Economia

Hora de reagir

DANIEL LIMA - 05/04/1997

O planejamento econômico do Grande ABC já não é mais abstração dos otimistas. A febre de organização estimulada pelo Fórum da Cidadania, florescida pelo Consórcio Intermunicipal e, acredita-se, em fase de ensaio de sistematização pela Câmara Regional, atinge também os Municípios de forma individual. O lançamento do Fórum de Desenvolvimento de Mauá, no mês passado, e evento semelhante programado para dia 25 deste mês em Ribeirão Pires revelam a face de preocupação do Poder Público com a influência da economia no desenvolvimento social. 

O Fórum lançado na sede do SESI, em Mauá, diante de platéia compacta, foi uma oportunidade para o prefeito petista Oswaldo Dias reiterar a necessidade de parceria com a sociedade e a livre-iniciativa para recuperar a atratividade do Município e também para chorar o leite derramado da megadívida deixada pelos antecessores. 

O Fórum de Desenvolvimento Econômico de Mauá apresentou rápido painel de expositores, além do prefeito Oswaldo Dias. Edson Rodrigues Ferreira, um dos coordenadores da Cives, Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania, entidade com forte tendência social, confessou-se surpreso com o convite para marcar posicionamento a respeito da economia local. 

Preferiu, por isso, falar brevemente da instituição. Seu discurso foi pendular, entre a necessidade de o empresariado olhar para o social, numa pregação de capitalismo responsável, e de a sociedade também compreender os reveses que sacrificam os empreendedores de pequeno porte, pressionados pela globalização. 

Tão breve quanto Edson Rodrigues foi Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que reúne trabalhadores de São Bernardo e Diadema. Marinho defendeu a importância de interfaces entre os Fóruns Municipais e a Câmara Regional, nova e mais importante instância de poder no Grande ABC. 

Fausto Cestari, diretor-titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra e titular do Grupo de Desenvolvimento Econômico do Fórum da Cidadania, foi mais extenso e incisivo. Chamou a atenção para o fato de Mauá constituir-se em periferia dos núcleos mais desenvolvidos da região e, por isso mesmo, exigir medidas profundas para alterar seu quadro sócio-econômico. E vê horizontes nesse sentido, decorrentes de esperados investimentos no Pólo Petroquímico de Capuava, maior fonte de receitas tributárias do Município mas agregador de número limitado de empregos. 

Cestari afirmou que tanto o Pólo Petroquímico como os efeitos de investimentos em Cubatão, mais precisamente na Cosipa, Companhia Siderúrgica Paulista, poderiam reverter no dinamismo industrial do Grande ABC, através da criação de novas pequenas e médias indústrias nos setores de transformação de petroquímicos e de estamparia. 

Kapaz, maior atração

A maior atração do evento foi Emerson Kapaz, secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo. Além de acenar com várias contribuições que exigem parcerias no Grande ABC, Kapaz sugeriu que o Fórum de Mauá seja transformado, de fato, numa ADL, Agência de Desenvolvimento Local, projeto que o governo estadual planeja ver multiplicar-se na Grande São Paulo, Litoral e Interior. 

Na platéia, entre empresários, executivos públicos, lideranças políticas e comunitárias, Jorge Hereda, secretário de Planejamento de Ribeirão Pires, resolveu ocupar o microfone para anunciar o lançamento do Fórum local neste dia 25 de abril, também com programação da qual constarão formadores de opinião e tomadores de decisão. 

Hereda levou para Ribeirão Pires toda experiência acumulada também como secretário da Prefeitura de Diadema na gestão passada, quando participou ativamente de estudos sócio-econômicos executados pelos IMES, Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano. O censo, objeto raro nas desestruturadas Prefeituras da região, que até o ano passado relegaram o planejamento econômico à marginalidade do descaso, é importante fonte de informações para a monitoração econômica de Diadema. 

O problema de Diadema agora não é mais falta de banco de dados no setor, como os demais Municípios da região, mas o impressionante vacilo da nova administração do prefeito Gilson Menezes em acompanhar o reconfortante acesso de atenção local e regional à atividade-chave da recuperação regional. Até o final de março, Gilson Menezes continuava a estimular a imaginação de alguns e a irritação de outros quanto ao escolhido para dirigir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. 

Como essas novelas mexicanas que desfilam canastrões interminavelmente, o prefeito de Diadema transformou a escolha numa sequência de idas e vindas que, afinal, acabou por abater sua própria credibilidade como defensor da integração regional sob bases sólidas.



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