Vamos continuar com desdobramentos da queda do PIB (Produto Interno Bruto) do antigo Grande ABC a partir da década de 1970, quando os sete municípios iniciaram a corrida insana e se transformaram em Província de Sete Anões. Vamos dar vida aos números de ontem.
Possivelmente esta seja a maneira mais didática para impactar de vez as autoridades públicas e os agentes privados, além de uma sociedade em frangalhos. Todos ainda não se deram conta de que estamos ladeira abaixo. O estado de prostração é a pior resposta de um enfermo que ainda não ganhou espaço na UTI econômica, mas caminha para quadro ainda mais grave nas duas próximas décadas.
Trata-se de tempo curto demais, de apenas uma geração. A mobilidade social ascendente já deteriorada na região (na verdade, o quadro é de mobilidade inversa, descendente) tende a tornar-se endêmica. Quem seria capaz de assegurar que os filhos de hoje terão mais qualidade de vida que os pais em forma de oportunidades profissionais e outras variáveis?
Nossa grandeza de 50 anos atrás virou pó. Ainda somos grandes, mas muito menos importantes que no passado. O Brasil já não depende praticamente de nada que produzimos. O carro-chefe, a indústria automobilística, só é relevante ao equilíbrio interno da região. A descentralização de produção nos tornou menos protagonistas. No fundo, a região depende cada vez mais do Estado, em forma de protecionismo e benesses à indústria automobilística. Tirem as vantagens fiscais e os subsídios das montadoras de veículos da região e o desastre será completo.
Desastre de bilhões
O leitor imagina o que significa rebaixamento de participação relativa da região no PIB Nacional no período de quase 50 anos expresso em 59,30%? Em números redondos, o PIB registrado em 2015 (últimos dados disponíveis pelo IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no valor de R$ 111 bilhões, seria R$ 274 bilhões se prevalecessem os números de 1970. Números de um ufanista Grande ABC que não existe mais, embora os teimosos ou falseadores do presente finjam que nada mudou.
O que se traduzia em sexto lugar no ranking nacional no ano em que a Seleção Brasileira conquistou o tricampeonato mundial no México virou 14º lugar na metade da segunda década dos anos 2000. Uma catástrofe. Ou seja: se a região fosse um Estado brasileiro, teria despencado na classificação geral. O sexto lugar de 1970 teria sido mantido apenas se não tivéssemos perdido nenhum ponto percentual em relação ao PIB Nacional.
Como decidi fazer novas investidas analíticas sobre o comportamento do PIB da região, deixei de propósito um aspecto que os leitores mais céticos (nada mais natural diante do quadro de horrores que a queda acentuadíssima do PIB proporcionou) possivelmente questionam diante dos números apresentados.
Trata-se da constatação de que o fenômeno da fragilização da economia regional nas últimas cinco décadas tem as digitais do território como um todo, e dos municípios locais individualmente. O comportamento é bem diferente de alguns grandes municípios que constam do G-22, o clube dos 22 endereços mais poderosos do Estado. Traduzindo: a derrapagem da região não é um efeito generalizado do crescimento do País, mesmo que modesto, em direção a outras geografias estaduais, situação que explicaria a queda relativa tanto dos municípios locais quanto de tantos outros do Estado.
Concorrentes avançam
Pegamos dois exemplos de vitalidade econômica que desaparece gradualmente neste território. Antes de direcionar atenção a três endereços do Interior do Estado que centralizam regiões metropolitanas importantes (Campinas, Sorocaba e São José dos Campos), optamos por mostrar o que se passou na vizinhança regional. Mais propriamente na Região Metropolitana de São Paulo. Contrariando acadêmicos loucos por teorias falsamente premonitórias, Guarulhos, Osasco e Barueri apresentam saldo positivo desde os anos 1970.
Em conjunto, os três municípios que estão a poucos quilômetros da Província, do outro lado da Grande São Paulo, coladíssimos à Capital, registram crescimento relativo desde 1970: contavam com participação no PIB Nacional de 1,17% e chegaram a 2,77% em 2015. Ganharam 1,60 ponto percentual de geração de riqueza. Ou um avanço de 136,75%. Nunca é demais lembrar que no mesmo período a região perdeu 59,90%.
Quem mais cresceu nos quase 50 anos que separam os extremos dos estudos foi Barueri. De participação inexpressiva no PIB Nacional, de menos de um terço de um ponto cento, ou seja, 0,03%, passou para 0,80%, ou 0,08 acima do resultado de São Bernardo. Osasco mais que dobrou participação nacional: passou de 0,51% para 1,10%. E a fortemente industrial Guarulhos resistiu à interiorização da atividade com avanço de 0,63% para 0,87%.
Acadêmicos ilusionistas
Campinas, Sorocaba e São José dos Campos eram superiores a Guarulhos, Osasco e Barueri em 1970, mas inferiores à Província dos Sete Anões. De participação no PIB Nacional de 1,52% em 1970, chegaram a 2,05% em 2015. Ou avanço de 0,53 ponto. Em termos percentuais, um salto de 34,87%.
O resultado não deixa de ser interessante e destruidor de teses que generalizaram o esvaziamento econômico dos municípios da Grande São Paulo por conta da preferência pelo Interior do Estado e mesmo por outros endereços da Federação. Barueri, Guarulhos e Osasco são um chute na canela da Província porque dinamitam a ideia difundida de que o esvaziamento regional seria fatalista, tanto quanto dos vizinhos da metrópole.
Ainda há vários vetores a merecer análises. O histórico desta revista digital, herdeira editorial da revista LivreMercado, é um atestado de idoneidade ética e de responsabilidade social que a maioria dos veículos de comunicação não observaram quando se trata de verificar o estado calamitoso da região, agravado neste novo século por série de enfermidades econômicas.
Entre as quais o trecho sul do Rodoanel, lançado pelo governador Geraldo Alckmin como obra prima de competitividade (“ a melhor esquina do Brasil”, lembram-se?), mas de fato, como cansamos de provar, um atentado à integridade regional. Não à toa a Grande Oeste, na Grande São Paulo, de sete municípios que giram em torno de Osasco e Barueri, simplesmente atropelou a Província.
Evasão de consumidores
O monotrilho (inadequadamente chamado de metrô pela mídia subserviente da região) demora a chegar na região. E a região deveria agradecer por isso. Conforme estudos da Universidade Metodista, os estragos serão estrondosos quando os consumidores ganharem aquele corredor logístico para se deslocar ainda mais à Capital mais atrativa principalmente no campo do comércio varejista.
A Província quase nada faz para reagir à hecatombe econômica. E quando o faz comete bobagens. Um braço do Rodoanel que praticamente isola a logística regional e um monotrilho que vira passarela à evasão de consumo são escolhas erradas em situação de gravidade extrema. Quando os números do PIB dos Municípios do também recessivo 2016 apontarem no horizonte, em dezembro deste ano, teremos mais notícias dilacerantes. Todas omitidas por uma mídia regional sem escrúpulos para compreender o significado de jornalismo e de cidadania.
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21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?