários gerada nos dois universos de assalariados, Barueri registrava 47,85% de vantagem (R$ 587,581 milhões ante R$ 281.759 milhões) sobre Santo André. Essa diferença é simbólica da qualidade e da quantidade de trabalhadores do setor.
Guerra perdida
Quando entrevistei Celso Daniel durante uma viagem de ônibus a Sorocaba, em 2001, pouco tempo antes de ser assassinado, o petista estava de olho na possibilidade de Santo André capturar empresas que fugiriam do caos logístico paulistano. O projeto Eixo Tamanduatehy comportaria investimentos no setor. Barueri já saíra na frente na busca por empresas de tecnologia, mas a batalha não estava perdida. Hoje, dificilmente haveria revertério. A logística que contempla Barueri e a região Oeste da metrópole, sobretudo com a chegada do Rodoanel Mário Covas, tornou a concorrência desigual. A sinergia entre as empresas do setor também. Uma das maneiras de tornar-se competitivo é aproximar-se fisicamente de fornecedores e clientes. Barueri fez isso.
Com algumas variáveis pouco significativas, Santo André é o retrato da Província que não se preparou para contrapor o setor de serviços ao esvaziamento industrial. A média salarial entre as duas atividades é o retrato do quanto Barueri descarta extremas oscilações. O salário médio do setor de transformação industrial era de R$ 4.068,07 em dezembro do ano passado. Quando contraposto à média salarial de serviços a diferença é de apenas 7,66%. Em Santo André o salário médio da indústria registrava R$ 3.913,81 --- uma vantagem de 34,05% sobre serviços.
Disparadamente, Barueri
Dessa forma, o quase empate técnico no confronto da média salarial industrial de Barueri com a média salarial de serviços e situação análoga em Santo André é impactante. A massa de assalariamento é bastante desigual. Barueri paga melhores salários (a tecnologia faz diferença). Em Santo André, a soma dos salários dos 109.157 assalariados de serviços e de 25.264 trabalhadores da Indústria alcançava R$ 380,60 milhões em dezembro do ano passado. Em Barueri, a mesma contabilidade que cruzava 156.429 trabalhadores de Serviços e os 26.384 industriários significava massa salarial de R$ 694,912 milhões. Uma diferença favorável a Barueri de 45,23%.
A diferença que separa a economia de Barueri de Santo André quando se coloca a massa salarial de dezembro à aferição é maior ainda do que a detectada quando restrita a dois setores (indústria e serviços). Considerando-se todas as atividades, inclusive Administração Pública, a soma de salários dos 254.677 profissionais com carteira assinada de dezembro do ano passado alcançava R$ 1.010 bilhão em Barueri, ante R$ 534,342 milhões em Santo André, resultante de 195.125 carteiras assinadas.
O assalariamento de serviços representou naquele mês 68,71% da massa de trabalhadores em todas as atividades em Barueri. Em Santo André, o setor de serviços quando contraposto aos demais setores, pagou salários equivalentes a 71,16% da massa geral. O que parece superioridade de Santo André de fato é complicação: o Município outrora “viveiro industrial” conta com predomínio de assalariamento geral de uma atividade que está longe de ocupar os primeiros lugares em valorização dos trabalhadores no G-22.
Transição incompleta
O resumo dessa ópera é que toda vez que alguma autoridade pública vir a público desfilar conceitos sobre a mudança de perfil econômico da região como um todo ou de algum Município em particular, o melhor é ter cautela. A transposição de uma Santo André ou de uma Província industrial para as atividades de serviços dá-se de forma dolorosa. A riqueza industrial que vai embora não está sendo compensada. Muito pelo contrário.
São Bernardo, Capital Econômica da região, é prova disso. Embora pague a melhor média de salário mensal aos trabalhadores da indústria do G-22, o setor de serviços está em sexto lugar. A massa de salários envolvendo todas as atividades econômicas em São Bernardo, sempre em dezembro do ano passado, registrava R$ 907,937 milhões. Um pouco abaixo de Barueri, de população três vezes menor. No setor de serviços, com 108.706 trabalhadores com carteira assinada, o volume de salários chegava a R$ 306,729 milhões. Bem abaixo, portanto, dos quase R$ 600 milhões de Barueri.
Vejam o ranking de salário médio mensal em dezembro do ano passado dos integrantes do G-22:
1. Barueri – R$ 3.756, 22
2. Osasco – R$ 3.470,49
3. Campinas – R$ 3.462,09
4. Piracicaba – R$ 3.097,58
5. Santos – R$ 2.885,24
6. São Bernardo – R$ 2.821, 67
7. Sumaré – R$ 2.812, 62
8. Paulínia – R$ 2.781,38
9. Ribeirão Preto – R$ 2.725,59
10. São José do Rio Preto – R$ 2.678,02
11. Guarulhos – R$ 2.610,25
12. Jundiaí – R$ 2.589, 57
13. Santo André – R$ 2.580,95
14. Mauá – R$ 2.578,82
15. São Caetano – R$ 2.563,83
16. São José dos Campos – R$ 2.438,83
17. Sorocaba – R$ 2.386, 09
18. Ribeirão Pires – R$ 2.345,89
19. Diadema – R$ 2.338,37
20. Mogi das Cruzes – R$ 2.118,99
21. Taubaté – R$ 2.066,21
22. Rio Grande da Serra – R$ 1.999,55
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