A região de sete municípios e quase três milhões de habitantes perdeu nos últimos sete anos um contingente de 716 empresas de médio e grande porte. Quando se contabilizam as pequenas empresas a perda cai para 588 empreendimentos. O fenômeno atinge também a maioria dos municípios brasileiros. A diferença é que aqui o grau de complicações é mais avançado com o processo de desindustrialização que persiste, embora menos agressivo que nos anos 1980-2000.
O que estamos vivendo na região é um estágio econômico que chamaria de miniaturização do universo empresarial. A expressão significa que empresas de maior porte estão sendo substituídas por em muito maior volume por microempreendedores individuais (MEI) e microempresas (ME) com até nove funcionários.
Trocando em miúdos: o resultado desse remelexo não pode ser instrumentalizado mesmo que de forma semântica, quase que em forma de fake news, como dado positivo, porque no cômputo geral aumentou o número de representações empresariais.
Contar com mais empresas não quer dizer nada na situação em que se encontra a região. Aliás, quer dizer muita coisa sim, mas negativa e preocupante. Muitos microempreendedores individuais e microempresários são consequências da fragilização continuada das pequenas, médias e grandes empresas. O desemprego regional, quando não a estagnação do número de trabalhadores no setor industrial num balanço dos últimos 15 anos, cede espaço ao salve-se-quem-puder de empregos (e empreendimentos) nos setores de comércio e serviços, de baixo valor agregado. Isso mesmo, baixo valor agregado, porque a região perdeu feio a corrida por um terciário tecnologicamente avançado.
Interpretação correta
Os dados estatísticos que municiam mais esse estudo (algo que seria obrigação dos agentes econômicos da região, perdidos como baratas em galinheiro) são da Consultoria IPC, do pesquisador Marcos Pazzini. Diretor da maior empresa especializada em potencial de consumo no País, Marcos Pazzini trabalha com dados primários de diferentes organizações governamentais. Pegamos o touro dos dados à unha e chegamos à catástrofe que impacta sobretudo grandes e médias empresas.
Entretanto, é preciso fazer uma ressalva para não incorrermos nos mesmos equívocos deliberados ou não de outras fontes de informações. A perda de 716 empresas de grande e médio tamanho na região entre abril de 2011 e abril deste ano é um número que merece reflexão. O resultado metabolizado não significa necessariamente que a totalidade dessas empresas desapareceu ou se transferiu da região. Mas significa que, em larga escala, tanto uma coisa quanto outra sejam prevalecentemente verdadeiras.
Em abril de 2011 a região contabilizava o CNPJ de 9.118 empresas com entre 10 e 99 funcionários de carteira assinada. Em abril deste ano estavam registradas 9.246 empresas. Em abril de 2011 eram 1.291 médias empresas que registravam entre 100 e 499 colaboradores formais. Em abril deste ano eram 746 empresas. Já entre as grandes empresas, eram 302 endereços na região em abril de 2011, ante 131 em abril deste ano. Na soma de sete anos eram 1.593 empresas de médio e grande porte. Em abril deste ano sobraram 877.
Explicando os números
Não está descartada a possibilidade de que parte de empresas que supostamente desapareceram como sediadas nos sete municípios da região continuem a atuar na região. As organizações teriam apenas diminuído de tamanho. Entretanto, é pouco provável que os estragos não tenham sido profundos. Afinal, há perda líquida de empreendimentos em duas das três faixas de trabalhadores que as caracterizam como grandes, pequenas e médias. Os 5,5% de quebra geral nas três faixas, portanto, não podem ser minimizados. No máximo, seriam atenuados. Principalmente quando se verifica que entre médias e grandes empresas houve quebra de 45% no período de sete anos.
O que parece fora de qualquer discussão lógica é que os pequenos empreendimentos de 10 a 99 colaboradores só aumentaram a representação na região por conta não só dos desempregados de médias e grandes empresas que viraram empreendedores como também de novas levas de trabalhadores que entraram no mercado como empregadores ou trabalhadores.
Os dados estatísticos gerais, que contabilizam todos os empreendimentos registrados nesta temporada, são um prato cheio ao triunfalismo inconsequente. Afinal, mitiga a importância do desaparecimento (e também do enxugamento) de grandes e médias empresas e se enaltece o número de empreendimentos de menor porte, principalmente de microempreendedores individuais e microempresários.
Se entre médias e grandes organizações o balanço indica perda de 711 empreendimentos, entre os microempreendedores individuais e microempreendedores o total registrado em 2011 saltou de 139.376 para 276.099 negócios nesta temporada.
É preciso desconhecer completamente a realidade regional, ou conhecer a região suficientemente para se tornar um vigoroso manipulador, para colocar o número de empreendimentos no altar de suposto desenvolvimento econômico. Não há um indicador econômico sequer que, na origem da pesquisa, em 2011, até abril último, resista ao bombardeio de uma realidade dramática: a região está se apequenando economicamente.
Esse apequenamento não se restringe ao genoma de empreendimentos que geram desenvolvimento, mas, sobretudo num aspecto dilacerante: quanto mais empreendedores disputam um mesmo território em queda na geração de riqueza, mais se estabelece espécie de carnificina social.
Quando uma sociedade se engalfinha em busca de alternativas de renda, a cidadania é automaticamente assassinada. Por essas e outras a região há muito deixou de ser Grande ABC e virou Província.
Total de 1894 matérias | Página 1
21/11/2024 QUARTO PIB DA METRÓPOLE?