Dos 174.988 trabalhadores com carteira assinada em Santos, 60,78% estão no setor de serviços. Dos 252.289 trabalhadores formais de São Bernardo, 29,70% constam do setor industrial. Expostos estes números, o leitor saberia responder quem está na frente no ranking do IES (Índice de Equilíbrio Salarial) que envolve o G-22, grupo dos 20 maiores municípios paulistas, além de Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires, que completam a participação desta região?
Saberia responder o leitor quem leva vantagem em alguns indicadores socioeconômicos que juntei?
Quem acredita que a indústria de transformação move montanhas e resolve todas as paradas está enganado. Santos é socialmente muito melhor que São Bernardo a partir do balanço salarial. Há menos desigualdade social em Santos quando se verifica o mundo do trabalho. A Doença Holandesa Automotiva de São Bernardo provoca erupções sociais, como tenho reiterado para desgosto de sindicalistas oportunistas e mandachuvas automotivos.
Esta análise é um novo desdobramento da invenção que criei para diagnosticar em vários vetores o comportamento dos integrantes do G-22. O Índice de Equilíbrio Salarial é uma arte engenhosa porque estou convicto de que a Capital Econômica da região é um engodo socioeconômico cujos desvarios não têm paradeiro.
Aura de desenvolvimento
As montadoras de veículos, principalmente, e o sindicalismo de resultados (exclusivamente para si próprio) criaram uma aura de desenvolvimentismo que não combina com alguma coisa que poderia ser rotulada de igualdade social. Distante disso, aliás. Os cutistas-petistas, pregadores do socialismo, desprezam uma das origens dos contrastes da região, ou seja, o setor automotivo forjado por eles e o patronato multinacional, com favorecimentos mútuos extraídos do governo federal. Favorecimentos que contam com a retaguarda da mídia em geral, relapsa no tratamento dos subprodutos sociais de privilégios de classe.
Santos ocupa a primeira colocação no ranking do Índice de Equilíbrio Salarial (a classificação completa ainda não será divulgada, embora já esteja pronta, entre outros motivos porque tenho muito o que escrever a respeito), enquanto São Bernardo amarga a 18ª colocação entre os integrantes do G-22. Não custa lembrar que a Capital do Estado não consta desse conjunto de municípios porque o gigantismo dos números (sozinha, São Paulo é maior que o G-22) provocaria distorções.
Como se explica tanta diferença classificatória se São Bernardo tem estrutura salarial, de sustentação social, no setor industrial, enquanto Santos depende principalmente, embora não apenas, de serviços?
Essa não deveria ser uma pergunta, mas a própria resposta. Com a influência mesquinha, porque olha para o próprio umbigo, da associação entre sindicalistas e montadoras, as distorções salariais em São Bernardo são latentes, frente a outras atividades econômicas.
Já no caso de Santos, cuja âncora empregatícia são os serviços, há muito mais do que chamaria de homogeneidade na distribuição salarial entre todos os setores de relevância.
Distorção complicadora
Em São Bernardo, 29,70% dos empregos formais estão no setor industrial. São 74.939 trabalhadores. A participação relativa na totalidade de empregos com carteira de trabalho é bastante inferior à massa salarial geral, de 45,82%. Quando ocorre essa distorção (e escrevo com base em outros dados ainda não revelados, mas já consolidados), a consequência natural é o desequilíbrio socioeconômico. Tanto que os últimos classificados no ranking do IES são municípios fortemente industrializados. E igualmente submetidos às forças corporativas de sindicatos e grandes empresas de uma determinada atividade.
Os trabalhadores da indústria em São Bernardo recebem em média R$ 5.552,25 mensais. Os dados que utilizo nesses estudos se referem ao balanço geral do Ministério do Trabalho e Emprego de dezembro de 2016, o mais atualizado à consulta.
Foi a atividade industrial que balizou a participação salarial relativa dos setores de comércio, serviços e construção civil em São Bernardo. O salário médio de cada uma dessas atividades foi confrontado com o salário médio industrial. Quanto maior o quociente, menor a defasagem.
Média salarial e massa salarial
Em São Bernardo o salário médio do comércio representa 0,4134 do setor industrial, ante 0,5082 de serviços e 0,4787 da construção civil, sempre numa escala em que 1,000 significa a perfeição, por assim dizer. No cômputo geral, somando-se aqueles três setores referenciados pela indústria, São Bernardo registra média geral de 0,4668, classificando-se na Série C do Campeonato de Equilíbrio Salarial do G-22.
O setor de serviços é a atividade-âncora de salários em Santos, mas está milimetricamente adiante das demais. Dos 174.988 trabalhadores registrados (inclusive na Administração Pública), 114.484 estão nos serviços. Ou 65,42% do total. A participação dos assalariados de serviços na massa de vencimentos mensais é semelhante: 60,78% do dinheiro dos pagamentos aos trabalhadores são direcionados aos ocupantes de serviços.
Notaram que essa semelhança numérica não existe em São Bernardo, onde, repetimos, há distanciamento entre uma coisa e outra, ou seja, entre a participação relativa e massa salarial dos trabalhadores industriais?
Ora, bolas, como não existe discrepância entre os salários médios das atividades econômicas que estudamos (as principais em representatividade e em competitividade), Santos nada de braçadas contra São Bernardo. Não à toa ocupa a primeira posição no ranking do G-22 que elaboramos.
Série A e Série C
A média geral de Santos no Índice de Equilíbrio Salarial é de 0,8855, o que a coloca na Série A de competitividade. Com o setor de serviços a ancorar os demais, o comércio registrou índice de 0,7498, a indústria de 0,9869 e a construção civil de 0,7498. Viram que os números setoriais são muito mais próximos de 1,000 do que os registrados em Santos?
Em termos monetários, o salário médio de serviços em Santos é de R$ 2.885,24, ante R$ 2.846,86 da indústria, R$ 2.16335 do comércio e R$ 2.654,03 da construção civil. Em São Bernardo, a média salarial da indústria é de já mencionados R$ 5.552,25, ante R$ 2.821,67 de serviços, R$ 2.295,66 de comércio e R$ 2.657,78 da construção civil. Repararam que quando se cruzam esses valores dos dois municípios o ponto fora da curva é o salário médio da indústria em São Bernardo?
O modelo econômico de São Bernardo (e que contamina a região como um todo) está condenado a críticas severas porque o predomínio industrial não tem significado brilho socioeconômico.
Indicadores do Ipea
Ainda outro dia o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) divulgou os dados de 2016 que associam série de indicadores, e Santos está bem à frente de São Bernardo. No quesito Taxa de Homicídio, que adiciona mortes violentas, Santos registrou 11,5%, enquanto São Bernardo chegou a 16,6%. Na Pobreza, são R$ 442,9 de renda per capita dos 20% mais vulneráveis em Santos, ante R$ 383,3 em São Bernardo. Em Santos, 6,1% são crianças pobres, ante 7,1 em São Bernardo. Crianças vulneráveis à pobreza em Santos são 18,1%, ante 23,9% em São Bernardo.
Avançando nos números do Ipea (relativos a 2011 e envolvendo os municípios com mais de 150 mil habitantes no Brasil), chegamos ao campo do Trabalho: Santos registra 34,1% de taxa de desocupação entre jovens de 15 a 17 anos, ante 35,4% de São Bernardo. A taxa de desocupação entre 18 e 24 anos em Santos é de 19,1%, ante 15,2% em São Bernardo. Em Habitação, Santos registra 20,1% da população em domicílio com densidade de dois quartos, enquanto São Bernardo marca 27,5%. Santos também é melhor com inadequado percentual de pessoas em domicílios com abastecimento de água e esgotamento sanitário: 0,2% ante 0,7%.
Completando os indicadores do Ipea, Santos registra 2,0% de mulheres de 10 a 17 anos que tiveram filhos, ante 1,9 de São Bernardo. Já no percentual de pessoas de 15 a 29 anos que não estudam e não trabalham e são vulneráveis à pobreza, Santos registra 4,1%, ante 5,0 % de São Bernardo.
Para completar (provisoriamente, quem sabe) o confronto socioeconômico entre São Bernardo e Santos, o IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal), realizado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro com base em dados oficiais estudados a fundo por especialistas, a Capital da Baixada Santista também se apresenta em melhor situação que a São Bernardo supostamente mais rica porque se estrutura no setor industrial das montadoras milionárias. O indicador, que reúne dados de Educação, Saúde e Emprego, coloca Santos como a média geral de 0,8702 (muito próximo, portanto do 1,000 tão desejado), enquanto São Bernardo alcança 0,8327. O vértice problemático de São Bernardo é Emprego-Renda, com índice de 0,5903, ante 0,7151 de Santos.
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