Economia

Está chegando a hora de saber
tamanho do desastre industrial

DANIEL LIMA - 12/12/2018

Vamos saber nesta sexta-feira quanto foi a derrocada industrial da região – e particularmente de São Bernardo -- desde que Lula da Silva deixou a presidência do Brasil, em dezembro de 2010. Naquele ano o PIB Nacional cresceu 7,5%. Somente os cinco anos subsequentes serão analisados, por força de limitações estatísticas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o suficiente para medir o tamanho do maior desastre econômico da região em todos os tempos.

Como todos sabem ou têm obrigação de saber, o período Dilma Rousseff, especialmente o segundo mandato, foi um terror. Michel Temer, seu substituto, em que pese questões que se embaralham com a Operação Lava Jato, deu uma ajeitada na pelota e impediu que o estrondo fosse ainda pior. 

Não falta quem imagina que este jornalista está a partidarizar os textos quando se refere ao período Dilma Rousseff ou mesmo Lula da Silva. Já enfrentei esse tipo de deformidade avaliativa um milhão de vezes porque não faltam leitores ideologicamente deformados e que, por isso, veem fantasma em todos os cantos. Não houve na história desta região (vejam que estou escrevendo como os discursos de Lula, por pura provocação), um jornalista que tenha batido tanto no presidente Fernando Henrique Cardoso.

Delfim, que testemunho!

Os imbecis de carteirinha (ainda outro dia um deles se manifestou num grupo de Whatsapp de forma apelativa, à falta de informações) são ignorantes por natureza e safadeza. Adoro o contraditório, porque nos ilumina, mas o contraditório burro é perda de tempo.

Não seria preciso, mas chamo o testemunho de uma sumidade econômica para resumir o que foi sobretudo o segundo mandato de Dilma Rousseff. No caso, trata-se do ex-ministro Antonio Delfim Netto. Leiam alguns trechos do artigo que escreveu hoje na Folha de S. Paulo sob o título “Pegar pelos cornos”: 

 Suspeito que a primeira medida que o novo governo terá de pedir ao Congresso é a aprovação de sua organização administrativa, o que é uma exigência constitucional. Por outro lado, para entender minimamente a enorme gravidade da situação fiscal em que o país foi metido de 2013 a 2016 é preciso lembrar que: 1º) o voluntarismo da política econômica produziu uma recessão que reduziu o PIB per capita, em média, 3% ao ano; 2º) o déficit fiscal cresceu de 2,3% para 9% do PIB; 3º) a relação dívida bruta/PIB saltou de 52% para 70%; e 4º) o superávit primário passou de 2,3% para um déficit primário de 2,5% do PIB, uma inversão de 4,8% do PIB.

Arrisque um número

Por essas e por outras o que quero e vou saber é quanto foi a perda do PIB Industrial de São Bernardo após Lula da Silva ter deixado a presidência. São Bernardo é mais importante que qualquer outro endereço regional porque é nossa Capital Econômica. Mas carrega o fardo de detentora da chamada Doença Holandesa, marca que adotei para demonstrar o quanto é pernicioso depender demais de uma atividade econômica sob o descontrole da globalização.

Faço uma sugestão ao leitor: arrisque um número que dê a dimensão da perda de São Bernardo na atividade industrial entre janeiro de 2011 e dezembro de 2016. Sim, o PIB Industrial que conheceremos nesta sexta-feira por meio do IBGE, refere-se à temporada de 2016. A atualização é demorada e só teremos, por exemplo, os números deste ano quando 2020 estiver para acabar.

Vamos, arrisque um número. Tente. Se demorou demais para pensar ou se pensou modestamente, é sinal de que não acompanha com assiduidade estas páginas. Em julho deste ano publiquei um texto com o seguinte título: “PIB Industrial de São Bernardo já desabou 52,46% pós-Lula”. Assustaram-se? Acham que estou maluco das ideias? Sou um carimbador maluco e falso estatístico? Bobagem.

Período mais dramático

Vou mais longe: depois de acumular aquela perda gigantesca, o pior ainda não terminou. Os números que o IBGE divulgará nesta sexta-feira vão sacramentar o período mais dramático da história industrial de São Bernardo, porque abrangerá dois pontos distintos: a última e fértil temporada da indústria automotiva sob os desígnios de Lula da Silva e os efeitos mais danosos da presidência de Dilma Rousseff com pedaladas penalizadas com a perda de mandato.

Sessenta por cento de redução do PIB Industrial é o mínimo que teremos em São Bernardo. Não há atividade na região que gere mais riqueza que a indústria. Particularmente em São Bernardo é uma constatação escancarada.

A maioria dos empreendedores da região é desligada de questões econômicas locais. Vive no mundo da lua. Só vive do trabalho, da dedicação, do empenho e, alguns deles, de mutretagens. Passam despercebidos dados econômicos locais que, somados aos nacionais e mesmo aos internacionais, direcionam o caos ao horizonte próximo.

Como os leitores acham que cantei as bolas com precisão sobre o embuste do mercado imobiliário? E a avalanche frustrante de investimentos em shoppings centers? E sobre tantas outras coisas, como a brutalidade que cometeria e que arrasaria minhas parcas economias se me metesse a produzir jornalismo de papel, algo que se assemelhasse à revista LivreMercado dos bons e inigualáveis tempos?

Sessenta por cento?

O PIB Industrial de São Bernardo caiu 52,46% nos cinco primeiros anos completos após a retirada de Lula da Silva da presidência da República. Bem mais que os demais municípios da região. A Doença Holandesa atinge o Município frontalmente.

A região como um todo perdeu 38,66% de geração de riqueza industrial entre janeiro de 2011 e dezembro de 2015. Em valores monetários, são mais de R$ 16 bilhões. Mais que um PIB Industrial e meio de São Bernardo de 2015.

Nenhum dos municípios que integram o G-22 teve comportamento tão dilacerante como São Bernardo no PIB dos Municípios Brasileiros. G-22 é o grupo selecionado por CapitalSocial para representar os maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital. Na realidade, são as 20 maiores. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra foram inseridas porque completam o quadro regional.

Em números originais, ou seja, sem considerar a inflação do período de cinco anos, o G-7 (ou seja, os sete municípios da região) somava R$ 30.144.133 bilhões de PIB Industrial em 2010. Aplicando-se a inflação do período (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, IPCA), o valor nominal salta para R$ 42.379.636 bilhões em 2015. No mundo real, o setor industrial da região obteve resultado final de R$ 25.993.400 bilhões em dezembro de 2015.

Façam as contas e chegarão à perda de R$ 16.386.236 milhões. Os demais 15 integrantes do G-22 somaram em valores nominais R$ 75.377.581 bilhões de PIB Industrial ao final do governo Lula da Silva. Em 2015 foram registrados R$ 92.476.910 bilhões. Quando se deflaciona o valor monetário de dezembro de 2010 e se compara com o valor monetário de 2015, a diferença negativa é de perda de 12,73%.

Perdendo a liderança

Vamos agora aos números de São Bernardo, que mais importam para esquadrinhar o eixo deste texto. São Bernardo ocupava em 2010 a primeira posição geral no G-22 em matéria de PIB Industrial com vantagem de nominais R$ 4 bilhões sobre a segunda colocada, São José dos Campos. Guarulhos, Campinas, Jundiaí, Paulínia, Sorocaba, Taubaté, Santo André e Piracicaba, nessa ordem, ocupavam os 10 primeiros lugares.

Cinco anos depois, em 2015, São Bernardo caiu à quinta posição no ranking. São José dos Campos, da indústria aeroespacial, passou à liderança com vantagem de R$ 4 bilhões sobre São Bernardo. A segunda posição passou a ser ocupada por Paulínia de petroquímicas e químicas, seguida de Guarulhos e Campinas. Depois de São Bernardo vieram, pela ordem, Jundiaí, Sorocaba, Piracicaba, Santo André e Taubaté.

São Caetano também tem motivos para lastimar a passagem dos cinco anos pós-Lula da Silva: perdeu 42,09% do PIB Industrial, sempre na aplicação do critério adotado para São Bernardo. Pega-se o valor de dezembro de 2010, aplica-se o IPCA de 40,59% do período de janeiro de 2011 a dezembro de 2015 e se compara com o resultado da temporada.

É exatamente isso que voltaremos a fazer nesta sexta-feira. As demais perdas industriais da região foram as seguintes: Diadema (27,56%), Mauá (19,82%), Santo André (20,03%), Ribeirão Pires (15,89%) e Rio Grande da Serra (19,61%).

Sem esperança

Para quem ainda nutre alguma esperança de sucesso do PIB Industrial que virá embutido no PIB Geral dos Municípios nesta sexta-feira convém um novo alerta: o emprego em geral e o emprego industrial em particular costumam ditar a sustentabilidade da criação de riquezas, sumo nobre do PIB.

Pois em 2016, exatamente o ano de que tratará o IBGE na divulgação que está chegando, a região perdeu 15.808 empregos formais que desapareceram das fábricas. Tudo como consequência da desandada geral do setor automotivo que comercializou apenas 2,05 milhões de veículos na temporada. Uma merreca perto dos anos bombásticos de Lula da Silva. Em 2010 foram vendidos 3,5 milhões de veículos no País. Quase 43% mais que em 2016.

O estoque de emprego industrial com carteira assinada é um buraco que se aprofunda. Conheceu período de ouro apenas com Lula da Silva. Em dezembro de 2002, último mês da gestão de Fernando Henrique Cardoso, a região contava com 3,61% dos trabalhadores industriais do País. Em dezembro de 2016 (o ano, repito, cujo PIB será aferido agora), a participação relativa caiu para 2,75%. Uma perda de 23,82%. Ganhamos 55.638 empregos industriais formais durante os oito anos do governo Lula da Silva. Com Dilma Rousseff, em seis anos, de 2011 a 2016, perdemos 59.513. Sobrou, portanto, um déficit de 3.875 vagas. 

O Brasil de Dilma Rousseff terminou formalmente em maio de 2016 e estamos faz algum tempo sob Michel Temer. Entretanto, para efeito do PIB dos Municípios os números que saltarão nesta semana são de 2016 completo, tecnicamente contabilizados como complemento da temporada de Dilma. Querem pior notícia?



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