Economia

PIB per capita da região perde
feio para vizinhança pós-FHC

DANIEL LIMA - 06/09/2018

Estava devendo a mim mesmo resposta a uma curiosidade consumida em outros termos cronológicos. Trata-se do seguinte: como se comportou a economia da região, na média por habitante, no indicador mais consagrado, embora imperfeito, o PIB (Produto Interno Bruto) a partir do primeiro ano do governo Lula da Silva, em 2003, após suceder o catastrófico (em termos regionais) governo de oito anos de Fernando Henrique Cardoso? 

Para saber, sem enrolação e manipulações, como se desenvolveu esse vetor regional é preciso comparar o PIB per capita com alguma outra região. Pois, novamente, confrontei com a vizinhança que nos roubou investimentos e riqueza sobretudo a partir da construção dos trechos Oeste e Sul do Rodoanel Mário Covas. 

Claro que estou falando de Osasco, Guarulhos e Barueri, centralidades de subdivisões geoeconômicas da Região Metropolitana de São Paulo. Os números finais são catastróficos para nós. E serão ainda piores quando surgirem os dados do PIB dos Municípios de 2016, que serão conhecidos apenas em dezembro próximo. 

Mais perdas à vista 

É tão certo quanto a morte e também tão verdadeiro quanto ao esvaziamento econômico e de cérebros da região que, quando o PIB dos Municípios de 2016 for divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), teremos novas depressões numéricas. E até São Bernardo, que, das grandes cidades da região, é a que contabiliza melhor saldo de PIB per capita, resultado direto da produção automotiva, sofrerá sérios danos. 

Peguei os números dos 10 municípios, o G-10 da Região Metropolitana de São Paulo, para analisar lucros,  perdas e danos de 13 anos do governo federal comandado pelo PT. Entra nessa contabilidade até o sexto ano incompleto institucionalmente da presidente Dilma Rousseff. Ela foi demitida antes que o primeiro semestre de 2016 terminasse. A obra de 2015 é praticamente toda de sua responsabilidade. E a do ano seguinte também em grande monta porque estragos estruturais não se corrigem num piscar de olhos. 

Pois nesse período de 13 anos, São Bernardo é o representante dos cinco maiores municípios da região que contabilizou melhores resultados do PIB per capita, que é a divisão do PIB Geral de cada Município pelo total de moradores. O PIB nominal (sem efeitos inflacionários) de São Bernardo no último mandato de Fernando Henrique Cardoso, em 2002, era de R$ R$ 21.319. No outro extremo da pesquisa, em dezembro de 2015, registrou R$ 52.324. A diferença nominal chegou a 145,43%. Quando se atualizam os valores, aplicando-se o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o ganho real de São Bernardo no período é de 10,25%. Ou seja: o crescimento médio per capita da Capital Econômica da região é de apenas 0,78% ao ano. Estagnação pura.

Efeitos deletérios 

Convém lembrar que não se trata de estagnação qualquer. Os efeitos deletérios não são captados pelo PIB em situações análogas à de São Bernardo. A base de comparação é bastante favorável aos competidores do G-10. Fernando Henrique Cardoso deixou terra arrasada. Se mesmo assim o avanço médio anual não alcançou a 1%, o que esperar quando chegarem os novos dados do IBGE.

Quando afirmo que a base de comparação é bastante favorável o faço com segurança. Recentemente fiz os mesmos cálculos de agora, do G-10, tendo como origem comparativa o PIB per capita de 2010, quando o PIB Nacional cresceu 7,5%, e os estragos foram monumentais. Confrontar com o último ano do governo Fernando Henrique Cardoso deveria ser uma moleza. Mesmo assim, estamos muito mal na fita quando nos defrontamos com a vizinhança mais próxima e entrincheirada na engenharia de atrair investimentos.  

Nada melhor que estabelecer comparações imediatas (sem seguir a linha supostamente obrigatória de abordar em seguida os resultados dos demais municípios da região) tendo como adversários de São Bernardo, repito, dona do melhor rendimento do período entre os maiores municípios da região, Osasco, Guarulhos e Barueri.

Comparações vexatórias 

Pois enquanto o PIB per capita de São Bernardo cresceu 10,25%, o que significa índice anual média de apenas 0,78% durante os 13 anos de petismo federal, Barueri beneficiadíssima pelo Rodoanel, avançou 37,83%, ou 2,91% em média no período. Ou seja: 73,19% acima da velocidade de cágado de São Bernardo. O PIB per capita de Barueri em 2015 chegou a R$ 182.225, ante R$ 52.324 de São Bernardo. Uma diferença de 71,28%. Uma guerra praticamente perdida. 

Se o leitor está surpreso com esse confronto, então espere o próximo: sabe a diferença quando o adversário de São Bernardo é mais poderoso, ainda mais beneficiadíssimo pelo Rodoanel? Osasco cresceu em termos reais no período, sempre tendo como foco o PIB per capita, nada menos que 56,04%, ou 4,31% em média ao ano. Ou 82% acima da velocidade média do pífio crescimento do PIB per capital de São Bernardo. Em termos nominais, o PIB per capita de Osasco era R$ 19.918 em 2002 e passou para R$ 94.801 em 2015. Ou 44,80% acima de São Bernardo. Quem se arrisca a apostar no futuro de São Bernardo tendo, também, Osasco como concorrente?

Guarulhos diminui distância 

O outro Município que completa o trio do outro lado da Região Metropolitana de São Paulo que tanto nos incomodada, Guarulhos, cresceu em termos reais, ou seja, quando se aplica o critério de atualização monetária com base no IPCA, 33,26% no período de 13 anos de governo federal. Três vezes mais que São Bernardo. Média anual de 1,56%. Guarulhos contava com PIB per capita de R$ 11.403 em 2002 e passou para R$ 39,402 em 2015. O PIB per capita de São Bernardo em 2015 era 24,69% superior ao de Guarulhos. Menos que os 44% registrados em 2002. Ou seja: caiu quase à metade. Com perspectiva clara de redução da diferença quando o PIB dos Municípios de 2016 for revelado. Mesmo considerando que praticamente todos os municípios fortemente industrializados do País comeram o pão que o diabo amassou naquela temporada, tanto quanto na anterior, de 2015.

Na próxima edição vamos revelar os números dos demais municípios da região. Apenas Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, com peso inferior a 3% no PIB dos Municípios da região, registram bons resultados na métrica por habitante. Sabe o que isso significa? Nada.



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