Economia

Fórum elege Pina;
Kapaz sai

DANIEL LIMA - 05/04/1998

Uma sucessão sem maiores transtornos, em sintonia com a consensualidade, marcou as eleições para composição do novo Colégio Executivo do Fórum da Cidadania do Grande ABC, dia 27 de março no Sesi de Santo André. Neste 16 de abril o coordenador geral do Fórum, Marcos Gonçalves, vai ser substituído por um dos mais antigos voluntários da entidade, o arquiteto Silvio Tadeu Pina. Mas março não terminou sem dúvidas. Quem será o substituto do secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Emerson Kapaz, um dos principais responsáveis pela formação da Câmara Regional do Grande ABC?


Como era esperada, a eleição no Fórum da Cidadania aconteceu por aclamação. E não apresentou surpresa. Silvio Tadeu Pina há muito era considerado o virtual sucessor de Marcos Gonçalves. Silvio, Marcos, Wilson Ambrósio da Silva e Fausto Cestari, primeiros coordenadores do Fórum, foram capa de janeiro desta publicação, quando se antecipava a provável escolha do presidente da Regional do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil). Uma possível disputa que poderia envolver Carlos Alberto Grana, secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, acabou descartada diante da concentração do sindicalista nas questões de sua corporação. 


O Colégio Executivo é a instância mais importante do Fórum da Cidadania, embora estatutariamente estejam reservadas para a plenária todas as deliberações consensuais. O Colégio Executivo centraliza todas as informações dos grupos temáticos e as medidas administrativas. 


Além de Silvio Tadeu Pina, participam do Colégio Executivo o vice-coordenador Antonio Castillo Jato Júnior, diretor-adjunto do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo; a advogada Ivone Filipin, 1ª secretária e representante da Avape (Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais) e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André; Luís Augusto de Almeida, 2º secretário e presidente da Aciam (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Mauá); Carlos Augusto Cafu César, 1º tesoureiro e diretor do Sindicato dos Químicos do ABC; e Daniel Rodrigues, 2º tesoureiro e coordenador do Centro de Convivência de Terceira Idade de Rio Grande da Serra. 


Mais entidades -- Silvio Tadeu Pina anunciou planos de dar continuidade ao trabalho de Marcos Gonçalves, principalmente na busca de aumento do quadro de associados -- 103 no total. Sua coordenação deverá ser diferente da do presidente da Avape, já que têm estilos diferentes. Marcos é mais incisivo. Pina é mais meticuloso. É provável que Pina não seja tão polêmico quanto Marcos Gonçalves, responsável, entre outras ações, pela estocada do Fórum da Cidadania na fragilidade da estrutura do Poder Judiciário.


De qualquer modo, há indicações de que o próximo coordenador não deixará cair a bola do Fórum. Pina deu o tom logo após sua indicação, ao afirmar que quer maior participação da classe média. Nada mais lógico, porque o Fórum tem-se constituído em reduto quase que eminentemente popular.  


Uma das alternativas para atrair mais formadores de opinião foi sugerida por Marcos Gonçalves numa plenária. Trata-se de dar maior densidade numérica ao já existente Conselho Consultivo. Outra sugestão de Marcos Gonçalves, que, como a anterior, deverá ser analisada nas próximas plenárias, é a criação de nova instância de poder no Fórum. Seria criado o Conselho Superior, cujas vagas só seriam preenchidas por quem tem história na entidade e que, conforme exposição do ainda coordenador, atuaria como salvaguarda institucional. Ele preferiu não dizer com todas as letras, para não ferir suscetibilidades, mas na verdade teme que o Fórum da Cidadania venha a sofrer, em breve ou mais tarde, desvios de atuação. É possível que o efeito Coop-Cooperhodia (veja matéria na página 8) facilite a pregação de Marcos Gonçalves. 


Kapaz sai -- Se no Fórum da Cidadania a sucessão não provocou traumas, na Câmara Regional o anunciado afastamento do secretário estadual Emerson Kapaz desperta preocupações. A partir deste dia 4 Kapaz deixa o cargo no governo Mário Covas para candidatar-se a deputado federal. É também o caso de Walter Barelli, outro secretário (de Relações do Trabalho e Emprego) que tem frequentado a região com assiduidade e também integra o Conselho Deliberativo da Câmara Regional.


Espécie de garoto-propaganda da região, Emerson Kapaz é um dos principais responsáveis pela criação da Câmara Regional. Ele é capaz de negar até a morte que a região atravessa período de esvaziamento econômico, mesmo diante das evidências. Um executivo público que veste a camisa da região a esse ponto acaba por fazer falta numa estrutura de recuperação institucional sintetizada na Câmara Regional. Emerson Kapaz transita com tanta facilidade por todas as trilhas partidárias, empresariais e sociais da região que virou espécie de unanimidade. 


Sua origem de empresário preocupado com o social, como um dos fundadores do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais) e da Abrinq (Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos) abriu-lhe as portas à direita e à esquerda. Embora vá se afastar dessa entidade que tem a participação do governo do Estado, das Prefeituras e da comunidade empresarial, sindical e social, é possível que Kapaz se mantenha informalmente na ativa porque a Câmara Regional, inédita no País, tornou-se espécie de vitrine de sua campanha eleitoral. 


Esse modelo de gestão que coloca Estado, capital e sociedade num mesmo patamar de responsabilidades já não é mais criticado por Paulo Maluf, candidato do PPB ao governo do Estado. O político que pode desalojar Covas do Palácio dos Bandeirantes esteve no final de março na região e prometeu fortalecer a Câmara Regional, além de acenar com recursos financeiros para o Fórum da Cidadania. Um discurso bem diferente do ano passado, quando disse que a Câmara não sairia do lengalenga de comissões temáticas. 


T de Tortorello -- Um aliado de Maluf, o prefeito Luiz Tortorello, de São Caetano, voltou a ter dificuldades junto à opinião pública. A decisão de construir um mural de 12 metros de altura com a letra T vazada foi considerada desrespeitosa à Constituição. A obra, à entrada da Fundação das Artes de São Caetano, caracterizaria promoção pessoal. O tesão, como está sendo chamado pelos populares, é uma evidente alusão ao sobrenome do prefeito. 


Há, naturalmente, quem não veja qualquer relação entre o T da obra e o T de Tortorello. Caso de Maribel Marana, diretora da Fundação. "Para uma minoria de inteligência curta e visão deficiente, nada há além dos arcos". Como se a Constituição fosse uma peça de ficção.


Sem polêmica, mas com muito trabalho, a preocupação de Maurício Soares, prefeito de São Bernardo, é com o M. Não o M de seu nome, mas de montadoras. Ele deverá se reunir até meados deste mês com representantes de todas as empresas do setor na região para debater o Custo ABC. Em março, os contatos acabaram prejudicados por causa da eleição de José Carlos Pinheiro Neto, executivo da General Motors, para presidência da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). 


Maurício Soares, que também preside o Consórcio Intermunicipal, formado pelos prefeitos da região, está inquieto com a conjuntura econômica que tem agravado a avaliação do chamado Custo ABC. Ele só não quer perder as empresas que, além de responsáveis pelas maiores parcelas de arrecadação de impostos de São Bernardo e da região, ainda mantêm os maiores contingentes de trabalhadores.


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