O consumo de energia elétrica, um dos indicadores mais confiáveis no conjunto de dados que sustentam os estudos do ritmo econômico regional, estadual e nacional, confirma o processo de enfraquecimento industrial do Grande ABC e da Região Metropolitana como um todo. Um comparativo que leve em conta apenas o período de quatro anos, quase todo sob as transformações do Plano Real, revela que a região continua sofrendo perdas na principal atividade de desenvolvimento econômico. Entre 1994 e 1997, o Grande ABC apresentou queda de 3,6% no consumo de energia elétrica industrial, contra crescimento das concessionárias estaduais do Interior -- 5,5% da Bandeirantes, 21,1% da CPFL e 15% da Elektro, privatizada no mês passado. Nesse período, o PIB (Produto Interno Bruto) nacional cresceu à média de 4% ao ano.
O resultado é duplamente preocupante quando se considera que o próprio Estado de São Paulo está perdendo participação relativa no bolo produtivo nacional por força da desconcentração econômica gerada principalmente pela guerra fiscal. A situação do Grande ABC só é menos grave que a do restante da Região Metropolitana de São Paulo, atendida pela Empresa Metropolitana de Energia, que registrou perdas de 6,9% no mesmo período. Certamente pesou nessa diferença favorável à região o fato de as montadoras de veículos da RMSP, todas concentradas no Grande ABC, terem duplicado a produção no mesmo período.
O rebaixamento da participação do consumo de energia elétrica industrial no Estado, confrontado com outras atividades, confirma a perda de competitividade industrial paulista. Em 1994 as indústrias consumiam 54% da energia disponível e no final de 1997 tiveram esse naco reduzido para 44%. O êxodo industrial de São Paulo, principalmente em direção a Minas Gerais e Paraná, está provocando o crescimento relativo do índice de participação do consumo de energia elétrica no setor comercial e de serviços, que atingiu 16% no Estado.
Mais mudanças -- As mudanças por que passam as matrizes econômicas do Grande ABC não estão consolidadas apenas na queda da produção industrial. O estudo, anunciado por Mauro Arce, secretário-adjunto da Secretaria de Energia do Estado, aponta crescimento de 40% no consumo de energia elétrica no comércio e nos serviços da região nos últimos quatro anos. Embora elevado, o índice é inferior ao avanço em todo o Estado, que atingiu 46,6%, com a média de 42,2% na Região Metropolitana e 53% no Interior.
Também o consumo residencial aumentou nos últimos quatro anos avaliados pelo estudo. Passou a ocupar 28,3% de toda a energia elétrica do mercado paulista, com crescimento de 37,2% no período. Igualmente acima do Grande ABC, que atingiu 25%.
O consumo global de energia elétrica sempre se apresentou como interessante truque de antigos ilusionistas que contestavam as perdas industriais do Grande ABC. A fórmula era simples, porque se baseava no consumo total do insumo, sem segmentá-lo por atividade econômica. As quedas de consumo industrial de energia elétrica eram mais que compensadas pela demanda de atividades terciárias e residenciais, como se constata nesse mais recente estudo da secretaria estadual. O problema é que a indústria ainda é a força motriz da economia do Grande ABC, da qual são expressivamente dependentes as demais atividades.
Engano -- A imaginação de quem pretendia iludir os incautos quanto à metamorfose econômica do Grande ABC também se deslocava para o aparentemente sólido argumento do quadro de unidades industriais em atividade. Quem se debruçar sobre esse mais recente estudo observará que o Grande ABC contava com 5.985 indústrias em 1994, contra 6.327 em dezembro do ano passado. O aumento de 6% é enganoso, porque esconde fenômeno destes tempos de globalização -- a terceirização. Pequenas e microempresas aparecem no cenário produtivo para abastecer cadeia de médias e grandes. Antigos funcionários viraram empreendedores. O rebaixamento dos níveis de consumo de energia industrial e as estatísticas de desemprego são indicativos mais que suficientes para implodir eventuais novas manobras diversionistas.
Mas nem mesmo o processo de terceirização enraizado na administração das empresas de médio e grande portes conseguiu evitar o decréscimo do número de indústrias nesta década. Também com base nos indicadores da Secretaria de Energia do Estado, o Grande ABC contava em 1990 com 6.516 indústrias. Comparadas com as 6.327 de 1997, a queda atinge a 10%. Já o setor terciário viveu fase de explosão, decorrente principalmente da saída encontrada por operários e executivos que perderam o emprego industrial: em 1990 havia 38.252 estabelecimentos de serviços e comércio na região, contra 55.305 no final do ano passado -- ou seja, crescimento de 45%. Mais de 17 mil novos negócios em comércio e serviços se consolidaram na região no período, dos quais 5.816 desde o Plano Real. Desde 1990, 177 novos negócios tornam-se realidade na região a cada 30 dias. Não entram nessa operação matemática os negócios que sucumbem, porque aí deixam de constar da lista de consumidores de energia elétrica.
Perdas acumuladas -- Em março deste ano LivreMercado publicou novo estudo sobre as perdas econômicas do Grande ABC e do Estado de São Paulo, comparativamente ao PIB nacional. No período de 1985 a 1995, o Estado de São Paulo perdeu 9,2% de participação no PIB nacional, conforme números anunciados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso significa, em valores atuais, o sumiço de mais de R$ 72 bilhões por ano. A Região Metropolitana de São Paulo, segundo estudos da Secretaria da Fazenda do Estado, perdeu participação relativa no Valor Adicionado de 64,3% para 51,79% no mesmo período. Ganhou o Interior paulista. Quem tinha 64,3% e fica com 51,79% vê desaparecerem 24%.
Numa comparação simplória, ponta a ponta, isto é, entre 1985 e 1995, o Grande ABC manteve-se estável em números absolutos, pois registrou participação estadual de 15% em 1985 e 15,8% em 1995. Essa estabilidade, como se observa, é apenas relativa porque desconsidera as perdas dos paulistas para outros Estados e foi beneficiada pela análise ponta a ponta, além de contar com a duplicação da produção da indústria automobilística no período. Protegidas por alíquotas de importação elevadas, as montadoras de veículos apertaram o cinto das pequenas e médias autopeças, muitas das quais desapareceram ao serem submetidas às feras da competição internacional. Dos 602 mil empregos formais na região em 1989, segundo dados da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises de Dados), restaram 505.664.
Em abril deste ano, estudo de LivreMercado, algo que já se tornou tradição da publicação, expunha as baixas da região. Com base em novos levantamentos da ASPR Assercon, empresa de auditoria e consultoria de Santo André, constatou-se que o Grande ABC voltou a apresentar queda relativa no Índice de Participação do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A região caiu de 11,2099% alcançado no ano passado para 10,1680%. A diferença representa 9,29% de declínio. No ano passado, a participação da região apresentou frágil evolução de 1,9% em relação a 1995 -- era de 10,9962% e atingiu 11,2099%.
Numa comparação ponta a ponta entre 1982 e 1997, o conjunto de Municípios do Grande ABC apresentou encolhimento de participação de 17,7% no bolo de repasse de ICMS. A perda por habitante nesses 15 anos é mais intensa, já que em 1982 a região contava com 1,8 milhão de moradores e agora tem por volta de 2,3 milhões, conforme o mais recente censo do IBGE.
Quem dá a dimensão financeira das perdas da região, apenas nos 12 meses do ano passado, é o consultor Ary Silveira, diretor da ASPR Assercon. Ele fez cálculos com base no Valor Adicionado no Estado de São Paulo e chegou à conclusão que o total da queda em valores monetários foi de R$ 1,8 bilhão no Grande ABC. Valor Adicionado é a diferença entre o valor das vendas de produtos e serviços e o valor dos insumos adquiridos ou serviços prestados. O somatório dos valores adicionados de todas as empresas de um país em um ano representa o valor anual do PIB (Produto Interno Bruto).
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