A velha senhora vai avançando no projeto de se tornar esbelta e competitiva. A Volks Anchieta, pioneira e maior planta da marca no Brasil, programou para abril mais uma etapa da reestruturação física que pretende torná-la de 20% a 30% mais enxuta. Novo acesso de caminhões e ônibus será aberto no Km 25,5, após a portaria principal do km 23 da Via Anchieta, o que facilitará a carga e descarga de materiais e o deslocamento de funcionários. Mais à frente, no km 26, a montadora vai ceder uma franja de área ao Rodoanel, o que também ajudará na logística de transporte. O governo do Estado, um dos financiadores do anel de 160 quilômetros em torno da Região Metropolitana, aprovou o desvio do traçado, que originalmente passaria pelo km 28 da Anchieta, no densamente habitado Bairro do Areião. "Agora vamos detalhar o projeto tecnicamente na Dersa" -- afirma o gerente de Engenharia de Manufatura, Ricardo Gregório.
O novo estacionamento de ônibus, que substitui o pátio externo lateral da Avenida Maria Servidei Demarchi, permitirá que cerca de 15 mil trabalhadores tenham três pontos de descida dentro da fábrica, próximos às suas alas de manufatura. Os três acessos internos serão monitorados por 21 catracas eletrônicas. Funcionários que usam veículo próprio estacionam dentro da fábrica desde o final do ano passado, quando ganharam 1.320 vagas no lugar da ex-ala 15, que abrigava peças de garantia e foi demolida. Toda a rua interna que margeia a frente da fábrica na Via Anchieta está sendo reurbanizada, a exemplo dos espaços físicos gradativamente liberados pela derrubada de construções antigas. Até fins de 1999 haviam sido demolidas 21 das 43 construções que existiam na planta Anchieta, entre prédios, galpões, canteiros, anexos e depósitos mais simples.
Segundo o MasterPlan, como se chama o plano de reformulação que LivreMercado abordou com exclusividade em fevereiro de 1999 deve desaparecer pelo menos um terço dos 1,1 milhão de metros quadrados construídos sobre o terreno de 1,9 milhão de metros quadrados. Dos dois pátios externos, um foi doado à Prefeitura para abrigar piscinão contra enchentes e outro vendido.
Competitividade
A reestruturação, além de dar competitividade à fábrica, visa a abrigar um dos mais importantes projetos da Volks no mundo, o PQ-24, como é codificado o novo veículo. A empresa despista detalhes, ora vazando informações de que se trata de uma família que incluirá carro popular com motor 1.0, picape e modelos de luxo, ora de que é um modelo único sedan, intermediário entre Gol e Golf.
A reestruturação da fábrica Anchieta está custando R$ 1,7 bilhão, R$ 200 milhões dos quais sendo injetados neste ano -- e R$ 50 milhões só no MasterPlan. O PQ-24 corre paralelamente, com investimentos calculados em R$ 2 bilhões até 2001. A plástica na planta Anchieta busca elevar a produtividade para níveis de Primeiro Mundo, por volta de 65 veículos/homem/ano, contra pouco mais da metade disso atualmente. A cessão de área para o Rodoanel se soma à estratégia por mais competitividade, já que encurtará o trajeto que 150 cegonheiros e 1,2 mil caminhões de peças e acessórios são obrigados a fazer diariamente até Riacho Grande (pagando pedágio) ou até a rotatória do Wal Mart por fala de acesso direto à montadora.
No total, a Volkswagen programa injetar R$ 800 milhões este ano no Brasil, onde tem fábricas também em Resende (RJ), São Carlos e Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR), anunciou o presidente Herbert Demel no início do mês passado, quando recepcionou em São Bernardo cerca de 40 mil pessoas -- entre funcionários e parentes -- no megaevento Encontro Família Volkswagen. Todas as fábricas estão reservando um dia inteiro aberto à visitação de familiares, que, além de conhecer a linha de produção, participam de recreações e shows. "É uma forma de aumentar o astral e a ligação entre empresa e funcionários" -- explica o vice-presidente de Recursos Humanos, Fernando Tadeu Perez, que tem negociado com habilidade o enxugamento de pessoal na Anchieta, para acompanhar as reformulações físicas e tecnológicas.
Enxugamento
Além dos dois mil funcionários que se desligaram desde fins de 1999, mil anteciparam a saída de dezembro para julho próximo, conforme negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. São na maioria aposentados que aproveitam pacotes de indenização vantajosos. A fábrica Anchieta, que chegou a empregar 40 mil pessoas, terá neste 2000 não mais de 18 mil. Fernando Perez não comenta a hipótese de novas baixas, apesar da pressão do mercado retraído.
O presidente Demel, ao contrário, faz projeções otimistas: acha que a estabilidade econômica levará a marca -- e o mercado automotivo como um todo -- a crescer 7% este ano sobre os 1,252 milhão de unidades vendidas em 99 (1,343 milhão fabricadas). Se sair o acordo de renovação da frota acima de 15 anos, Demel acrescenta 145 mil unidades ao total geral. Ele aposta mesmo é nas exportações da Volks, que devem subir de 52 mil para 70 mil sobretudo para a América do Sul. No mercado interno, a Volks mantém-se líder há 34 anos seguidos. Pelos números que divulgou, vendeu no ano passado 368 mil unidades entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, resultado 15,13% inferior ao de 1998. A Fiat foi a segunda colocada com 304,4 mil unidades comercializadas internamente, a GM vem a seguir com 277,9 mil e a Ford com 117,4 mil.
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