A decadência sistemática da economia da região (puxada pela Capital Econômica São Bernardo) segue a comprometer o desempenho dos sete municípios no Campeonato Brasileiro de Qualidade de Vida, como poderia ser chamado o IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal). O macroindicador da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, que coleta dados nacionais de Educação, Saúde e também de Emprego e Renda, foi anunciado ontem com os resultados de 2016.
No conjunto, ou seja, na classificação geral que leva em conta os três indicadores pesquisados, a região tem representantes na Série A e na Série B. Mas vai de mal a pior no indicador que dá sustentação à sociedade: Emprego e Renda.
São Bernardo de um sindicalismo que não mudou o roteiro de reivindicações corporativas e de uma centralidade nociva da indústria automotiva, nossa Doença Holandesa, é o Município da região que mais sofreu perdas desde que o indicador foi lançado em 2005. No Campeonato Brasileiro de Emprego e Renda, São Bernardo caiu do 436º para o 913º lugar. Uma hecatombe. O índice de 0,5903 de 2016, anunciado pela Firjan, coloca São Bernardo na Série C da categoria.
Economia compromete
Também estão na Série C do Brasileiro de Emprego e Renda Ribeirão Pires com o índice de 0,5969 (em 848º lugar), Mauá com 0,5233 (em 1.598º) e Diadema com 0,5983 (em 835º). Santo André com 6845 (em 256º) e São Caetano com 0,6844 (em 257º lugar) ocupam a Série B do Brasileiro. Na Série D está Rio Grande da Serra, com índice de 0,3219 e em 4.860º lugar no País.
Não fosse a catástrofe em Emprego e Renda puxada por São Bernardo, a situação da região teria registrado resultados satisfatórios na comparação que envolve 11 anos de indicadores. Em praticamente todos os quesitos os sete municípios locais apresentaram evolução numérica em Educação e Saúde.
Mas, mesmo observando o quadro geral sob esse aspecto, não é possível descartar uma realidade que se consolida: estamos perdendo a competitividade também quanto se trata de qualidade de vida sugerida pelos três indicadores e o macroindicador que registra o resultado final e o ranking nacional.
Exceto Santo André, que melhorou a classificação no ranking geral do Campeonato Brasileiro de Desenvolvimento Municipal aferido pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, os demais municípios só perderam terreno. Santo André ocupava a 122ª posição geral em 2005 e passou para a 66ª no ranking de 2016. Já São Bernardo ocupava a 58ª posição nacional e caiu para 164ª. Quem despreza o desenvolvimento econômico acaba se dando mal mesmo.
O desabamento de São Caetano no ranking nacional da Firjan foi mais emblemático porque ocupava a primeira posição em 2005 e agora é a 11ª colocada na classificação geral. O índice geral de São Caetano caiu de 0,9251 para 0,8773. Mesmo assim está acima do de Santo André, segunda colocada regional, com 0,8532. Diadema caiu do 156º posto para o 429, Mauá do 446º para o 598º, Ribeirão Pires do 208º para o 221º e Rio Grande da Serra da 1.339ª colocação para a 2.056ª.
O Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal adota metodologia semelhante à do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), ou seja, varia de zero (mínimo) e um ponto (máximo) para classificar o nível de cada cidade em quatro categorias – Desenvolvimento Baixo (Série D do Brasileiro) de 0 a 0,4; Desenvolvimento Regular (Série C) de 0,4001 a 0,6; Desenvolvimento Moderado (Série B) de 0,6001 a 0,8; e Desenvolvimento Alto (Série A) de 0,8001 a 1.
Caçapa cantada
Escrevi em junho de 2014, quando saíram os resultados de 2011: “Tudo indica que nas próximas edições do Índice Firjan na modalidade de Emprego e Renda o conjunto dos municípios da região poderá ter números ainda piores, quem sabe descendo de categoria”.
Naquela oportunidade, registrei a queda geral da região no indicador de Emprego de Renda. ‘O IFDM de Emprego e Renda foi o único indicador que recuou em 2011 no conjunto de mais de cinco mil municípios brasileiros. Passou de 0,7261 para 0,7219 ponto (-0,6%). O número de municípios com Alto Desenvolvimento caiu de 124 para 97, enquanto o de municípios com Baixo Desenvolvimento aumentou de 1.624 para 1.686. Os dados, segundo os especialistas da Firjan, refletem a desaceleração de postos de trabalho com carteira assinada superior a 23% ao registrado no ano anterior” – escrevi.
Conceitos de desigualdade
O Índice Firjan de Emprego e Renda contempla conceitos de desigualdade e absorção da mão de obra local. O primeiro indicador incorpora ao cálculo do IFDM o Índice Gini, medido a partir de remuneração dos trabalhadores com carteira assinada, iniciativa que permite avaliar a concentração da renda gerada no mercado de trabalho local. Já o conceito de absorção da mão de obra local, segundo relatório de especialistas da Firjan, mede a capacidade de cada Município de absorver a população local através da relação entre o estoque de trabalhadores com carteira assinada e a população em idade ativa. Nessa vertente, o indicador substituiu a variável salário pela massa salarial, de forma a captar a relevância econômica do Município e o seu potencial de servir como vetor de desenvolvimento para outras cidades.
Cinco variáveis são consideradas no Campeonato Brasileiro de Emprego e Renda da Firjan: geração de emprego formal, absorção da mão de obra local, geração de renda formal, salários médios do emprego formal e desigualdade.
O que tudo isso significa? Escrevi em 2011: “O glamour do setor automotivo, no qual as montadoras de veículos de passeio, principalmente, transmitem a sensação de que vivemos no Primeiro Mundo, não passa de ilusão. Mais que isso: confirma amplamente uma reportagem de capa que produzimos para a revista LivreMercado em janeiro de 2001. Naquela edição, mostramos o quanto o emprego na Província do Grande ABC era subdividido entre trabalhadores de primeira, de segunda e de terceira classe”.
Infelizmente, como tudo continua como estava, é desnecessário alguma nova frase para dizer a mesma coisa. Basta copiar. E lamentar.
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