Estou preparando (ou melhor, finalizando) um estudo e uma metodologia que vão resultar num indicador que vai medir o equilíbrio salarial dos integrantes do G-22, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, além de Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, que completam o time regional, e exceto a Capital do Estado.
Provisoriamente, chamaria o macroindicador de IES (Índice de Equilíbrio Salarial). Pode ser que até ser lançado, semana que vem, mude o rótulo. Mas os condimentos já estão bem encaminhados.
Uma das coisas que mais me encantam no jornalismo são os indicadores econômicos e sociais. Organizar dados e sistematizá-los tendo em vista determinados conceitos formam uma cadeia de constatações que auxiliam tremendamente nas análises, nas observações, em tudo que se faça na área de comunicação.
A região não passa de um quarto escuro visto pelo buraco da fechadura quando se desprezam indicadores locais e externos. É isso que invariavelmente a mídia regional patrocina no intuito mais que evidente de enganar o distinto público.
No começo deste século, ainda na revista LivreMercado, criei juntamente com um grupo de voluntários o que chamamos de IEME (|Instituto de Estudos Metropolitanos). Levamos o trabalho até onde foi possível. Reunia uma dúzia e meia de indicadores de municípios de áreas metropolitanas. A eficiência da ação resultou na vitória de São Caetano nas três ou quatro edições realizadas. Os estudos envolviam áreas de administração pública, criminalidade, indicadores sociais e indicadores econômicos. Era um coquetel de informações atiradas aos ventos até que botamos tudo no mesmo compartimento de avaliação.
Desequilíbrios automotivos
Decidi pela produção do Índice de Equilíbrio Salarial porque nos últimos anos mergulhei nos dados do Ministério do Trabalho e Emprego. Observei atentamente o movimento das pedras do emprego formal. Constatei algumas situações sobre as quais escrevi várias matérias. Uma das quais consolidava a desconfiança de que a indústria de São Bernardo, fortemente influenciada pelos desequilíbrios do setor automotivo e pela ação do sindicalismo corporativo por excelência, era mais um obstáculo do que solução ao futuro tanto municipal quanto regional.
Já disponho de alguns números preliminares e também de ensaios da metodologia a ser aplicada no IES. Diria que já caminhei mais de dois terços desse percurso que pretende unir dados consolidados e avaliações contundentes.
Sem jogar na lata do lixo o critério de suspense que pretendo manter até a divulgação do macroindicador com as respectivas considerações, diria preliminarmente, considerando-se insumos já coletados, que São Bernardo das montadoras e autopeças confirmará a premissa de que vai se dar mal no ranking do G-22. Como se deu, aliás, no ranking do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal, sobre o qual escrevemos vários textos nos últimos dias. Inclusive ao enquadrar os resultados do Ipea (Instituto de Pesquisas Aplicadas) na bitola do G-22.
Uma guerra perdida
Creio sinceramente que o quadro regional será contaminadíssimo pelos dissabores de baixíssimo equilíbrio que emergirão de São Bernardo. Textos que produzimos há algum tempo dando conta da questão de assalariamento na região já expunham a possibilidade de batermos a cara na porta de condições nocivamente consolidadas de São Bernardo.
A Doença Holandesa Automotiva foi implantada praticamente para durar décadas a fio. A associação entre montadoras protegidíssimas pelo governo federal no tratamento fiscal e trabalhista e os sindicalistas falsamente socialistas, porque corporativistas por excelência, transformou a competitividade salarial de São Bernardo em batalha perdida.
Diria mais: mais que uma batalha perdida, São Bernardo perdeu a guerra do jogo democrático de atratividade de empresas quando se leva em conta o chamado Custo ABC, que tem a questão salarial como impedimento compulsório num ambiente nacional de competição renhida.
Não pretendia adiantar nenhum conceito do Índice de Equilíbrio Salarial que lançaremos antes da decisão da Copa do Mundo, mas há algo importante que precisa ser reiterado. Equilíbrio salarial não significa, necessariamente, que o Município que lideraria o ranking do G-22 seria o mais rico e apetrechado.
Privilégios condenatórios
A própria denominação deixa evidenciado que nosso objetivo é medir para valer e sem sofismas o quanto determinado Município (melhor dizendo, o quanto todos os 22 municípios do agrupamento) revelam-se socioeconomicamente ajustados a preceitos que valorizem aspectos que harmonizam as relações sociais.
Não entra na minha cabeça que é menos dura do que imaginam os detratores de sempre (se o fosse não mergulharia diariamente durante horas em leituras múltiplas em busca de tudo que signifique conhecimento agregado) que os privilégios a uma determinada categoria profissional (estou me referindo diretamente aos metalúrgicos de São Bernardo, mais especificamente das montadoras de veículos) signifiquem vantagens comparativas frente às concorrentes em busca de investimentos.
Distante disso: a derrocada de São Bernardo nas últimas décadas (e ainda há estúpidos na praça que dão entrevista ao Diário do Grande ABC e afirmam que não houve e não há desindustrialização por aqui) se dá exatamente porque se criou a fórceps uma elite de trabalhadores que servem como vitrine de grupos de sindicalistas a usufruir desses resultados consolidados.
Laboratório questionador
Vou produzir os dados finais do Índice de Equilíbrio Salarial neste final de semana, mas pelo ensaio geral vai ficar muito ruim para quem vende ilusões na praça. Ficará provado que trabalhadores de classes distantes em teremos salariais abrem fossos sociais e econômicos que no futuro mais açodam do que auxiliam a construção de uma sociedade cooperativa. No caso de São Bernardo, o futuro já virou presente desde muito tempo.
Devo lembrar que o Índice de Equilíbrio Salarial não será uma ação restrita ao insumo básico de quanto os trabalhadores recebem em suas atividades. Ainda estou delineando algumas ações paralelas e complementares que envolverão outros indicadores, inclusive fora da bitola econômica.
O G-22 significa um laboratório de valor extraordinário porque aproxima municípios separados geograficamente. Essa aproximação converte-se em referências mais que importantes em vários vetores econômicos, principalmente, e certamente, em outras áreas. É isso que procuraremos aprofundar na sequência do trabalho.
Tudo isso, embora com exemplos no passado, como mencionei um pouco acima no texto, pouco importa à maioria dos chamados formadores de opinião e tomadores de decisão nesta Província que se especializa, ano após ano, em ser pior que antes.
Péssimos sucessores
Basta selecionar os agentes da sociedade que atuaram por volta da metade da última década do século passado, e mesmo no começo deste século, e confrontá-los com os que estão em posição de comando nestes dias tenebrosos. Há uma seleção de incondicional compadrio cruzado e de incompetência generalizada, quando não uma orquestração deliberada e destinado a malfeitos que nenhuma Lava Jato seria capaz de atemoriza-los.
A região está sistemicamente corroída. Pobres daqueles que pretendam quebrar a rotina de insensibilidade, porque não serão perdoados. Por isso, produzir e sistematizar dados que desnudem os municípios mais importantes do Estado de São Paulo é uma maneira de chamar à atenção para o conjunto de mediocridades que nos cercam.
Quem sabe um dia a maioria inquieta com os rumos da região resolva deixar seus respectivos quadradinhos e se junte para enfrentar os bandidos sociais que não arredam pé dos podres poderes?
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