Economia

São Bernardo lidera derrocada
regional de consumo pós-Lula

DANIEL LIMA - 14/05/2018

Capital Econômica da região e queridinha dos ignorantes que seguem a acreditar que a ilha de protecionismo das montadoras de veículos é a melhor resposta para o futuro da região, São Bernardo desabou no índice de potencial de consumo anunciado pela Consultoria IPC relativo a esta temporada. Uma nova perda de participação de quase dois pontos percentuais (de 0,51454% em 2017 para 0,49302% este ano) colocou São Bernardo abaixo de Santo André no ranking da região. Isso quer dizer que São Bernardo foi desbancada num quesito que significa soma de riquezas acumuladas, conceito considerado mais importante que o badalado PIB (Produto Interno Bruto), cuja essência metodológica é a geração de riquezas em produtos e serviços. 

São Bernardo segue líder regional no PIB, mas não se apropria internamente de mais recursos em forma de salários, poupança, alugueis, previdência social e outros que Santo André. Ou seja: a base industrial de São Bernardo, que sustenta a economia local, não fertiliza internamente a sociedade no nível desejado. 

O resultado regional de consumo anunciado pela Consultoria IPC foi mais uma vez negativo, mas os dados de São Bernardo mostram-se alarmantes. A queda regional do ano passado para este ano é algo como chuvisco de verão, que molha sem parecer. No ano passado o potencial de consumo da região era de 1,72909%. Este ano registra 1,70881%. 

O que os principiantes em análises do potencial de consumo não sabem é que a trajetória desse quesito se assemelha a de um transatlântico. Titanic foi para o fundo do mar porque era grande demais para desviar do iceberg. A riqueza para consumo da região sofre com uma rota de colisão permanente.  É pura perda de tempo dizer isso para quem não entende do riscado. Eventuais intervalos de tentativas de correção de rota são apenas um intervalo a novos choques. E nem isso é o caso desta temporada. 

Perda no bolo nacional 

Se considerar o período pós-Lula de oito anos, entre janeiro de 2011 e dezembro deste ano, a região como um todo perdeu participação relativa nacional de 15,90%. São Bernardo liderou a derrocada no período com queda acumulada de 28,92%. Se mantivesse a participação de 2010 no consumo desta temporada, a região somaria R$ 90.353.894 bilhões, mas só chegará a R$ 75.950.740 bilhões. Uma diferença de R$ 14.403.154 bilhões – mais que uma Santo André inteira. 

A tradução de participação relativa é que a região não acompanha a média de crescimento do consumo do País, mesmo em situações de municípios que avançaram acima da inflação do período. Desse modo, acaba perdendo o ritmo da média nacional. 

A propagação de que a região voltou a ocupar o quarto lugar nacional no potencial de consumo cultiva uma falácia típica de um provincianismo que não se corrige nem mesmo diante do declínio econômico regional ao longo das duas últimas décadas. 

Quando se considera a região como uma megacidade, os oportunistas de plantão esquecem de contabilizar outros territórios semelhantes à mesma interpretação. A Grande Campinas, por exemplo, com 19 municípios, tem acumulado de potencial de consumo muito maior que a região. Sem contar a Grande Porto Alegre, a Grande Salvador, a Grande Belo Horizonte e tantos outros conglomerados de relações econômicas interligadas. 

O avanço da economia no Interior do Estado, por exemplo, se dá no entorno das capitais metropolitanas, casos de Campinas, Sorocaba, São José dos Campos e, suplementarmente, Santos. Foram esses locais que absorveram a debandada industrial na região a partir começo dos anos 1980. 

Doença Holandesa insidiosa

Pior mesmo que privilegiar a Província como única soma de municípios, mesmo numa situação que queda de participação relativa como a desta temporada em relação à imediatamente anterior, é desprezar a realidade dos números. A Doença Holandesa Automotiva que ataca principalmente São Bernardo é alarmante. 

Quando Lula da Silva deixou a presidência da República em dezembro de 2010 o Brasil produziu 3,6 milhões de veículos. Para esta temporada estão previstos 2,5 milhões. A diferença será muito menor que nos anos intermediários desse período. Ou seja: o ritmo de consumo da região depende cada vez mais de uma atividade que descentralizou as plantas produtivas. 

Não contamos com mais de 16% da produção nacional de veículos, mas seguimos dependentes em exagero da atividade que encontra nas lideranças sindicais e lideranças empresariais ancoradas na Anfavea, o Clube das Montadoras, intensa reciprocidade de proteção. Tudo à custa dos contribuintes de todo o País. 

O potencial de consumo da região em 2010, medido pela Consultoria IPC, maior empresa especializada do País, registrava 2,03201% do total nacional. Ou seja: de cada R$ 100 para consumo naquela temporada, mais de R$ 2,03 saiam potencialmente da região. Neste ano, conforme projeção, o resultado não passará de 1.70881%, ou R$ 1,70. Decorre dessa equação a perda de 15,90% no período. 

O peso de São Bernardo é decisivo no desfalque de acumulado de riqueza. Os 28,92% de queda de participação relativa é maior que os 23,17% de São Caetano, que os 15,62% de Santo André, que os 6,54% de Ribeirão Pires e que os 2,51% de Diadema. A pequena Rio Grande da Serra praticamente não perdeu e não ganhou no período, enquanto Mauá foi a única a registrar resultado positivo – 8,70%. 

Perdendo na Metrópole 

Quando se comparam os resultados da região no período com os três maiores municípios à Leste e à Oeste da Região Metropolitana de São Paulo, os números também são desfavoráveis. O que poderia ser considerado um conglomerado não necessariamente interligado como a região, mas de vasos comunicantes mais intensos a partir da inauguração do Rodoanel Mario Covas, sofreu perda de 9,08% de participação relativa no bolo nacional de consumo no mesmo período. 

Ou seja, bem menos que os mais de 15% da região. Osasco, Guarulhos e Barueri, separadamente ou em conjunto, não dependem da indústria automotiva como São Bernardo. São vizinhos regionais beneficiados pelo traçado do Rodoanel em proporção semelhante ao quase isoladamente dos municípios locais dessa obra do governo do Estado. 

Em 2010 (sempre é bom lembrar que essa é a base desse estudo), Osasco, Guarulhos e Barueri contavam com potencial de consumo coletivo de 1.39250% no ranking nacional. Estavam, portanto, 31,47% abaixo do potencial de consumo dos sete municípios da região. Em 2018, segundo projeção da Consultoria IPC, terão 1,26602%. A distância em relação à região cairá para 25,91%. Nunca é demais lembrar que no critério de PIB aqueles três municípios da Grande São Paulo já ultrapassaram a região. O PIB é espécie de alavanca que alimenta o potencial de consumo. Há uma defasagem de tempo para o encaixe de resultados sincronizados. A redução da distância que separa a região e o G-3 Metropolitano em consumo está-se reduzindo gradualmente. 

Guarulhos sofre menos 

O resultado da industrializada Guarulhos ao longo dos oito anos pós-Lula da Silva mostra o quanto São Bernardo é vulnerável à variável automotiva. Enquanto a Capital Econômica da região perdeu participação nacional de 28,92%, Guarulhos registrou 3,60%. O que isso significa? Significa que o Município da Região Oeste da Grande São Paulo é muito mais resistente às oscilações econômicas. Não se pode desprezar os efeitos destrutivos do pós-Lula com a sucessora Dilma Rousseff, principalmente. Foram três anos seguidos (2014, 2015 e 2016) de PIB negativo. Uma sequência que registrou a maior recessão da história do País. 

A comparação entre São Bernardo e Guarulhos é, portanto, pedagógica. Mostra claramente o desnível de resiliência de uma economia pautada pelo protecionismo governamental e pelas chamadas conquistas trabalhistas que atenderam a todos os anseios dos funcionários das montadoras de veículos em detrimentos de outros setores, e um Município de economia diversificada. 

Os demais municípios da região também sofrem com o período pós-Lula, mas de forma menos profunda que São Bernardo justamente porque não são tão dependentes assim das montadoras e também têm contaminação trabalhista menos intensa. Exceção a São Caetano, que também tem montadora de veículos (General Motors) e generosos acertos salariais. Tanto que perdeu no período em participação de consumo nacional nada menos que 23,17%. 

Os outros dois municípios que formam o G-3 Metropolitano tiveram perdas mais pronunciadas que Guarulhos. Osasco sofreu queda de16,74% e Barueri de 12,98%. A soma dos dois municípios daria praticamente a média de rebaixamento da região.

Perdendo nas vitórias 

A queda relativa de 15,90% de participação da região no consumo nacional entre janeiro de 2011 e dezembro deste ano significa que, mesmo nos casos em que se registrou crescimento de valores monetários acima da inflação, os resultados ficaram abaixo da média nacional. Traduzindo: mesmo nos casos positivos, a região acumula prejuízo. 

Santo André é um bom exemplo: em 2010 registrou consumo potencial de R$ 12.933.465 bilhões ante R$ 22.031.421 bilhões anunciados para este ano pela Consultoria IPC. O crescimento nominal de 70,34% está acima da inflação do IPCA de período semelhante, de janeiro de 2011 a dezembro do ano passado. O resultado não consegue apagar o desempenho aquém da média nacional, já que Santo André perdeu 15,62% de participação. 

São Caetano teve desempenho monetário entre 2011 e 2018 um pouco acima da inflação do período: obteve 55,11% de crescimento nominal (ou seja, sem considerar a inflação), passando de R$ 4.069.731 bilhões para R$ 6.312.816 bilhões. O resultado não evitou a perda relativa de 23,17% no bolo nacional. O resultado final em termos monetários dos sete municípios da região nesse período registrou crescimento nominal de 69,77% no potencial de consumo; portanto acima da inflação de 53,84% registrada pelo IPCA. Eram nominais R$ 44.736.708 bilhões em 2010 e serão R$ 75.950.740 bilhões este ano. 

O crescimento nominal dos municípios que compõem o G-3 Metropolitano foi bem maior que os 69,77% da região -- de exatamente 83,55%, ou uma vantagem de 16,50% no período de oito anos. Osasco, Guarulhos e Barueri somavam R$ 30.656.996 bilhões de consumo em 2010 e passaram para R$ 56.270.056 bilhões em 2018 – sempre em números nominais. 



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