São Bernardo, como temos alertado seguidamente, é um desastre cada vez mais pronunciado no setor econômico. Tanto que ocupa a zona de rebaixamento num agregado de microdados relacionados ao mercado de trabalho do G-22, grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, acrescido de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, que completam a representação da região. A Capital do Estado não faz parte do agrupamento.
Deformada ao longo dos anos pelos efeitos da Doença Holandesa Automotiva (que contamina a região), São Bernardo só é menos sofrível em Emprego e Renda que Mauá, Rio Grande da Serra e Sumaré quando se leva em consideração a série de quesitos do que chamamos de Campeonato Brasileiro de Desenvolvimento Municipal criado pela Firjan, Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, relativo ao ano de 2016.
Mais uma vez pegamos à unha os dados do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) e os organizamos tendo o G-22 como compartimento de comparação. Essa metodologia (ou seja, comparar os municípios da região, individualmente ou em conjunto com outros territórios economicamente importantes) é um antídoto contra triunfalismos inconsequentes que evitam confrontos de indicadores sociais e econômicos com outras localidades, geralmente porque os resultados são desagradáveis.
Entre os últimos
São Bernardo ocupa a Série C do Campeonato Brasileiro no critério de Emprego e Renda (os outros dois são Educação e Saúde). A pontuação de 0,5903 (quanto mais próximo de 1,0 melhor), significa a 913ª posição no ranking nacional. Um desenlace sofrível quando se leva em conta, por exemplo, que São Bernardo está na 15ª colocação no ranking do PIB (Produto Interno Bruto) Nacional.
No G-22 criado e administrado por CapitalSocial, São Bernardo só é melhor que Rio Grande da Serra (0,3219) e Sumaré (0,5332). Perde até para Ribeirão Pires (0,5969) no grupo de rebaixamento, reservado aos quatro últimos colocados.
Os quesitos que compõem o indicador de Emprego e Renda do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal são sólidos e contribuem para gerar retrato denso da situação de cada Município. São contabilizados dados do mercado de trabalho com carteira assinada tanto de geração de emprego como taxa de formalização, passando pela geração de renda e massa salarial real, além do índice de Gini de desigualdade de renda. Tudo isso forma um coquetel analisado detidamente por especialistas da Firjan, sempre com base em dados oficiais.
A situação em Emprego e Renda de São Bernardo é mascarada em períodos como o do segundo mandato de Lula da Silva, quando o mercado automotivo encontrou campo fértil de demanda. Basta um período menos intenso em consumo para as vísceras aparecerem.
Contradição socialista
São Bernardo, ironicamente, é um endereço de desigualmente no mercado de trabalho. Os resultados que se repetem praticamente a cada nova temporada chutam a escanteio a pregação sindical de valorização dos trabalhadores sob princípios socialistas. Na realidade, apenas nas montadoras de veículos e nas autopeças no entorno de suprimento daquelas multinacionais os contratos de trabalho são de primeira classe. Muito distante da média regional. E também muito acima das demais localidades que contam com o setor automotivo. Por isso que cada vez mais perdemos competitividade no setor. E afugentamos novos investimentos -- inclusive em outras atividades produtivas. A lógica é fugir do chamado Custo ABC no setor industrial.
Um grupo de elite de trabalhadores e empresas, geralmente protegidos pelo lobby das montadoras e dos sindicalistas no governo federal, contrasta com o universo do setor produtivo em São Bernardo. Pequenas empresas industriais que não abandonaram a região ou desapareceram do mapa, ou não foram adquiridas por grupos multinacionais, seguem engordando as estatísticas de fragilidade.
Mas a vitrine das montadoras é o que mais importa aos sindicalistas que seguem aliados às grandes montadoras para arrancar novas benesses fiscais. Como o programa Rota 2030, que substituirá o Inovar-Auto, de graves consequências ao conjunto da economia nacional, segundo especialistas macroeconômicos.
Apenas três dos integrantes do G-22 constam da Série B do Campeonato Brasileiro de Emprego e Renda. Os resultados estão acima do índice de 0,7000. O Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal define como Baixo Desempenho (Série D) resultados que vão de 0,0 a 04. Já o Desenvolvimento Regular (Série C) vai de 0,4 a 0,6. Desenvolvimento Moderado (Série B) vai de 0,6 a 0,8. Alto Desenvolvimento (Série A) flutua entre 0,8 e 1,0.
Estragos da recessão
Os estudos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro publicados na semana passada mostram que a recessão que o Brasil passou nos últimos anos influenciou fortemente o mercado de trabalho. Entre 2015 e 2016 foram fechados quase três milhões de postos de trabalho formais no País, “fator decisivo para interromper a trajetória de desenvolvimento socioeconômico dos municípios. Informa também que em 2016 apenas 2.254 municípios registraram geração de empregos, ou seja, quase 60% das cidades no Brasil fecharam postos de trabalho, incluindo capitais e grandes centros econômicos. No caso da região, conforme série de matérias que produzi, nenhum Município escapou da degola. São Bernardo e Diadema lideraram as perdas exatamente porque dependem mais do setor automotivo.
O Desenvolvimento Econômico do Brasil como um todo está muito aquém dos indicadores de Saúde e Educação do IFDM. Tanto que o boletim da Firjan explica que o indicador de Emprego e Renda sempre foi a vertente com menor quantidade de cidades com desenvolvimento alto e moderado (Série A e Série B do Campeonato Brasileiro). “No entanto, o cenário de recessão dos últimos anos reduziu ainda mais esse grupo. O País levou sete anos para incluir 103 municípios no grupo dos que possuem desenvolvimento alto ou moderado na vertente Emprego e Renda; contudo, em apenas três anos a crise conseguiu retirar 936 municípios dessa categoria. Apenas cinco cidades conquistaram o alto desenvolvimento nessa vertente, pior resultado na série história” – afirmam os especialistas da Firjan.
Veja a classificação do G-22 em Emprego e Renda que preparamos com base nos resultados da IFDM:
1. Paulínia com índice de 0,7557, em 46º lugar no ranking nacional.
2. Santos com índice de 0,7151, em 151º lugar no ranking nacional.
3. Piracicaba com índice de 0,7046, em 190º lugar no ranking nacional.
4. Santo André com índice de 0,6845, em 256º lugar no ranking nacional.
5. São Caetano com índice de 0,6844, em 257º lugar no ranking nacional.
6. Mogi das Cruzes com índice de 0,6830, em 270º lugar no ranking nacional.
7. Jundiaí com índice de 0,6815, em 273º lugar no ranking nacional.
8. São José do Rio Preto com índice de 0,6808, em 281º lugar no ranking nacional.
9. Ribeirão Preto com índice de 0,6745, em 309º lugar no ranking nacional.
10. Campinas com índice de 0,6635, em 370º lugar no ranking nacional.
11. Osasco com índice de 0,6606, em 391º lugar no ranking nacional.
12. Barueri com índice de 0,6560, em 419º lugar no ranking nacional.
13. Sorocaba com índice de 0,6478, em 477º lugar no ranking nacional.
14. Guarulhos com índice de 0,6238, em 634º lugar no ranking nacional.
15. São José dos Campos com índice de 0,6159, em 683º lugar no ranking nacional.
16. Taubaté com índice de 0,6009, em 815º lugar no ranking nacional.
17. Diadema com índice de 0,5983, em 835º lugar no ranking nacional.
18. Ribeirão Pires com índice de 0,5969, em 848º lugar no ranking nacional.
19. São Bernardo com índice de 0,5903, em 913 posição no ranking nacional.
20. Sumaré com índice de 0,5332, em 1457º lugar no ranking nacional.
21. Mauá com índice de 0,5233, em 1598º lugar no ranking nacional.
22. Rio Grande da Serra com índice de 0,3219, em 4860º lugar no ranking nacional.
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