O prefeito de São Bernardo é, piorado, um Jair Bolsonaro, um Geraldo Alckmin, um Bruno Covas, um João Doria e tantas outras autoridades do Executivo e do Legislativo. Repetindo: Orlando Morando é tudo isso piorado. Refiro-me ao campo econômico. Ele não entende nada do riscado e, pior que isso, não tem um assessor, um secretário, capaz de orientá-lo. Mais que isso, ainda: ele não tem vocação e determinação econômicas.
Imaginar que Orlando Morando possa ser um João Amoêdo, por exemplo, seria uma heresia. Aliás, poucos se assemelham ao candidato do Partido Novo. Celso Daniel, com sinais trocados, mas não tão trocados quanto imaginam os tucanos e os petistas, possivelmente rivalizaria com João Amoedo, vivo estivesse.
A propósito de João Amoêdo, não firo o dogma desta publicação, “regionalismo sem partidarismo”. Mais precisamente, o reforço. Exerço apenas o direito constitucional de expressar com clareza e transparência pressupostos consolidados há tanto tempo como jornalista defensor de liberalismo econômico com fortes conotações sociais -- “Nossas Madres Terezas”, por exemplo, estão aí para confirmar. A linha editorial desta publicação e da revista LivreMercado, que criei e dirigi por duas décadas, também.
João Amoêdo desembarcou depois, em universo nacional. Eventuais discordâncias não invalidam admiração a um pregador do receituário que aplico há dezenas de anos.
Mistificação e política
Voltando ao que interessa, chefe da Capital Econômica da região, Orlando Morando deu uma aula de péssima educação e de desinteresse no seminário “O futuro do ABC: os novos rumos para São Bernardo”, realizado pelo Estadão. Morando fez um discurso mistificador e em seguida correu com todo o séquito cinematográfico de assessores para entregar eleitoralmente viaturas de segurança pública à Prefeitura de Mauá, que está com as finanças em pandarecos desde muito tempo.
Não procurem essas informações em tom realisticamente crítico, em tom jornalisticamente responsável, em tom comunitariamente comprometido, em qualquer outro veículo de comunicação da região e tampouco na cobertura do Estadão, que deverá ser publicada nos próximos dias. Na região prevalece o compadrio geral e irrestrito, e no caso do Estadão o evento foi promocional.
Como não existe Mercado Jornalístico independente, tal a fragilidade econômica da região, quem dá as cartas e joga de mão são as autoridades do estilo de Orlando Morando. Um falso pregador da democracia que exclui mesmo aqueles que defendem a sociedade sem vínculo político e partidário, confundindo-os com abutres ou legítimos oposicionistas.
Orlando Morando prefere dar cobertura aos assessores denunciados há vários meses como prevaricadores na área de meio ambiente e construção civil, foragidos da Justiça. Dar cobertura, no caso, significa não fazer absolutamente nada em termos públicos, para contribuir com a prisão dos marginais, segundo denúncias das autoridades policiais e ministeriais.
Mudanças de roteiro
Quando acordei e apanhei os jornais de hoje no quintal de minha residência, pretendia escrever sobre outro aspecto do seminário do Estadão na Pinacoteca de São Bernardo. Antes, um parêntese: a Pinacoteca fica praticamente no quintal de minha residência. Embora convidado pela assessoria de imprensa para participar da plateia, decidi priorizar duas obrigações das quais não abro mão: o passeio matutino com minhas cachorras e um encontro com um velho amigo na Capital, vindo de longe que ele sempre vem.
Poupei-me do simpósio com certo lamento, mesmo intuindo que o conteúdo geral me desagradaria. Daria de cara com mistificadores ou mal informados, ou as duas coisas. Recuperei informações mais relevantes ao ouvir cinco fontes diferentes. Fiquei estupefato. Orlando Morando tratou os convidados com desdém, no atropelo de uma agenda que prioriza a política partidária. Que se dane o desenvolvimento econômico.
Decidi, por conta disso, abandonar a análise da manchetíssima (manchete das manchetes de primeira página) do Diário do Grande ABC (“Futuro econômico da região passa pelo setor de serviços”), sobre a qual faria breve e contundente manifestação de indignação por ler tanta bobagem desconectada da realidade regional. Entrei mesmo em parafuso diante da informação e de confirmações da debandada do prefeito Orlando Morando.
Nem Donald Trump
Racionem comigo e vejam como é possível dar como natural, como corriqueiro, como qualquer coisa, tamanho desinteresse da maior autoridade política do Município. É inconcebível em qualquer lugar do planeta (nem o arrogante, individualista, grosseiro e tudo mais Donald Trump seria capaz de tamanha desfaçatez, em situação análoga) que um anfitrião se comportasse semelhantemente.
Vale ao prefeito Orlando Morando muito mais a busca de votos em favor da mulher, Carla Morando, e daí ter-se deslocado rapidamente a Mauá, do que cuidar do futuro econômico de São Bernardo, plataforma de todos os demais planos do Executivo. Orlando Morando jamais vai entender, a julgar pelos 20 meses de mandato já consumidos, que a economia regula tudo em qualquer instância governamental.
Orlando Morando não se dá conta de que trocou um legado que o colocaria como principal prefeito de São Bernardo (a prioridade absoluta na busca por caminhos alternativos e complementares à derrocada industrial seguida de empobrecimento social) por ações temporais longe da arena transformadora.
Entregar-se como tantos outros antecessores às benesses da Doença Holandesa Automotiva e também à Síndrome de Estocolmo Automotivo é muito cômodo, mas irresponsável. Os dados estatísticos que canso de esgrimir (e que ganharão foco mais contundente com a série que já comecei a produzir sobre São Bernardo) deveriam servir de alerta a reações planejadas por gente que entende do riscado macroeconômico.
Sem Posto Ipiranga
Embora lastime muito, o analfabetismo econômico de Orlando Morando já está comprovado. Mas isso não o torna um prefeito detestável e derrotado automaticamente. Não se exige de um chefe de Executivo a obrigação de ser expert em economia, assim como em tantas outras modalidades. O que o difere de Jair Bolsonaro, tão ridicularizado porque passou a usar a expressão “pergunte lá no posto Ipiranga”, pelos buracos de conhecimento que detém, é que o candidato à presidência da República conta com Paulo Guedes, um craque em economia.
Ou seja: Orlando Morando não pode nem utilizar a expressão de Bolsonaro, condenadíssima pelos hipócritas, porque não tem um Posto Ipiranga a recorrer. Orlando Morando preferiu colocar na pasta de Desenvolvimento Econômico um ex-vereador de longas jornadas que, como ele, não sabe distinguir Valor Adicionado e ICMS.
Não tenho a integralidade das informações destiladas durante o simpósio (vou esperar a cobertura do Estadão, porque o Diário do Grande ABC foi bastante frágil no noticiário de hoje), mas o que disponho é suficiente para afirmar que o ambiente de “oba-oba” prevaleceu sobretudo entre os representantes da Prefeitura. Já entre os representantes das empresas convidadas a se manifestar, nada mais lógico que tenham tido visão mais positiva do futuro: afinal, são ilhas de prosperidade, exceções à regra de pequenas e médias indústrias esfoladas da região.
Secretário substituído
O desprestígio do secretário de Desenvolvimento Econômico, Hiroyuki Minami, é tamanho no ambiente do Paço Municipal que acabou representado no evento pelo reserva Valter Moura Júnior, filho do eterno presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo. Um herdeiro igualmente diplomático, educado, e sempre relacionado com o prefeito de plantão. Retribui-se a gentileza de acordo com o contexto: Valter Moura, o pai, saiu em defesa (acreditem quem quiser) da construção de um Aeroporto Internacional em plena área de mananciais em São Bernardo, durante a Administração Luiz Marinho.
Salvou-se na cobertura do Diário do Grande ABC, e mesmo assim muito abaixo da expectativa de valor exposto, porque o trataram complementarmente, a declaração do professor universitário Sandro Maskio, da Universidade Metodista, defensor intransigente da conexão entre empresas, universidades e governos em geral. Tão simples, tão evidente, tão compulsório para amenizar o desfiladeiro regional. Mas quem disse que ignorantes seriam capazes de entender algo que só se torna simples porque se decodificou o complexo?
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