Economia

PIB per capita mostra quanto
perdemos para a vizinhança

DANIEL LIMA - 20/07/2018

Nossa vizinhança mais preocupante não é a Capital do Estado. A cidade de São Paulo, Cinderela do pesadelo do Complexo de Gata Borralheira que vivemos, pode ser uma aliada às pretensões econômicas e sociais. Até porque, é melhor ser parceira do que adversária. O gigantismo da Capital não permite confrontos. Deveria estimular compartilhamentos. Celso Daniel pensava assim. Também penso. 

O que deveria nos incomodar muito, mas muito mesmo, mas parece que não incomodará jamais, porque a dualidade de comportamento de Gata Borralheira assim determina, são as vizinhas à Oeste e à Leste desta Província, precisamente Osasco, Barueri e Guarulhos. 

O comportamento do PIB per capita dessas duas regiões desde que Lula da Silva deixou a presidência da República, em dezembro de 2010, até dezembro de 2015, último ano do governo Dilma Rousseff, é emblemático. 

Este é mais um ângulo de análises dando conta do que viramos após a saída de Lula da Silva do Palácio do Planalto. E muito antes de o ex-metalúrgico ganhar uma sala reservada em Curitiba, em abril deste ano. 

Rodoanel travesso 

Se fracassamos no PIB Geral e no PIB Industrial, não seria diferente no PIB per capita, medidor mais preciso e importante quando se leva em consideração a aplicabilidade desse indicador contestado em todos os cantos do mundo, embora nenhum especialista encontrasse até agora substituto que convença o mundo econômico e financeiro.

PIB per capita é a divisão do PIB Geral pelo número de habitantes de um determinado endereço. É a prova dos nove da riqueza gerada por produtos e serviços sem distorções demográficas. De vez em quando me meto aqui a fazer o jogo do PIB per capita porque assim fechamos ou ampliamos novo ciclo de informações e análises. 

O PIB per capita da região – sobretudo dos principais municípios – é a cara da baixa competitividade frente a Osasco, Guarulhos e Barueri, vizinhos indesejáveis que, diferentemente de nós, nadam de braçadas nos traçados do Rodoanel Mário Covas. 

E olhem que por enquanto estão usufruindo dos trechos Oeste e Sul. Quando o trecho Norte virar realidade (e falta muito pouco para tanto), o que já é ruim para a região vai ser tornar ainda pior. E observem que não estou me referindo ao Macroanel, espécie de Rodoanel do Rodoanel que nos remeterá ainda mais às profundezas de perdas. 

Disparidades de perdas 

Vamos, portanto, ao que mais interessa nesse momento, e que justifica o título logo acima. O PIB per capital da vizinhança da região sofreu baixas mais que suportáveis após o encerramento dos oito anos de mandatos de Lula da Silva e antes que 2016 com nova quebra do PIB Nacional se manifestasse. Barueri perdeu 8,98%, Osasco 8,68% e Guarulhos 3,96%. Agora, comparem com as perdas da região: São Caetano 26,62%, São Bernardo 33,08%, Santo André 30,32%, Diadema 13,79%, Mauá 12,70% e Rio Grande da Serra 9,97%. Escapou Ribeirão Pires, cujo PIB per capital cresceu 4,00% em cinco anos. Uma exceção sem peso regional, porque o PIB Geral de Ribeirão Pires não chega a 3% do total dos sete municípios. 

Convido o leitor a raciocinar comigo, sem adereços políticos e partidários: qual seria um dos pressupostos essenciais ao prefeito que ocupa o cargo de prefeito dos prefeitos, a chefia do Clube dos Prefeitos, diante desses dados que não são segredo para ninguém, porque basta cavoucá-los em organismos federais? 

Fosse você prefeito dos prefeitos e não tivesse rabo preso com qualquer autoridade maior, o que faria? Se tivesse autonomia e pensasse principalmente na sociedade regional, certamente convocaria os demais titulares de Executivos para uma tomada de decisão. Que tomada de decisão? 

Nada diferente do que tenho afirmado e reafirmado ao longo dos anos: chamar às falas o governo do Estado para contratar especialistas que deem um jeito bem dado nas distorções provocados pelo trecho sul do Rodoanel. Há muitas temporadas somos esfolados economicamente porque o Rodoanel Mário Covas foi um presente de Deus para Osasco e municípios vizinhos, e até mesmo Guarulhos, enquanto virou obstáculo adicional à competividade econômica regional. 

Cadê Morando? 

Ninguém mais indicado para tomar essa iniciativa do que o prefeito dos prefeitos Orlando Morando, porque, afinal, foi ele o principal representante da região em todas as tratativas que culminaram no traçado que está aí. Até porque, era presidente da Comissão de tratou do assunto na Assembleia Legislativa. 

Ocorre, entretanto, que Orlando Morando age como diabo que foge da cruz porque o assunto não lhe é palatável. Talvez esse distanciamento de tema tão crucial a esta região seja confissão de culpa. Mas não lhe deve ser imputado, exclusivamente, o silêncio regional sobre o trecho sul do rodoanel. 

Não temos massa crítica alguma para formar uma frente disposta a exigir mudanças que atenuem as complicações cantadas nas páginas da revista LivreMercado e consolidadas nesta publicação. O governo do Estado não só nos entregou um presente de grego como, também, alardeou aos babacas partidários sempre dispostos a lhe retribuir gentilezas verbais que ganhávamos a esquina mais rica do País. Nós quem, cara pálida? 

É claro que o desmoronamento da economia regional não está tangido apenas pelo traçado do Rodoanel Mário Covas, mas desde que a obra ganhou a geografia regional apenas como suporte de produtividade a outros espaços territoriais, inclusive a Baixada Santista, verificamos sistemático aprofundamento de perdas que se cristalizam em indicadores diversos.

Perdas múltiplas 

No ranking do PIB per capita que tem o ano de 2015 como última estação de atualidade (os dados de 2016 sairão no fim deste ano), Barueri ocupa a segunda posição no G-22 (o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), Osasco a quarta e Guarulhos a 15ª. Já os representantes da região estão distribuindo entre o quinto lugar de São Caetano, o oitavo de São Bernardo, o 16º de Santo André, o 18º de Diadema, o 20º de Mauá, o 21º de Ribeirão Pires e o 22º de Rio Grande da Serra. 

O desabamento da região no ranking per capita do PIB dos Municípios do G-22 criado por esta revista digital é compatível com as perdas registradas no PIB Geral entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015, pós-Lula da Silva. Senão vejamos: no período, o PIB Geral (que considera todas as atividades econômicas) de Osasco cresceu 7,71%, o de Guarulhos 4,31% e o de Barueri 11,69%. Com esse desempenho, o PIB per capita só poderia mesmo ter avançado. Ou seja: a produção de riqueza cresceu mais que o avanço demográfico.

Já o PIB Geral da região, dos sete municípios, só conheceu reveses nesses cinco anos: São Bernardo caiu 28,55% (sempre em relação a dezembro de 2010, último ano de Lula da Silva), Santo André caiu 2,61%, São Caetano derrapou 22,48%, Diadema perdeu 7,90% e Rio Grande da Serra 1,36%. Só Ribeirão Pires cresceu no PIB Geral: 9,86%. 

Tudo isso posto, como deixar de acreditar que o que vemos na região pós-recessão econômica, entre 2014 e 2016, é uma associação perfeita entre omissão generalizada de autoridades com obrigação de representar a sociedade nas questões mais candentes e uma vocação aparentemente irrefreável de decadência econômica que vem muito antes desse período. 



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