O emprego com carteira assinada é uma das maiores obsessões do prefeito Orlando Morando na campanha à reeleição que ainda está longe, mas também está perto porque o tempo da política é diferente. Superar o estoque deixado por Luiz Marinho, tendo como base o último ano do petista à frente do Paço de São Bernardo, em 2016, é ordem repassada a todos. Não interessam os meios. Até mesmo com guerra fiscal interna. Como mostraremos nesta semana. O presidente do Clube dos Prefeitos, uma instituição que se derrete, está de olho no próprio território. Apenas nisso.
Entra nessa conta, principalmente, a debilitada Secretaria de Desenvolvimento Econômico, entregue ao ex-vereador Hiroyuki Minami. Mesmo assim, Morando dificilmente deixará de superar Luiz Marinho. Mesmo que seja mais um prefeito da região a enfileirar incompetências na articulação desenvolvimentista no campo econômico. A dinâmica nacional deverá salvar o tucano. Até porque os atuais prefeitos iniciaram mandatos tendo como herança a bancarrota nacional. Algo com que Marinho não contava. Foi vítima do próprio petismo que tanto representa.
Depois de passar pela mais severa recessão da história, o Brasil dificilmente repetirá no quadriênio iniciado em janeiro do ano passado (quando Orlando Morando tomou posse) os dois anos mais agudos da crise nacional, em 2015 e 2016, quando o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil caiu 3,6% e 3,8% respectivamente.
Certeza depois do desespero
Os números de São Bernardo são muito mais desesperadores. Em 2015 o PIB local sofreu queda de 16,2%. O PIB de 2016 será conhecido somente no final do ano. E deverá superar o fracasso do ano anterior.
Medimos o tamanho da encrenca no mercado de trabalho que Orlando Morando assumiu na Prefeitura de São Bernardo para antecipar (com a certeza de que piores dias não virão), que, ao final de quatro anos, faça nada ou faça apenas alguma coisa, porque mais que isso não sinaliza que será capaz, que oferecerá à plateia dados mais interessantes no mercado de trabalho que os do antecessor ex-sindicalista.
É impossível perder para Luiz Marinho. Até porque Luiz Marinho tem tanto culpa no cartório quanto a proporção dos méritos de Orlando Morando ao final de 2019, último ano do mandato – caso o tucano siga com a mesmice econômica de marcas próprias, não repassadas pelo País como um todo. A moral da história que se delineia é que Morando não apresentou até agora uma política sustentável de desenvolvimento econômico que, se preservado o quadro, justificaria números melhores sem que a explicação seja o predomínio do governo federal.
Hecatombe no emprego
Nos dois últimos anos do segundo mandato de Luiz Marinho os números foram tormentosos para São Bernardo, na esteira do desencanto nacional produzido pelo governo de Dilma Rousseff a partir de 2014 em consequência da herança maldita da política fiscal de Lula da Sila.
Naqueles 24 meses, entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016, dados mais atualizados pelo Ministério do Trabalho, São Bernardo perdeu 34.776 empregos quando se consideram todas as atividades. Desse total, 17.272 no setor industrial. Tudo com carteira assinada. Ou seja: 49,66% dos empregos destruídos pela recessão que colheu o País e mais fortemente uma região dependente demais do setor automotivo, praticamente a metade, foi do setor industrial, que paga os melhores salários e benefícios sociais. Uma atividade onde a média salarial é maior, muito maior, que as demais.
Naqueles mesmos 24 meses tenebrosos de Dilma Rousseff, pagos por Luiz Marinho que viu fracassar vários projetos da área econômica, inclusive um polo da indústria de defesa, além de gás e Petróleo, a massa salarial de São Bernardo passou por uma tempestade da qual dificilmente se safará nos próximos anos.
Baixa de R$ 174 milhões
Em valores corrigidos monetariamente pelo IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo) a dezembro de 2016, São Bernardo perdeu na temporada 2015-2016 nada menos que R$ 174.600.479 milhões em salários. A referência numérica desse desastre é mensal e restrita a dezembro de 2016, quando em confronto com os dados de dezembro de 2014. Ou seja: em apenas um único mês, comparado aos valores de 24 meses antes, São Bernardo perdeu somente de salários, sem contar o 13º, uma fábula. Quando novos números, relativos a dezembro de 2017, saírem, se saberá quanto foi perdido em 36 meses, sempre cruzando os dados de dezembro-dezembro.
Organizamos nos últimos dias uma série de estudos que envolvem outros municípios da região e alguns que constam na lista do G-22, o grupo dos 20 maiores do Estado de São Paulo (exceto a Capital), enxertado de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. A situação de São Bernardo é particularmente mais dramática quando se comparam as massas salariais de dezembro de 2016 tendo como base os dados de dezembro de 2014. Naquele ano a recessão começou de forma discreta. O Brasil sofreu leve perda do PIB, de 0,1%.
Em números de dezembro de 2014, a massa salarial de São Bernardo, que contava com estoque de 287.065 trabalhadores com carteira assinada, registrava R$ 917.405.197 milhões. Corrigidos pelo IPVA do período de 24 meses (de janeiro de 2015 a dezembro de 2016, com acumulado de 18%), a massa salarial chegaria de dezembro de 2014 chegaria a R$ 1.082.538 bilhão. Entretanto, como perdeu 37.776 carteiras assinadas (equivalentes a 12,11% do total), a massa salarial dos trabalhadores de São Bernardo registrou o total de R$ 917.405.197 milhões. Daí a perda de R$ 174 milhões naquele dezembro. No conjunto, os sete municípios da região perderam em números atualizados a dezembro de 2016 o total de R$ R$ 384.042.506 milhões, ou 13,31%. A perda salarial de São Bernardo foi maior que a da região, de 16, 13%. Somente abaixo dos 17,90% de Diadema.
Perda anual problemática
Multiplicar a perda de valores monetários de salários de São Bernardo de 2016 em relação à base de 2014 pelos 12 meses de 2016 é uma tentação que não resiste à realidade dos fatos. A cidade que Orlando Morando quer ver com mais empregos e salários perdeu tantos trabalhadores nos dois últimos anos já contabilizados pelo Ministério do Trabalho (os dados detalhados de 2017 só sairão no meio deste ano) sofreu baixas ao longo daquela temporada, como também na temporada anterior. Os números definitivos de dezembro valem apenas para dezembro, portanto. Os de janeiro do ano seguinte, quando Orlando Morando assumiu a Prefeitura, vão constar dos próximos estudos. Assim como dos demais meses de 2017.
Segundo dados oficiais do Ministério do trabalho, em 2014 a região contava com estoque de 818.831 trabalhadores com carteira assinada em todas as atividades. Vinte e quatro meses e uma recessão cavalar de Dilma Rousseff no meio do caminho, o saldo passou para 731.238 empregos formais. A região perdeu 10,70% de empregos em dois anos. São Bernardo perdeu 12,11% nos empregos em geral (portanto acima da média regional) e 18,73% em empregos industriais formais, um pouco abaixo dos 20,10% da média regional na atividade.
Santo André lidera
Quem mais sofreu baixas no emprego industrial na região durante os dois anos mais graves da economia nacional em quase um século foi Santo André. Nada menos que 24,44% postos de trabalho desapareceram no setor, que contava com 33.439 empregos em 2014 e caiu para 25.264 em 2016. Uma perda líquida de 8.175.
São Caetano também perdeu feio no período, passando de 26.410 empregos industriais formais para 20.106 depois de 24 meses. Uma queda relativa de 23,87%. Diadema veio logo a seguir com perda relativa de 22,09%, resultado da demissão de 11.716 trabalhadores: do total de 53.028 carteiras assinadas em 2014, caiu para 41.312 em 2016.
Ribeirão Pires segue no ranking de infortúnios da região com perda relativa de 17,77% de empregos industriais formais no período: de 7.968 trabalhadores em 2014 caiu para 6.552 ao fim de 24 meses. A exceção de perdas na região é a pequenina Rio Grande da Serra. Justamente por ser tão diminuta, os números podem variar intensamente. Em 24 meses a partir de dezembro de 2014 Rio Grande ganhou 39 empregos como saldo líquido, o que significou crescimento de 2,43%. Mauá acusou o golpe mais brando no período, com perda relativa de 13,03% -- o estoque de trabalhadores industriais caiu de 24.099 para 20.957. Déficit de 3.142.
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