Frases feitas não valem no mundo dos negócios. A OPP Polietilenos de Santo André, empresa do Grupo Odebrecht, sabe que as relações comerciais não têm a fidelidade indestrutível da paixão dos torcedores por clubes de futebol. Cliente conquistado hoje só será mantido com bom atendimento. E bom atendimento não é nem abstração nem um conjunto de medidas precárias. A resposta para a OPP disputar o mercado petroquímico com intensa ocupação da capacidade produtiva tem forte sustentação no Centro de Desenvolvimento de Produtos e Serviços, que atende a todas as empresas do grupo. Criado em 1992, quando ainda estava sob o controle do Estado, o chamado Centro de Soluções recebeu constantes investimentos tecnológicos e em recursos humanos e se transformou num braço científico para toda a rede de clientes, sem acrescentar qualquer custo.
As atividades atribuídas ao Centro de Soluções são aparentemente complicadas para quem não domina o mundo das pesquisas do setor de transformação de petroquímicos. Afinal, é exatamente naquele prédio de 1.860 metros quadrados bem cuidados à esquerda do portão principal da OPP, no Pólo de Capuava, que se combinam materiais e processos para otimizar o desempenho da linha de produtos que o consumidor vai usufruir na ponta final da cadeia de transformação. Também ali se desenvolvem e se aprimoram produtos que tenham propriedades mecânicas e óticas reconhecidamente competitivas. Outra missão do Centro de Soluções é simular as etapas de um processo real de transformação de resinas para análise completa da performance do molde e da peça final.
A química Mônica Cristina Evangelista explica que é na unidade de pesquisas da OPP que se oferecem serviços integrados de testes para o aprimoramento contínuo da qualidade dos produtos em todas as etapas de desenvolvimento: desde a concepção, passando pelo processo utilizado, chegando à produção, às aplicações e até mesmo aos serviços prestados. Será possível resistir a tantas vantagens? É por isso que o superintendente Nívio Roque explica que a OPP não vende apenas produtos petroquímicos, cujas matérias-primas derivadas do nafta lhe são fornecidas pela vizinha Petroquímica União, empresa-mãe do complexo industrial de Capuava.
Nívio Roque reforça o didatismo de Mônica Cristina para dizer que o Centro de Desenvolvimento de Produtos e Serviços nutre-se da filosofia de que é preciso antecipar e acompanhar as necessidades dos clientes. Quem acha que isso não dá trabalho, muito trabalho, é porque desconhece as peculiaridades do setor. Entre as necessidades de quem procura a OPP para ser parceiro de negócios, porque essa é na realidade a relação que acaba prevalecendo, está o desenvolvimento de novos produtos, com a criação ou modificação de grades. Atinge-se esse objetivo por meio de alterações das propriedades básicas que só especialistas em química conhecem a fundo.
Mais utilidades -- A clientela também conta com a alternativa de utilizar o centro de pesquisas para avaliar lotes de produtos a partir de testes de produção. Os materiais são testados em condições críticas de processo, para garantir desempenho em ambientes reais de produção. Resinas concorrentes e importadas também passam pelo corredor polonês de equipamentos sofisticados e profissionais meticulosos. É vasculhando o que é oferecido no mercado que também se ganha mais competitividade. O centro também promove a geração de dados de produtos, o que assegura aos clientes maior conhecimento do material.
A assessoria à clientela ainda se expande ao campo teórico, com elaboração de boletins técnicos sobre temas de grande interesse. Sem contar que realiza cursos e treinamentos de 5S, de extrusão de filmes tubulares de polietilenos e de metodologias de ensaios físicos e mecânicos. Mais? A OPP também coloca em disponibilidade o mais avançado sistema para desenvolver produtos injetados, soprados e embalagens em geral. São três softwares capazes de simular os mais complexos processos de transformação e solicitações mecânicas e térmicas e outro para projetos gráficos. Também abre caminho para vasta literatura técnica sobre caracterização e processamento de resinas, por meio de banco de dados do Centro de Informações Técnicas, localizado em Triunfo, no Rio Grande do Sul.
Todo esse arsenal que procura eternizar as relações entre a OPP e seus clientes está dividido em quatro laboratórios -- de processamento, de testes físicos, de caracterização e de via úmida. Essa diversidade exige gente qualificada. Daí a razão de, do total de 23 profissionais, cinco exercerem funções de engenheiros de produto, 10 (também engenheiros) atuarem como assistentes técnicos, uma química, três analistas de laboratório, três técnicos em plástico e um operador de máquinas. Se 70% dos profissionais são engenheiros, os demais estão próximos da diplomação no Ensino Superior.
Como competitividade não é via de mão única e que preocupe apenas a OPP, acossada pela concorrência de grupos igualmente poderosos, os clientes também se viram para disputar fatias do pulverizado mercado de terceira geração de petroquímicos e que transformam granulados químicos em geladeiras, peças e componentes de veículos, embalagens, carcaças de computadores e tudo o mais que a máxima darwiniana pode explicar.
Resultado disso está impresso no gráfico de desempenho do centro de pesquisas. Houve crescimento de 26% no total de atendimentos em 1998 comparativamente ao ano anterior. Foram 1.138 contra 905. A área de suporte passou de 588 atendimentos para 649, a área de desenvolvimento registrou queda de 265 para 77 e outras atividades somaram 285 contra 179. Quantidade não é tudo. Os índices de reclamação são valiosos. A meta da OPP para o ano passado era de 3,3%, mas não ultrapassou 2,3%.
Todos esses avanços seriam improváveis se o Centro de Desenvolvimento de Produtos e Serviços fosse autárquico, sem correlação com as áreas administrativa e operacional da OPP Polietilenos. A tecnologia de informação, segundo Alessandro Tomazela, ajuda a conectar os setores e a dar unidade a um conjunto fisicamente disperso. Tomazela explica que as redes locais asseguram facilidade de trocas de informações internas e externas, com absoluta segurança de dados.
Racionalidade -- Essa complementariedade reduz as redundâncias e incentiva o trabalho corporativo. A rede conta com equipamentos de hardware e software de última geração e instala a OPP entre as empresas mais informatizadas per capita do País, já que são 117 estações, como são denominados os computadores, para 130 funcionários.
Além de abrir as portas de informações para os clientes e fornecedores, a OPP interage em tempo real com todas as demais unidades administrativas e operacionais do setor químico/petroquímico do Grupo Odebrecht no Brasil (Maceió, Camaçari, Belo Horizonte, São Paulo e Triunfo) e também na Argentina. A concentração de dados está estrategicamente armazenada na sede administrativa do grupo em São Paulo, pela vantagem de ser a menor distância a ligar todas as unidades.
A infra-estrutura de tecnologia de informação da OPP permite infinidade de serviços. Os clientes, por exemplo, fazem pedido e verificam a situação de atendimento diretamente no sistema. Os fornecedores têm acesso direto ao estoque da companhia, como se fossem redes de supermercados, e, com base em pré-negociações, contam com ampla liberdade operacional para completar eventuais vazios.
A elite educacional do centro de pesquisas e o agregado tecnológico que se espalha por toda a corporação não constituem ilhas de excelência ou espécie de comissão de frente para consumo de marketing. A formação acadêmica dos funcionários da OPP Polietilenos está permanentemente na mira dos executivos do comando. O superintendente Nívio Roque costuma dizer que o desafio na companhia é contrabalançar o longo tempo de inauguração da planta, que já completou 27 anos, com a eficiência de quem acabou de se instalar no mercado.
No mundo petroquímico, três décadas de atividades de uma unidade industrial representam exagero. Algo como acreditar que músculos de atletas veteranos possam ter o vigor e a força de quem tem o viço da juventude. Pois a OPP consegue surpreender cada vez mais, aliando impetuosidade e experiência sem que se atribuam aos resultados qualquer relação esotérica ou anabolizante. Com mais da metade (51%) do batalhão de funcionários com Ensino Superior, 28% com Ensino Superior incompleto e os restantes 21% com formação técnica ou secundária, a guerra da competitividade fica menos difícil de ser vencida.
Além disso, é preciso entender que, embora estruturalmente antiga, a planta da OPP passou por cirurgias de modernidade em suas entranhas. Máquinas, equipamentos, processos, tudo é permanentemente monitorado e avaliado. Toda a capacidade produtiva é rigorosamente preenchida. Contribui para tanto, também, o conceito de adoção do instrumental utilizado por cada funcionário. Resumidamente, eles se sentem donos dos equipamentos com que trabalham. O programa estimula o autodesenvolvimento dos funcionários, estabelece atividades para difundir conhecimentos internos, em forma de palestras e apostilas, e assegura a disponibilidade dos equipamentos. Por isso se atingem 99% de grau do que tecnicamente Nívio Roque chama de eficiência operacional, muito acima da média internacional de empresas mais modernas. São 130 mil toneladas de resinas termoplásticas a abastecer o mercado este ano.
Multiplicidade -- Mas não é só por saber cuidar do equipamento com o qual trabalha que o funcionário ajuda a fazer a diferença de produtividade. O quadro operacional foi preparado para exercer funções múltiplas, como explica Carlos Antonio Alves de Souza, da área de produção. Antes, os operadores, que são o maior contingente da mão-de-obra da fábrica, contavam com formação exclusiva na área. Com a reestruturação técnica, operador tem formação básica em elétrica, segurança, inspeção, instrumentação, caldeiraria e mecânica.
Não parece difícil entender as razões que fazem da OPP um centro agregador e difusor de modernidade. Quem ainda não se deu conta de que tudo isso é uma filosofia antenada com os tempos de globalização pode eliminar dúvidas sem precisar ingressar na empresa. Basta chegar até a portaria.
Enfim, a OPP Polietilenos está demarcando a distância que separa o presente e o passado nas atividades econômicas. Só se surpreende com isso quem não consegue interpretar, mesmo sem entrar em seu território, a emblemática coexistência entre antigas torres que simbolizam a indústria petroquímica e generosos espaços verdes, muito verdes -- inclusive de árvores frutíferas.
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