Quem acredita que a Província do Grande ABC recuperará o estoque de empregos com carteira assinada do setor industrial deixado pelo presidente Lula da Silva ao final do segundo mandato, em dezembro de 2010, deve se filiar ao bloco dos triunfalistas de plantão que não enxergam um palmo de realidade à frente do nariz. E também à confraria dos ignorantes que, diante do conhecimento agregado de terceiros que não representam mandachuvas e mandachuvinhas, os relacionam a aves de mau agouro. Além de ignorantes, os trombeteiros do paraíso são protetores involuntários ou não de aves de rapina.
Jamais recuperaremos os empregos deixados por Lula da Silva é uma sentença-diagnóstico lastreada na história da região de declínio do setor industrial, cujos estragos contaminam o conjunto da população com a quebra da mobilidade social. Os dados que apresentaremos em seguida corroboram a projeção. Por isso, o melhor mesmo é não perderem tempo ouvindo triunfalistas de plantão. Eles não sabem o que falam.
No ritmo de contratações dos primeiros três meses deste ano, conforme dados primários oficiais do Ministério do Trabalho, teremos nada menos que nove anos para recuperar o desastre pós-Lula da Silva. Esse período tenebroso foi comandado pela então presidente Dilma Rousseff e completado em regime tampão e menos dramático por Michel Temer.
63.674 empregos destruídos
Nesses sete anos (de janeiro de 2011 a dezembro de 2017), a região perdeu em termos líquidos (diferença entre contratações e demissões) um contingente de 63.674 empregos formais no setor industrial.
Quando Lula da Silva deixou a presidência depois de oito anos de governo a bordo de um PIB (Produto Interno Bruto) que cresceu 7,5% naquela temporada, a região contabilizava saldo positivo de 55.638 empregos do setor, contando-se a partir de janeiro de 2003, em substituição a Fernando Henrique Cardoso.
O que veio depois de Lula da Silva dispensaria legenda. Perdemos em média a cada mês 758 trabalhadores industriais. Essa conta é simples: basta pegar o buraco de 63.674 demissões e dividir pelos 84 meses correspondentes aos sete anos pós-Lula.
Recuperamos nos três primeiros meses desta temporada 1.770 trabalhadores industriais. Média mensal de 590. Multiplique 590 por 12 meses e em seguida por nove anos e chegará ao total de 63.720 postos de trabalho. É esse buraco que precisamos tapar. Mas não taparemos. A cronologia reservada é de que teremos cada vez menos empregos industriais. Sazonalidades após fortíssima recessão não podem ser referência de reviravolta.
Sentença desafiadora
Afirmar peremptoriamente, como estou afirmando, que jamais teremos na indústria de transformação o estoque de empregos formais do setor industrial deixado por Lula da Silva não tem nada de atrevimento. Vivemos durante o governo do petista condições excepcionais de crescimento econômico, nas asas de um consumismo que não se sustentou em seguida porque houve sério comprometimento fiscal combinado com o refluxo de exportações de commodities.
O Brasil dos próximos anos crescerá muito abaixo da média do período lulista, rivalizando-se com a média histórica dos últimos 40 anos. E a região, que cresceu menos que o Brasil no período lulista, também crescerá bem menos. As aves de rapina da região são um obstáculo e tanto. Como se não bastassem as sofridas condições de infraestrutura econômica e social. A continuidade de esvaziamento industrial, confirmada por dados oficiais, não é um fatalismo. É a lógica concorrencial. A região perdeu grande parte da atratividade do passado. Nem a logística, ainda desfraldada por incautos, resistiu às mudanças. O trecho sul do Rodoanel, que mais tira do que gera riqueza à região, é prova disso.
Abaixo de FHC
Por causa do governo de Dilma Rousseff e do complemento até dezembro do ano passado com Michel Temer, o saldo petista na presidência da República a partir de janeiro de 2003 é negativo no setor industrial. Sempre considerando Temer como sequência petista, até porque pegou o rabo de foguete de uma economia nacional em decomposição, foram perdidos em 15 anos o total de 4.536 postos industriais em relação ao legado nefasto do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ou seja: o legado petista conseguiu rebaixar o estoque dos estragos que pareciam insuperáveis de FHC. Tudo isso apesar de um período de glórias no segundo mandato do presidente Lula da Silva. O petista somou saldo de 55.638 empregos industriais formais em oito anos.
Só para se ter uma ideia de como a cronologia do emprego industrial é devastadora na região, basta lembrar que em 1994, primeiro ano do Plano Real, que colocou ordem na casa monetária do País e provocou série de grandes mudanças macroeconômicas, contávamos com 276.650 empregos do setor. Mesmo com os anos dourados de Lula da Silva, ao final de 2010 a região contabilizava 249.472 trabalhadores. Aí veio, principalmente, Dilma Rousseff, e regredimos barbaramente.
O período pôs-Lula da Silva levou a região a registrar o que chamaria de hexacampeonato em perda de emprego industrial. Exceto no primeiro ano pós-Lula, em 2011, quando o governo Dilma Rousseff registrou saldo positivo e acumulou 60.247 trabalhadores como estoque desde a chegada do PT a Brasília, nas demais temporadas só se acumularam derrotas. Seis anos seguidos de perdas. Situação que deverá, finalmente, ser interrompida nesta temporada. Recuperação é suficiente para os enganadores de plantão pretenderem dourar a pílula.
Santo André emblemática
A Província do Grande ABC não recuperará o estoque de empregos deixado por Lula da Silva entre outros motivos porque, desde os anos 1980, vem acumulando perda de participação do setor na economia regional tanto em números absolutos como relativos.
Santo André é exemplo emblemático. Antigo “viveiro industrial” cantado no hino oficial, nos anos 1960 registrava mais de 50% dos empregos formais ligados diretamente à indústria. No ano passado, como consequência de rota irreversível, a participação do setor caiu para 14%. Ou seja: de cada 100 empregos com carteira assinada, apenas 14 estão na indústria.
É o menor nível de participação na região. Com a desvantagem de que o setor de serviços, que mais cresceu no período, é um dos mais pobres em agregado de valor do G-22, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo (exceto a Capital), completado por Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
O roteiro econômico da Província está traçado. Não existe perspectiva institucional, além de econômico, a alterações. Os mandachuvas e mandachuvinhas não se dão conta disso.
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