Economia

Avenida Lino Jardim
cresce com variedade

DANIEL LIMA - 05/01/1998

No epicentro da Vila Bastos, em Santo André, a avenida Lino Jardim continua a ganhar novos empreendimentos e a contribuir para revigorar a desconcentração da veia comercial e de serviços monopolizada até o início dos anos 90 pelo centro histórico. O desenvolvimento econômico mais voltado para o setor terciário depois que a indústria começou a dar os primeiros sinais de reestruturação, coloca a Lino Jardim como um dos pontos mais brilhantes da constelação de artérias deslocadas dos centros comerciais. Incrustrada numa microrregião de alto poder aquisitivo, na qual convivem edifícios residenciais de médio e alto padrão e residências térreas espaçosas, muitas das quais transformadas em endereços comerciais, a avenida oferece variedade de opções com qualidade.


Não há pesquisas específicas sobre a Vila Bastos e seu entorno, de modo a orientar cientificamente candidatos a negócios sobre a solidez de instalar-se na Lino Jardim. Como se sabe, o Grande ABC é pobre em estatísticas. Tanto que dados elementares de sua economia são absolutamente desconhecidos. A Lino Jardim é aparentemente apetitosa como naco promissor de empreendimento nestes tempos em que dinheiro no banco rende muito pouco e que vale a pena arriscar, sem arriscar demais, substituir cadernetas de poupança e títulos de renda fixa por bom nicho comercial. 


O comércio e os serviços de qualidade de guetos geográficos desafiam consagrados centros comerciais convencionais e shopping centers. Tanto que a Lino Jardim não vem decepcionando os empreendedores. Pelo menos os mais atentos aos intrincados jogos de sedução da clientela. A proximidade entre empresa e clientela tem peso significativo, lembra Luiz Antonio dos Santos, diretor da Laxis Comercial, atacadista de biscoitos com representação exclusiva da Vila Oeste, marca de Santa Catarina. No varejo, a Laxis vende chocolates, doces e artigos para festa. A empresa está há dois anos na Lino Jardim. "Duvido que se encontre no centro preços melhores que os meus" -- desafia, em nome de providenciais custos inferiores de infra-estrutura. 


A ABC Imagem está há menos tempo na Lino Jardim. Especializada em serviços fotográficos profissionais para empresas e venda de equipamentos e acessórios para profissionais e amadores, a loja instalou-se na avenida há oito meses. Revelações rápidas deixaram de levar os moradores dessa microrregião ao centro, lembra Reinaldo Fernando Martins, um dos sócios, juntamente com Alberto Murayama e Maurício Pavan. "Apesar de estar num bairro populoso, a Lino Jardim não apresenta a agitação do centro e isso permite manter o que classifico como ponto de honra -- atendimento personalizado e de qualidade" -- afirma Reinaldo.


Sem barreiras -- Se a tecnologia da ABC Imagem descobriu a Lino Jardim, num exemplo de empreendimento marcantemente regional, porque Reinaldo e seus sócios há muito fazem da região suas atividades profissionais, inclusive com longa trajetória no Diário do Grande ABC, isto não quer dizer que grifes famosas ignorem esse novo endereço de negócios. A Mobitel, maior operadora de pagers do País, com estimados 320 mil usuários e unidades em cartões postais da Capital, casos das avenidas Paulista e São Luiz, chegou à Lino Jardim há um ano e meio. E não se arrepende disso -- afirma Alexandre Visconti, supervisor de vendas. Ele destaca a localização próxima ao centro e também o fácil acesso a todos os Municípios da região como fatores estratégicos. 


A geografia é mesmo preponderante no movimento econômico de mão dupla da Lino Jardim. É uma realidade que reforça ou enfraquece o poder de fogo individual e coletivo dos empreendimentos.  As facilidades para alcançar o centro e Municípios vizinhos como São Bernardo e São Caetano comprometem quem se acomoda e estimula a fuga de consumidores. Quem é dinâmico e atualizado acaba atraindo parcela da clientela extra-bairro, reforçando a potencialidade natural dessa microrregião. É o caso da Etros Seguros, que atua nas áreas de seguro de vida, saúde, empresarial, residencial e de automóveis, e também da Clarice Designers. Tanto Manoel Morales Martins como Clarice Miyagawa destacam o número expressivo de clientes fora do raio de influência natural da avenida. 


A Lino Jardim não é boa apenas para quem tem negócios ou para quem consome produtos e serviços. É interessante também para quem acumula as funções de empreendedor e consumidor, como lembra Haideê Fregnan Portes Chellér, diretora do Núcleo Infantil Novo Tempo, há dois anos no local. Ela vê o empreendimento desafiar o aperto sofrido pela classe média após o Plano Real, porque aumentou em 50% o número de alunos em relação ao ano passado. A escola é prato cheio para quem trabalha fora, como boa parte dos pais de família de Vila Bastos e vizinhança. Oferece do maternal à pré-escola. São 500 metros quadrados de instalações com estrutura de apoio pedagógico como sala de jogos, videoteca, pátio de recreação e playground. Inglês, informática, música, ballet e eki-dô estão entre os cursos extras sem cobrança de taxa adicional. Um chamariz que ajuda a amenizar a demanda cada vez mais intensa dos jovens por complementariedade educacional.  


Cultura em alta -- Leitura é fundamental nesse processo e bairro classe média que se preza consome muita informação. Crescer e adaptar-se à demanda foram ações que a direção da Superbanca deflagrou. Dobrou o número de funcionários e o espaço físico e transformou o empreendimento num dos maiores do gênero no Grande ABC. Até estacionamento para o público é garantido, lembra o diretor João Batista Martinelli. A exigente clientela é atendida inclusive com disponibilidade de publicações estrangeiras e a flexibilidade de serviços inclui implantação de gráfica rápida, impressão em camiseta, serviço de recebimento e envio de fax, papelaria, café expresso e lanches. Não bastasse tudo isso, há projeto de inaugurar espaço de artesanato, pintura, moldura, livros e suprimentos de informática. 


Mas não se vive apenas de leitura. A agitação da Lino Jardim fica por conta de bares, padarias, mercadinhos. A Choperia e Restaurante Beer Garden passou por reformas para conquistar clientela noturna, como explica o gerente Dario Bertramello. Músicas ao vivo estão garantidas de quinta a domingo, mas almoço também reforça as receitas. Como no Brasil Foods, um fast-food que Rosângela de Campos incrementa com pratos especiais. 


Novos empreendedores da Lino Jardim são sempre bem-vindos não só pelos consumidores de produtos e serviços, mas pelos comerciantes mais antigos desses 1,2 mil metros de extensão que têm na espaçosa e arborizada Praça Presidente Kennedy o ponto central. Em frente à praça, onde brincadeiras de crianças se misturam a caminhadas e cooper, a Pizzaria Jóia marca ponto desde 1973. O sócio Waldemar Marcolin diz que tem orgulho de a Jóia ser endereço de encontro de políticos, homens de negócios e famílias. No outro extremo da Lino Jardim, a Pizzaria Trípolli também contabiliza prestígio dos bons garfos e de altas patentes políticas e sociais. O diretor Hideilberto Natalino Pasquoto comemora os resultados de 1977, considerando-os positivos, com a média de venda de quatro mil pizzas por mês. O esticamento de prazo de pagamento para 30 dias foi uma das ações de marketing para sustentar a curva das vendas. 


Wilson Carrillo Buranello e Suzel Stefanato Buranello vislumbraram a potencialidade da Lino Jardim há 20 anos e há 10 resolveram ratificar a confiança, ampliando as instalações da clínica odontológica. Os ambientes e os móveis têm como base, segundo definem, o planejamento do trabalho, o que possibilita atendimento sequencial completo. O consultório é voltado prioritariamente à prevenção, com salas de vídeo e de escovação, além de área para esterilização e salas de atendimento. As especialidades de reabilitação oral e ortodontia revelam o grau de qualificação disponibilizado à clientela e contribuem para fortalecer o conjunto de virtudes da Lino Jardim. 


Saúde e arte -- Em matéria de antiguidade a Drogaria e Farmácia de Manipulação Atlântica, na esquina da avenida Atlântica com a Lino Jardim, é uma das campeãs. Desde 1957, portanto há 40 anos, quando vitamina ainda era conhecida como fortificante, a drogaria criada pelo pai do atual proprietário, Cesar D Áquila, tem a fidelidade da redondeza. A logística oferecida pela Rede Farma 100 deu solidez ao negócio, somando-se à tradição do ponto privilegiado e do atendimento personalizado.


Próximo da Drogaria Atlântica, a diretora artística do Conservatório Musical Carlos Gomes, Angelina de Fátima Pereira, lembra os tempos em que o bairro era estritamente residencial e reservava espaços até para pequenas chácaras e terrenos desocupados. Há 22 anos o conservatório forma crianças, jovens e adultos de famílias que cultivam a música como bem cultural, educacional e relevantemente artístico. Entre os 100 alunos matriculados há engenheiros, advogados e executivos que buscam na suavidade dos sons musicais a tranquilidade que as barulhentas e desumanas regiões metropolitanas perderam. Cursos de flauta, piano, órgão, violino, canto, flauta doce e guitarra são um bálsamo também para ouvidos mais atentos que passam pela calçada defronte a um prédio arquitetonicamente atraente. 


Se em vez das sete notas musicais e sua infinidade de combinações a solução de problemas for de ordem legal, o advogado Raimundo Salles dos Santos, da Salles Advogados e Associados, é alternativa cada vez mais utilizada. O amplo escritório está instalado na Lino Jardim há um ano e meio, integrando-se, portanto, à volúpia de empreendedores que tomou conta desse endereço que está praticamente no quintal do Paço Municipal. Salles explica o sucesso do escritório, entre outros motivos, porque a clientela não suporta mais perder tempo com deslocamentos para a congestionada região central. Preocupado com a qualidade do bairro, Salles diz que a Praça Kennedy é espaço muito importante para a valorização econômica e social do local, mas não está sendo devidamente cuidado. "Já propus arcar com os custos de manutenção e de segurança da praça, mas isso depende de aprovação de projeto que tramita na Câmara Municipal" -- afirma. Salles sugere melhor aproveitamento do espaço com desenvolvimento de atividades culturais. "Já imaginou que interessante termos músicas clássicas ao entardecer" -- recomenda, garantindo que os custos seriam assumidos pela livre iniciativa. 


A nobreza e o status da Lino Jardim são comparados à região do Brooklin por José Eduardo Barbosa, diretor da Grande ABC Planejamento e Venda de Imóveis, empresa também instalada na avenida. "Apesar disso -- completa -- os preços de venda e locação ainda são convidativos em relação a regiões mais centrais. O metro quadrado de terreno gira em torno de R$ 250,00, acrescidos de R$ 100,00 se tiver construção. O aluguel gira em torno de 1% desses valores" -- orienta o especialista em mercado imobiliário.


Outro entendido no assunto, Gilberto Vieira Martins, diretor da Golden City, localizada na praça Kennedy, garante que a avenida Lino Jardim ainda possui alguns terrenos e pelo menos 40% de sobrados que podem virar endereço comercial e de serviços. Isto quer dizer, em resumo, que a febre por um ponto potencialmente atraente num dos mais curtos e promissores corredores econômicos de Santo André ainda está longe de ser vencida. É claro que apenas um bom ponto não significa dinheiro rendendo mais que a poupança ou CDBs. Comércio e serviços, como se sabe, exigem série de capacitações técnicas e pessoais. A Lino Jardim e seu entorno residencial consolidam-se como pontos de referência econômica de uma região que está em terceiro lugar no ranking de potencial de consumo do País, mas não fazem milagres. Porque aí já seria pedir demais. 


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