A Recap (Refinaria de Capuava) já resolveu um problema que atormenta os custos das empresas do Grande ABC: instalou uma unidade de osmose reversa que lhe garante a utilização de água industrial em vez de potável nos processos industriais. Foram investidos R$ 2,5 milhões, valor que será recuperado em 18 meses. A Recap gastava média de R$ 170 mil por mês com a água potável enviada pela Sama (Saneamento Básico de Mauá), autarquia municipal.
Para o superintendente da Recap, Valdison Moreira, a construção da unidade significa esperada independência no abastecimento de água industrial e, mais do que isso, o rebaixamento de custos de produção. A economia que a operação da unidade vai acumular ao final de 12 meses equivale a uma folha de pagamentos do quadro de 390 funcionários da empresa, que chega a R$ 2 milhões/mês.
A água da qual se abastece a Recap é captada no Rio Tamanduateí. Dois grandes reservatórios, de 2,3 milhões de metros cúbicos, são utilizados para a decantação do líquido. Até que a usina de osmose reversa virasse realidade, a Recap misturava a água decantada do Tamanduateí com a água da Sama. Os reservatórios também são utilizados para atender à demanda de várias empresas do Pólo Petroquímico. A diferença, a partir do final do mês passado, é que só a Recap tem equipamentos técnicos para o tratamento. Basicamente, a água tratada originária do Tamanduateí alimenta o processo de produção depois de passar por caldeiras e transformar-se em vapor.
Solução próxima -- A superação do custo da água no Grande ABC provavelmente deixará de ser exclusividade da Recap. Encaminha-se para solução a construção de estação de reúso de água que atenda inicialmente ao corredor da Avenida dos Estados até Mauá. Num primeiro momento essa alternativa serviria prioritariamente ao Pólo Petroquímico de Capuava, que mais se ressente da escassez e do custo da água potável distribuída pelo Semasa (Serviço Municipal de Água e Saneamento de Santo André) e Sama, autarquias municipais do setor desses dois Municípios que abrigam o conjunto de indústrias de processamento de derivados de petróleo. O custo médio do metro cúbico de água potável no pólo atinge R$ 4,60 na região, contra R$ 0,60 nos outros dois pólos petroquímicos do País, no Rio Grande do Sul e na Bahia.
O superintendente do Semasa, Maurício Mindrisz, acredita que a solução se direciona para a construção de uma estação de efluentes ligada à ETE-ABC (Estação de Tratamento de Esgotos do ABC), localizada entre São Caetano e a favela de Heliópolis, em São Paulo. Reuniões envolvendo representantes das duas autarquias, das empresas do Pólo e da Sabesp (Companhia Estadual de Saneamento Básico) modelam o sistema que deverá prevalecer. Mindrisz afirma que tudo se está encaminhando para que as obras da estação de tratamento de efluentes fique por conta de empresa especializada. Três companhias norte-americanas já manifestaram interesse por meio de representantes nacionais. A expectativa é de que outras propostas venham a ser apresentadas. A grande dúvida é definir a participação da Sabesp e das autarquias e departamentos municipais das Prefeituras da região na distribuição da água industrial.
Se há avanços na água industrial, com solução individual de um lado e busca de saída coletiva de outro, a expectativa do aumento de produção da Petroquímica União, central de matérias-primas do Pólo de Capuava, continua a ser exatamente isso: expectativa. Apesar de especulações que indicam fantasiosas possibilidades de superação da crônica falta de gás de refinaria para expandir a produção de todo o pólo regional concentrado em Capuava, a Petrobrás ainda não se definiu a respeito da solicitação da PQU -- acrescentar às atuais 500 mil toneladas anuais originárias de nafta, subproduto do petróleo, outras 150 mil toneladas de gás de refinaria.
O aumento da capacidade de produção exige investimento de US$ 70 milhões, ao qual a PQU está preparada. Mesmo como acionista da PQU, já que sua subsidiária Petroquisa tem 17% do capital votante, o que lhe assegura assento no Conselho de Administração cuja maioria é do Grupo Unipar, a Petrobrás não se sensibilizou com o pleito da empresa com sede em Santo André.
A mobilização regional em defesa do aumento da produção de todo o Pólo Petroquímico, estratégia que poderia auxiliar na sensibilização da Petrobrás, limitou-se em maio à iniciativa de Vanderlei Siraque, presidente da Câmara de Santo André. Ele promoveu no final do mês encontro do Fórum Permanente de Vereadores, na Câmara de Mauá, que decidiu pelo encaminhamento na primeira semana de junho de Moção de Apelo ao presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e ao presidente da Petrobrás, Joel Mendes Rennó, além de pedido de interferência do governador Mario Cóvas. O documento seria assinado pelos 135 vereadores da região, além de prefeitos, deputados estaduais e federais, empresários e sindicatos.
"Sem o gás o Pólo perderá cada vez mais a competitividade e em menos de 10 anos poderá desaparecer" -- afirmou o coordenador do Fórum de Vereadores, Vanderlei Siraque. Ele exagerou na dose para impressionar, já que a PQU é responsável por 21% da produção nacional de eteno, o principal derivado de petróleo utilizado na indústria petroquímica. A Recap responde por apenas 2,6% da produção nacional de refino e nem por isso está ameaçada de extinção. Pelo contrário: está-se transformando em liderança tecnológica do setor.
Câmara Regional -- Enquanto a formação do grupo de trabalho do Pólo Petroquímico já é realidade há vários meses na Câmara Regional do Grande ABC, a constituição de atividade semelhante envolvendo as montadoras de veículos começa a sair da abstração. No final do mês, representantes de sete montadoras instaladas na região oficializaram participação nessa entidade que reúne representantes das Prefeituras do Grande ABC, governo do Estado, empresários, sindicalistas e lideranças sociais. O grupo das montadoras decidiu em sua primeira reunião que tratará basicamente de quatro quesitos: questões trabalhistas, impostos, infra-estrutura e desenvolvimento tecnológico.
Coordenador da Câmara Regional e também do grupo do setor automotivo, o prefeito Maurício Soares já convidou representantes de sindicatos de trabalhadores e dos fornecedores de autopeças a se juntarem nas discussões. Maurício Soares espera promover ainda este ano workshop com todos os agentes envolvidos para estabelecer política de produtividade e competitividade da indústria automobilística do Grande ABC. O chamado Custo ABC é a pedra no calcanhar das empresas locais, pressionadas pela concorrência de montadoras instaladas em outras regiões do Estado e do País e também pela referência de custos internacionais.
Já estão no grupo representantes da General Motors, Ford, Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Toyota e Karmann-Ghia.
O reforço das montadoras não foi o único grande resultado da Câmara Regional em maio. O Conselho Deliberativo aprovou a criação de três novos grupos de trabalho, voltados para Jornadas de Trabalho, Transporte Coletivo Regional e Sistema Viário e Trânsito. Programa-se que o grupo voltado para as questões relativas à jornada de trabalho consiga aumentar o número de vagas nas indústrias locais, por meio não se sabe, ainda, de qual poção mágica que não seja desenvolvimento econômico. Já o grupo de transporte espera elaborar plano para a implementação de metrô de superfície, além de reestruturar o serviço de transporte coletivo intermunicipal e a extensão do corredor do trólebus, tarefas menos inviáveis. O grupo do sistema viário pretende colaborar com a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos no planejamento do setor. Também bastante provável de execução. Apesar da burocracia endêmica do setor público.
A Câmara Regional ganhou igualmente com a manutenção de Armando Laganá como articulador mais permanente e solícito do governo do Estado junto aos agentes da região. Laganá corria riscos de ser trocado por alguém mais próximo do secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico, Flávio Fava de Moraes, que há dois meses substitui Emerson Kapaz, candidato a deputado federal. A reação contrária à substituição, exposta pelo coordenador da Câmara Regional, o prefeito Maurício Soares, manteve Laganá a salvo.
Mananciais -- Se o Custo ABC atrapalha de um lado, não é menos complicada a influência da Lei de Proteção dos Mananciais, calhamaço de restrições à ocupação industrial que há mais de duas décadas atravanca o desenvolvimento regional. Mas até nisso maio foi pródigo para a região. A Assembléia Legislativa aprovou no dia 21 projeto de lei que libera a instalação de indústrias não-poluentes numa área que atinge 60% do território do Grande ABC. Agora, pequenas indústrias metalúrgicas, de informática e de química, entre outras não-poluentes, poderão ocupar os mananciais.
Maio só não foi agradável para alguns administradores públicos, preocupadíssimos com uma conta que não consegue traduzir-se em crédito. Pelo contrário, só registra déficit. A crise maior está em Diadema. O prefeito Gilson Menezes está soterrado de problemas causados pelo descompasso entre receitas e despesas. Foram demitidos nada menos que 123 funcionários de uma empreiteira responsável por obras que somam R$ 8 milhões. Até a construção da sede da Câmara Municipal virou arquivo. O mês terminou com o prefeito propondo aos vereadores a redução de 15% nos salários dos servidores, com correspondente diminuição da carga horária, o que significaria economia mensal de R$ 1,5 milhão. Diadema arrecada R$ 14 milhões por mês e gasta R$ 10 milhões com 6,3 mil servidores. O déficit mensal é de R$ 500 mil, mas o prefeito socialista insiste em manter em atividade o elefante branco da empresa pública de transporte coletivo que só soma prejuízos desde que foi criada exatamente por ele em sua primeira gestão, há 11 anos.
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