A Doença Holandesa Automotiva que caracteriza principalmente as economias de São Bernardo e São Caetano, sedes de montadoras e autopeças em proporções elevadíssimas no conjunto de atividades industriais, provocou hecatombe histórica no primeiro ano de recessão do governo Dilma Rousseff, em 2015, quando o PIB Nacional caiu 3,8%. O estrago foi generalizado na Província dos Sete Anões, outrora Grande ABC, mas com maior incidência em São Bernardo e São Caetano.
São Bernardo perdeu 19,17% do PIB per capita em 2015, quando os números são confrontados com os do ano anterior. O desempenho de São Caetano foi ainda pior, com queda de 23,02%.
Quem acha que esses dados são o extremo de uma cronologia que teria sido evitada na temporada seguinte, em 2016, não sabe o que está no horizonte em dezembro do ano que vem, quando for anunciado a nova safra do PIB dos Municípios. Como o segundo ano da recessão contratada pelo governo petista foi demolidor como o primeiro, não é difícil entender as razões que colocam a região, neste 2017, praticamente de joelhos.
Algo tão grave como a insensibilidade do presidente do Clube dos Prefeitos, Orlando Morando, responsável por políticas de esvaziamento da entidade e também por firulas programáticas que não servirão para praticamente nada. A enfermidade econômica da região é muito mais grave que o salvacionismo marqueteiro dominador de manchetes de jornais.
Demografia agrava
PIB per capita é a divisão da geração de riqueza de uma localidade pelo total da população. Quanto menos se produz num determinado período em relação ao crescimento demográfico, mais dramático se torna o balanço geral. Já o PIB que não leva em consideração essa metodologia, e que é o mais conhecido, geralmente encobre deficiências estruturais. Propaga-se, por exemplo, que a Província detém o quarto maior PIB do País. Balela.
Já tratamos dessa deformação interpretativa. Estamos caindo pelas tabelas em todos os sentidos. Áreas como Grande Curitiba, Grande Belo Horizonte, Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Campinas, entre outras, são esquecidas pelos formuladores de heresias.
Há várias modalidades que podem induzir a erros de avaliação do comportamento da economia. Além do prevalecimento do PIB convencional, que despreza a versão por habitante, mais respeitada por especialistas, também há quem procure descartar a aplicação da correção monetária. Trabalha-se com o PIB de maneira geral como se o mundo fosse perfeito e os preços não sofressem alterações. A aplicação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é oficialmente utilizada para a medição do PIB.
Caminho percorrido
Um exemplo é o caminho que percorremos para chegar à conclusão que o PIB per capita de São Caetano sofreu queda de 23,02% entre 2014 e 2015, período em que o IPCA registrou índice de 10,67%. Em 2014 o PIB por habitante registrado por São Caetano era de R$ 98.811,07 mil. Em 2015, conforme os resultados anunciados oficialmente ontem pelo IBGE, o PIB per capita de São Caetano chegou a R$ 84.177.85 mil. Se desconsiderássemos a inflação de 10,67% entre um ano e outro a queda teria sido de 14,80%. A contabilidade reuniria valores nominais, ou seja, esterilizados do processo inflacionário. Com a correção inflacionária, os R$ 98.811,07 do PIB per capita de 2014 passariam para R$ 109.354,21 mil em 2015. Fosse alcançado esse valor, não haveria perda. Como faltou combinar com os russos e o valor efetivamente registrado no final de 2015 não passou de R$ 84.177,85 mil, a perda gigantesca de 23,02% se efetivou.
O mesmo critério de cálculo foi utilizado para a perda do PIB per capita de São Bernardo de 19,17%. Eram nominais R$ 58.492,19 mil em 2014 e R$ 52.324,92 em 2015. Quando aplicada a correção monetária com o uso do IPCA, São Bernardo salta para o PIB per capita de R$ 64.733,31 mil em 2015. Entre esse valor destruído pela recessão econômica e o valor efetivado, de R$ 52.324.92 mil, abre-se a cratera de empobrecimento per capita de quase 20,00%.
Pelotão principal
São Caetano e São Bernardo automotivas formam o pelotão de frente de estatelamento da economia regional em matéria de PIB per capita em 2015, mas outros dois municípios de grande porte seguem trilha semelhante, embora menos impactante. Santo André perdeu no período de um ano nada menos que 11,66% de PIB per capita. Em 2014 o valor registrado foi de R$ 37.791,08 mil, contra R$ R$ 36.948,06 mil. Quando se aplica o IPCA no montante de 2014, conforme a inflação de 2015, o valor sobe para R$ 41.823,39 mil. Entre o valor real apurado e o valor inflacionado, a diferença é negativa de 11,66%.
Diadema, que vive na esteira da economia de São Bernardo, principalmente no setor automotivo e de autopeças, embora tenha outras fontes de produção, perdeu praticamente o mesmo que Santo André em PIB per capita em 2015. Foram 11,49%. Dos R$ 34.296,01 mil registrados em 2014, recuou para R$ 33.592,70 mil em 2015. A diferença para quem despreza a inflação seria mínima, mas como é estupidez desconsiderar a atualização monetária, chega-se à queda de dois dígitos porque o valor atualizado chegaria a R$ 37.955.394 mil.
Os demais municípios da região perderam percentuais mais discretos. Mauá caiu 0,75%, Ribeirão Pires 2,00% e Rio Grande da Serra 8,5%. Os dois últimos, Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, não pesam mais que 2,5% no PIB regional. Os resultados em geral costumam oscilar exatamente por conta da esqualidez da economia. Os dois municípios estão incluídos no G-22, o grupo dos maiores endereços econômicos do Estado de São Paulo (exceto a Capital) que tem a coordenação desta revista digital, apenas porque pertencem à região. São espécies de convidados para permitir estudos que incluam o conjunto dos municípios locais.
A população da Província cresceu em 17.500 moradores entre 2014 e 2015. Eram 2.702,071 e passou a 2.719.571.
Dados atualizados
Na primeira versão do texto de ontem de CapitalSocial sobre o desempenho do PIB dos Municípios envolvendo os sete endereços da região houve imprecisões já corrigidas. Uma planilha liberada pelo IBGE colocava o PIB da região de 2014 acima de 124 bilhões, quando um ano antes foi divulgado o valor de pouco mais de R$ 120 bilhões. Nada que fuja a quase uma rotina de ajustes numéricos do instituto.
Produzimos o texto com base nessa nova planilha, até que se descobriu, ao final da tarde, uma nova tabela de valores e o PIB dos municípios da região relativos a 2014 caiu para pouco mais de R$ 118 bilhões. Os procedimentos de atualização foram executados. No fundo, mesmo com essas oscilações informativas, não houve mudança nos conceitos e nas conclusões. A Província segue uma derrocada que vem do passado e que só passa por alívios circunstanciais quando a indústria automotiva, protegidíssima pelo governo federal, recupera parte da força que era exuberante num passado que não volta mais.
A queda do PIB da região quando se levam em conta os valores gerais, chegou a praticamente 15%, conforme aponta o texto de ontem devidamente atualizado. Há quem prefira agir como avestruz ao eliminar o critério inflacionários das contas por si sós dantescas. Procura-se tapar o sol de uma degringolada histórica com a peneira do triunfalismo velho de guerra. Um filme tão antigo, desgastado e fora de moda que, ao ser reproduzido, sugere que existe mais que um parafuso crítico fora do lugar.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?