Economia

Volks vende áreas
para fornecedores

RAFAEL GUELTA - 03/10/2000

A Volkswagen vai colocar à venda áreas que somam 90 mil metros quadrados no gigantesco terreno em que está instalada à margem da Via Anchieta, em São Bernardo. A direção da montadora vai construir parque industrial de fornecedores para a montagem da família de veículos mundiais conhecida pela sigla PQ-24, que substituirá o Gol. "Empresas interessadas podem entrar em contato com nossos diretores" -- anuncia Fernando Tadeu Perez, vice-presidente de Recursos Humanos da subsidiária brasileira da gigante alemã.

A venda das áreas faz parte do MasterPlan, megaprojeto de US$ 3,5 bilhões que enxuga, reestrutura e prepara a planta da Anchieta para processos globais de produção, conforme anunciou LivreMercado com exclusividade na edição de agosto de 1999. Construída no topo da Serra do Mar no fim dos anos 50, sobre terreno de topografia acidentada, a fábrica da Volkswagen será reduzida em 30% do total de dois milhões de metros quadrados de terreno, metade é de área construída. A mudança representa verdadeira revolução, já que especialistas chegaram a considerar a área inadaptável aos novos tempos. 

"Acabou a era das fábricas gigantescas. Automação e novas tecnologias reduziram espaços. Queremos uma planta moderna, ágil e eficiente, com logística que reduza custos de produção e do produto para o cliente. Por isso estamos colocando terrenos à venda" -- afirma Tadeu Perez. O vice-presidente de Recursos Humanos garante que as mudanças não vão reduzir o quadro de funcionários, de 18 mil trabalhadores. "A redução do espaço físico está sendo feita para melhorar o desempenho de todos" -- acentua Tadeu Perez.

Para sistemistas  

A Volkswagen pretende vender áreas para 21 fornecedores sistemistas que vão participar da montagem do PQ-24. A direção da montadora não confirma nomes de fornecedores. Johnson Controls (bancos), Valeo (painéis), Dana e TRW Varga (suspensão traseira e dianteira), além de Georg Fischer (suspensão), estariam negociando instalação de unidades no quintal da fábrica Anchieta.  

Não está descartada a possibilidade de a Volks vender áreas a empresas que não sejam fornecedoras diretas de conjuntos de autopeças. Fernando Tadeu Perez admite que até mesmo uma escola poderá se instalar no local, preferencialmente se ministrar cursos destinados à formação de profissionais para a indústria automotiva. Uma faculdade da região que forma profissionais para montadoras já declarou interesse em instalar-se no parque de fornecedores. 

O austríaco Herbert Demel, presidente da subsidiária brasileira da Volkswagen, não gosta que se compare o gigantismo da fábrica da Via Anchieta com uma cidade. Entre os anos 60 e início dos 90 a relação foi estimulada pela própria montadora, que festejava o fato de incluir até capela entre uma linha de montagem e outra. Com o MasterPlan, a idéia é transmitir imagem de fábrica moderna, compacta, produtiva e competitiva.

Galpões demolidos  

A reestruturação proporciona números expressivos. Já foram demolidos 35 prédios e galpões de um total de 43 construções. Quase 1,3 mil máquinas com tecnologia superada estão descartadas. Exatos 137 veículos industriais e 19 mil toneladas de sucata metálica também foram dispensados por não terem mais lugar nos processos avançados de produção. 

A derrubada de prédios resultou em pátio para estacionamento de ônibus que reduziu de 1,5 quilômetro para 500 metros a distância do trajeto diário dos trabalhadores até a linha de montagem. Outra novidade na fábrica da Anchieta é a identificação visual: um logotipo de dupla face com seis metros de diâmetro, visível para quem trafega pelas duas pistas da Via Anchieta, e é idêntico ao da fachada da matriz da multinacional, em Wolfsburg, na Alemanha. 

A exemplo da Ford, que obteve empréstimo do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) para instalar-se no Pólo Petroquímico da Camaçari, a Volkswagen garantiu recursos do banco estatal para investir no PQ-24. O empréstimo de R$ 881 milhões é quase R$ 200 milhões superior ao da Ford na Bahia. A montadora norte-americana produzirá nova família de veículos conhecida provisoriamente como Projeto Amazon. 

O ritmo de modernização na indústria automobilística é tão intenso que toda nova fábrica que se inaugura é a mais moderna do mundo. A top do momento é a linha de montagem do Celta que a General Motors acaba de inaugurar em Gravataí (RS). O cetro passa para a Ford no ano que vem, quando a gigante norte-americana começa a produzir veículos do Projeto Amazon. Em 2002 será a vez de a Volkswagen assumir o posto com o PQ-24. 

Há diferenças entre os três projetos. O subcompacto Celta, da GM, está sendo produzido predominantemente para disputar o mercado brasileiro de carros populares. O Projeto Amazon contemplará vários segmentos de consumo, além do popular. O Projeto PQ-24 produzirá inicialmente um automóvel destinado a público de poder aquisitivo mais elevado que o popular, entre o Gol e o Golf. 

Dois pontos comuns ligam as três montadoras e essas linhas de montagem -- altíssimo índice de automação e sistemistas no quintal das fábricas para agilizar a produção e garantir mais competitividade. Volkswagen e Ford também têm como ponto comum a exportação para mercados do Primeiro Mundo, além de África, Ásia e América Latina.    



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