Apenas 21,31% dos trabalhadores com carteira assinada no setor industrial de São Bernardo são mulheres. É o menor índice na região e um dos mais baixos do País. E praticamente a metade do registrado na vizinha São Paulo que registra 40,44%. Não é exagero afirmar que o machismo é uma das heranças do sindicalismo de contestação e de transformação bradado pelo então metalúrgico Lula da Silva e seus seguidores no final dos anos 1970, iniciando uma dinastia cultural em São Bernardo e na região.
Já se passaram mais de 40 anos e não se tem notícia de que o braço sindical do Partido dos Trabalhadores, a CUT (Central Única dos Trabalhadores) ou qualquer outra associação de esquerda tenha tomado qualquer iniciativa que procurasse reduzir a participação massacrantemente inferior das mulheres nas fábricas. Elas são 52% na sociedade e agora 15% na Câmara Federal.
O machismo sindical deve ser entendido como uma cultura no mínimo de desprezo à participação feminina na geração de riqueza fabril. Os dados não fazem distinção entre as áreas produtivas e administrativas das indústrias. Provavelmente o chamado chão de fábrica é mais machista ainda do que indicam os números. Mulheres de macacão, no jargão trabalhista, são uma minoria evidente agora confirmada em números oficiais metabolizados.
Participação discreta
Os números que dão base estatística a este artigo são os mais atualizados do Ministério do Trabalho. Referem-se ao estoque de empregos (e em detalhamentos específicos) no Brasil em dezembro do ano passado. Estoque de emprego é tudo o que havia de trabalhadores de todos os setores naquela data, resultado de anos e anos de admissões e demissões. Não é, portanto, uma fotografia pontual, como as pesquisas eleitorais. É o conjunto da obra das relações entre capital e trabalho. Portanto, meter Lula da Silva e seus sucessores no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que atua mais diretamente em São Bernardo e em Diadema, não é nenhum despropósito. Distante disso. É fundamentação empírica.
De maneira geral a participação feminina no mercado de trabalho formal nas fábricas da região é bastante discreta. São 46.689 trabalhadoras de um total de 182.168, sempre considerando dezembro do ano passado. Média de 25,63%. São Bernardo está quatro pontos percentuais abaixo disso. Ou 16,85%. Não é, definitivamente, algo que possa ser chamado de ativo da contabilidade sindical da dinastia lulista.
Se os números de São Bernardo de emprego industrial forem retirados da contabilidade, a participação das mulheres no mercado formal de trabalho da região sobe para 28,53%. Trata-se do resultado da divisão de 31.072 postos de trabalho feminino pelo total de 108.909, dos quais 77.837 masculinos. Ou seja: a região contabilizada como seis municípios registra 25,30% mais trabalhadores femininos em relação a São Bernardo. A Capital Econômica da região é tão machista que contamina a média regional quando se trata de G-7.
Outros números da região
E nem poderia ser diferente. Basta observar a participação relativa das mulheres nos empregos industriais nos demais municípios da região. Em Santo André são 26,96% (6.596 de um total de 24.460 trabalhadores). Em Mauá são 35,95% (5.450 de um total de 20.610). Em Diadema são 28,35% (11.298 de um total de 39.838). Em São Caetano são 36,62% (5.803 de um total de 15.844). Em Ribeirão Pires são 21.31% (1.424 de 6.676). E em Rio Grande da Serra são 33,83% (501 do total de 1.481).
Das 46.689 vagas ocupadas por mulheres nas fábricas da região, 15.617 estão em São Bernardo. Uma participação relativa de 33,44%. Menos que a participação geral de trabalhadores de São Bernardo no emprego setorial na região: são 40,21% -- 73.259 de um total de 182.168.
No conjunto dos números, quando se somam os empregos formais em todos os setores registrados pelo Ministério do Trabalho (indústria de transformação, construção civil, comércio, serviços, administração pública e agropecuária), as mulheres ocupam 40,71% do mercado em São Bernardo. As mulheres industriarias são apenas 15.617(15,39%) das trabalhadoras em geral em São Bernardo. Bem menos que as 101.411 trabalhadoras em todos os setores de atividades. No total geral da região, as mulheres de São Bernardo são 44,76%, ou quase 11 pontos percentuais acima da participação nas fábricas da região. O machismo do emprego em São Bernardo está mais acentuadamente, portanto, nas fábricas.
Capital bem melhor
A cosmopolita São Paulo, historicamente sob o comando de um sindicalismo considerado menos agressivo e com participação do emprego industrial inferior no universo de trabalhadores em geral, conta com 47,15% de mulheres para cada 100 empregos formais em todas as atividades. Em dezembro do ano passado estavam registradas 2.297.495 mulheres na Capital, de um total geral de 4.867.306 trabalhadores. Como na região 43,33% das vagas gerais são ocupadas por mulheres, São Paulo registra superioridade de 8%. No confronto com a mais machista São Bernardo, São Paulo registra 13,65% de superioridade relativa de participação feminina no mercado de trabalho em geral.
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