O que deveria ser uma surpresa é uma constatação lógica, embora lamentável: numa região de sete municípios que têm como cartão de visita o berço das montadoras de veículos no País, o salário médio dos funcionários municipais na ativa é 23% maior quando confrontados os valores com a média da iniciativa privada.
Em dezembro de 2017 (esta é a data mais atualizada do Ministério do Trabalho na discriminação de salários do contingente setorial de empregados formais), a região contava com 49.265 servidores municipais, ante 679.692 trabalhadores com carteira assinada em diversos setores privados, casos de indústria de transformação, comércio, serviços, construção civil e uma escassa agricultura.
A diferença de 23% (exatamente 22,71%) é uma conta simples. Os servidores representavam valores salariais de R$ 201.064.738,65 milhões em dezembro passado. Divididos pelo total da categoria (49.265), resulta em R$ 4.081,29 em média por carteira assinada.
Já os empregados do setor privado somavam massa salarial de R$ 2.143.837.061,30 bilhões no mesmo dezembro de 2017. Ao se dividir o valor pelo total de trabalhadores (679.692), chega-se ao salário médio de R$ 3.154,13.
Outros tempos
Não existe registros de um passado relativamente distante no qual o setor industrial dava as cartas na região e liderava com enorme vantagem o valor médio de assalariamento. A proporção de trabalhadores contratados pela CLT ultrapassava a 50% do total e o setor público municipal tinha peso discretíssimo em quantidade e em salários. Na medida em que a economia da região perdeu vitalidade, ultrapassada pela cultura de Estado Grande, o setor público cresceu nos gastos.
Em dezembro do ano passado o setor industrial da região contava com apenas 25% da força de trabalho geral. Ou seja: de cada 100 trabalhadores, não mais que 25 estavam nas fábricas. Os salários industriais já não são os mais elevados em vários municípios da região, quando confrontados com a Administração Pública. Tanto que em Diadema, Santo André e São Caetano trabalhadores industriais recebem abaixo dos respectivos funcionalismos locais.
Em Diadema, a média salarial do setor público é de R$ 5.390,98, a maior da região. Muito acima dos R$ 3.638,23 pagos pela indústria prevalecentemente de pequeno e de médio porte. Uma diferença de 32,51%.
A melhor explicação é que Diadema foi governada desde o começo dos anos 1980 por quadros político-partidários de esquerda, principalmente o PT. Somente nos últimos seis anos um prefeito de centro-direita está no poder.
O PT e as esquerdas em geral colocam o Estado em suas três dimensões (federal, estadual e municipal) como carro-chefe administrativo. Diadema conta com 7.278 servidores. A massa salarial representava R$ 39.235.552,44 em dezembro do ano passado.
Diferenças entre maiores
Santo André e São Caetano também têm servidores municipais com salários mais elevados por conta de duríssimo processo de desindustrialização, com danos colaterais profundos. A média salarial de 6.209 servidores municipais de São Caetano é de R$ 3.836,86 e supera a média salarial do trabalhador industrial, de R$ 2.869,89. A distância é de 25,20%. A massa salarial dos servidores públicos de São Caetano em dezembro do ano passado era de R$ 23.823.063,74 milhões.
A distância que separa o salário médio dos servidores públicos de Santo André (R$4.592,38) do salário médio da indústria (R$ 4.154,23) é de 9,53%. A massa salarial dos servidores públicos de Santo André há 11 meses era de R$ 50.135.012, 46, com 10.917 servidores públicos em atividade.
O salário médio dos servidores municipais de São Bernardo só era inferior ao pago pela Prefeitura de Diadema e pela Prefeitura de Santo André. Mas, diferentemente desses dois endereços, os servidores municipais não ganhavam mais que os trabalhadores industriais, influenciadíssimos pelas montadoras de veículos e, em menor intensidade, pelos trabalhadores de autopeças.
O salário médio dos trabalhadores industriais de São Bernardo era de R$ 5.839,72 (o maior da região), enquanto o salário médio do funcionalismo municipal era de R$ 4.018,71. Havia 14.551 servidores públicos em São Bernardo no final do ano passado, os quais geravam R$ 58.476.249,21 milhões em salários.
Domínio industrial
Em Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra o salário médio dos servidores municipais é inferior ao dos trabalhadores nas indústrias, mas os valores estavam bem abaixo dos demais municípios da região. Nada mais que natural. O conjunto dos três endereços não alcança 10% do PIB regional, dominado por São Bernardo com 39% do total.
Em Mauá de 5.815 servidores e massa salarial de dezembro do ano passado de R$ 18.163.908,45, a média salarial dos servidores públicos era de R$ 3.123,60, enquanto o setor industrial registrava R$ 4.007,27. Uma diferença de 22,05%. O Polo Petroquímico ajuda a explicar o prevalecimento do assalariamento industrial.
A diferença média salarial entre os industriários de Ribeirão Pires (R$ 2.992,87) e os servidores municipais (2.584,09) alcançava 13,68%. A massa salarial mensal dos servidores municipais registrava R$ 9.599.894,35.
Rio Grande da Serra, o menor Município da região e não mais que 0,2% do PIB, registrava em dezembro do ano passado 780 servidores municipais que recebiam em média R$ 2.091,10. Menos que a média salarial da indústria, de R$ 2.665,69. Os servidores municipais recebiam em conjunto R$ 1.631.058,00 milhão por mês.
Ranking do G-22
Quando se estendem os resultados do confronto entre assalariamento médio da Administração Pública e dos industriários aos integrantes do G-22 (o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital e incluindo-se Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para contemplar a região integralmente), verifica-se predomínio estatal. Apenas oito municípios contam com salários industriais maiores que os dos servidores, como pode ser constatado no ranking abaixo.
Um ranking que leva em conta, na definição de posicionamentos, em escala descendente, o assalariamento dos servidores públicos municipais. Nesse ponto, quem lidera é Paulínia, no Interior do Estado. Trata-se de um polo petroquímico seletivíssimo. Campinas, São José dos Campos, Ribeirão Preto, Jundiaí e Mogi das Cruzes seguem na tabela. Diadema, que detém o maior assalariamento do funcionalismo público da região, aparece em oitavo lugar no G-22. Santo André é 14ª colocada, São Bernardo a 16ª, São Caetano a 19ª, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra ocupam os três últimos lugares.
Ou seja: em matéria de valorização ou de gastos com o funcionalismo (a interpretação depende de olhares diferentes), a região está muito abaixo dos demais endereços. O salário médio de R$ 4.081,29 (23% superior ao dos industriários), colocaria a região, fosse megacidade de 2,7 milhões de habitantes, somente à frente de Sumaré. Já o salário médio dos industriários, de R$ 3.154,30, é superior a Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Santos. Individualmente, o salário médio industrial de São Bernardo, o mais levado da região, de R$ 5.839,72, só perde no G-22 para Campinas, Paulínia, São José dos Campos e Sumaré.
1. Paulínia – Salário médio do funcionalismo de R$ 8.328,39 ante R$ 6.961,62 dos industriários. Diferença de 16,41%.
2. Campinas – Salário médio do funcionalismo de R$ 8.253,28 ante R$ 4.223,61 dos industriários. Diferença de 48,82%.
3. São José dos Campos – Salário médio do funcionalismo de R$ 7.231,21 ante R$ 6.476,88 dos industriários. Diferença de 10,43%.
4. Ribeirão Preto – Salário médio do funcionalismo de R$ 6.893,49 ante R$ 2.786,41 dos industriários. Diferença de 59,58%.
5. Sorocaba -- Salário médio do funcionalismo de R$ 5.614,44 ante R$ 4.281,53. Diferença de 23,74%.
6. Jundiaí – Salário médio do funcionalismo de R$ 6.110,97 ante R$ 4.337,90 dos industriários. Diferença de 29,01%.
7. Mogi das Cruzes – Salário médio do funcionalismo de R$ 5.492,81 ante R$ 3.321,29 dos industriários. Diferença de 39,53%.
8. Diadema – Salário médio do funcionalismo de R$ 5.390,98 ante R$ 3.638,23 dos industriários. Diferença de 32,51%.
9. São José do Rio Preto – Salário médio do funcionalismo de R$ 5.032,51, ante R$ 2.405,19 dos industriários. Diferença de 52,20%.
10. Guarulhos – Salário médio de R$ 5.003,53 ante R$ 3.910,19 dos industriários. Diferença de 21,85%.
11. Barueri – Salário médio do funcionalismo de R$ 4.076,24 ante R$ 4.260,92 dos industriários. Diferença de 4,33%.
12. Piracicaba – Salário médio do funcionalismo de R$ 4.958,26 ante R$ 4.012,08 dos industriários. Diferença de 19,08%.
13. Santos – Salário médio do funcionalismo de R$ 4.703,62 ante R$ 2.630,46 de industriários. Diferença de 44,07%.
14. Santo André – Salário médio do funcionalismo de R$ 4.592,38 ante R$ 4.154,23 dos industriários. Diferença de 9,54%.
15. Taubaté – Salário médio do funcionalismo de R$ 4.360,24 ante R$ 5.172,32 dos industriários. Diferença de 15,70%.
16. São Bernardo – Salário médio do funcionalismo de 4.018,71 ante R$ 5.839,72 dos industriários. Diferença de 31,18%.
17. Sumaré – Salário médio do funcionalismo de R$ 3.793,39 ante R$ 5.859,49 dos industriários. Diferença de 35,26%.
18. Osasco – Salário médio do funcionalismo de R$ 3.110,58 ante R$ 3.903,38 dos industriários. Diferença de 20,31%.
19. São Caetano – Salário médio do funcionalismo de R$ 3.836,86 ante R$ 3.716,94 dos industriários. Diferença de 25,20%.
20. Mauá – Salário médio do funcionalismo de R$ 3.123,60 ante R$ 2.869,89 dos industriários. Diferença de 22,05%.
21. Ribeirão Pires – Salário médio do funcionalismo de R$ 2.584,09 ante R$ 2.992,87 dos industriários. Diferença de 22,05%.
22. Rio Grande da Serra – Salário médio do funcionalismo de R$ 2.091,10 ante R$ 2.665,69 dos industriários. Diferença de 21,55%.
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