A CUT (Central Única dos Trabalhadores), braço sindical do PT (Partido dos Trabalhadores), vai lançar logo depois da Copa do Mundo o que seu presidente, Vicentinho Paulo da Silva, chama de Guia do Eleitor Trabalhador. A forma para se comunicar com as corporações, sindicalizadas ou não, da livre-iniciativa e do funcionalismo público, será uma extensão do ambiente de futebol que se respira mais intensamente desde o mês passado, antes mesmo de a Seleção Brasileira estrear na França diante dos pobres escoceses. A CUT vai distribuir cartões como se fosse árbitro de futebol. A diferença é que nos campos não existem cartões verdes, só o amarelo de advertência e o vermelho de expulsão.
O cartão verde da CUT tem endereço certo: alavancar a campanha eleitoral dos candidatos que, segundo sua cartilha, favoreceram a classe trabalhadora na Câmara dos Deputados e no Senado. O cartão amarelo, na expectativa da CUT, não será sinalizador implacável de reprovação, mas os infelizes que receberem o vermelho serão tangidos como boi no pasto. Pelo menos entre os eleitores que aprovam o modelo estatizante da CUT.
Em artigo publicado no Diário do Grande ABC, quando anunciou a incursão da CUT pelo metafórico terreno movediço das arbitragens, Vicentinho Paulo da Silva disse que a idéia não é desrespeitar este ou aquele parlamentar, mas sim, de maneira democrática e firme, dizer quem é quem. Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém também nesse caso. Afinal, o banco de dados do qual se vai socorrer a CUT são os arquivos do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), cuja tendência de idealizar um mundo maravilhoso, em que conquistas sociais não têm relações lógicas com desenvolvimento econômico, geralmente beira à ficção.
Quem recorrer às análises históricas de notas atribuídas pelo Diap para avaliar o comportamento de deputados e senadores que formularam a caótica Constituição assinada há 10 anos terá provas do quanto prevaleceu de maniqueísmo. Os deputados Luiz Eduardo Magalhães, recentemente falecido, e o então senador e hoje deputado federal Roberto Campos receberam nota zero do Diap simplesmente porque não conseguiram enxergar materialidade entre o generoso bom-mocismo social da Constituição Federal e a realidade econômica nacional e internacional implacável com custos enxutos e produtividade.
O embrenhamento político-partidário da CUT não é novidade. O desempenho de deputados e senadores, segundo a ótica do intervencionismo do Estado, já foi orquestrado em outras eleições. A diferença mesmo é o marketing dos cartões. Se for coerente com declarações de Vicentinho Paulo da Silva à Imprensa, a cartilha vai punir deputados e senadores que se opuseram à redução da jornada de trabalho com manutenção do valor do salário. Essa forma miraculosa é excomungada até por ex-líderes sindicais do Grande ABC. Caso específico de Gilson Menezes, prefeito de Diadema e um dos principais responsáveis pela greve que abateu a Scania, em 1978, quando se acionou nova e revolucionária fase no sindicalismo nacional, da qual Lula foi o maior expoente. Pois esse mesmo Gilson Menezes, de novo prefeito de Diadema, não quer nem ouvir falar em menos trabalho e mesmo salário. Ameaça demitir algumas centenas de servidores se os salários não forem reduzidos na mesma proporção da carga horária, já que os cofres da Prefeitura estão rasos. Já o prefeito Celso Daniel, de Santo André, petista de carteirinha, promoveu redução de salário com redução da carga horária mesmo enfrentando forte oposição de parte dos servidores.
Temário -- O temário da cartilha de avaliação dos congressistas, segundo Vicentinho Paulo da Silva, será extenso. Assuntos como educação, saúde, moradia, reforma agrária e políticas sociais serão esmiuçados. "No que se refere ao emprego, vamos examinar a posição nas votações do contrato temporário de trabalho, estabilidade no emprego e salário mínimo, entre outros" -- escreveu Vicentinho no Diário.
A questão da Previdência Social é emblemática: serão execrados os parlamentares que se posicionaram pela reforma por entenderem que já há muito se atingiu a exaustão de recursos. O déficit previsto para este ano deverá atingir R$ 47 bilhões, contribuindo para afundar as contas públicas. Grande parte dessa diferença se deve às vantajosas aposentadorias e pensões de servidores públicos.
Embora responsáveis por apenas 14,7% das pessoas que recebem aposentadorias e pensões, os regimes previdenciários da União, dos Estados e dos Municípios consumiram juntos, no ano passado, R$ 46,1 bilhões, ou cerca de 52% do total de R$ 88,7 bilhões gastos pelos regimes públicos de previdência no Brasil. A Previdência Social, que responde pelos 85,3% restantes dos beneficiários dos regimes públicos, gastou, no mesmo período, R$ 42,6 bilhões com pagamento de benefícios, ou 48% do mesmo total. De todos os aposentados da livre-iniciativa pelo INSS, o benefício médio é de apenas 1,7 salário mínimo, contra 14 salários mínimos médios por mês dos funcionários públicos. A CUT defende a manutenção desse sistema, entre outros motivos, porque grande parte de seus representantes é formada de funcionários públicos.
É esperar a cartilha cutista para se dimensionar até que ponto a distribuição de cartões será menos ou mais canhestra do que as notas com que o Diap costuma enquadrar os parlamentares.
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