Quem acreditou na mensagem do governador Geraldo Alckmin de que o trecho sul do Rodoanel transformaria a Província do Grande ABC na melhor esquina do Brasil ficará decepcionado com os resultados já consolidados e com os próximos tempos. Quem desconfiou do governador e de seu mais ávido assistente, o deputado estadual Orlando Morando, só tem motivos para sentir-se em paz porque não caiu no conto da Carochinha.
Como era esperado para quem tem um mínimo de juízo e o máximo de equidistância político-partidária, o Rodoanel Sul está longe, muito longe, de ser fator diferencial à Província do Grande ABC. Por razões que cansamos de antecipar e que não custa nada reciclar.
Vamos a resultados práticos e insofismáveis sobre o grau de competitividade da Província do Grande ABC no interior da Região Metropolitana de São Paulo. Peguemos o que chamaremos mais uma vez de Grande Osasco, ou de Grande Oeste, área geográfica tão colada à Capital quanto a Província do Grande ABC. Formada por oito municípios (G-8), a Grande Oeste conta com os seguintes endereços, todos sob a influência direta ou indireta, mas sustentável, do trecho oeste do Rodoanel: Osasco, Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista.
Acredita o leitor que a soma de riqueza desses municípios que outrora, até os anos 80, começo dos anos 90, nem de longe provocava cócegas de rivalidade à Província do Grande ABC, é quase tanto quanto a soma de riquezas de nossos sete municípios? Pois trate de acreditar porque o jogo está praticamente empatado e tudo leva a crer que, nos próximos anos, será revertido em favor deles.
Traçados distintos
Entre muitos fatores que determinaram a virada da biruta econômica que contemplou a Grande Oeste e minou a resistência da Província do Grande ABC está o traçado do Rodoanel. O primeiro trecho, inaugurado há uma década e meia, contemplou Osasco-Barueri e vizinhança. O segundo trecho, o trecho sul, que supostamente alteraria os rumos da Província do Grande ABC, foi liberado há quase três anos, em 1º de abril de 2010 por um governador José Serra louco para propagar uma obra de retumbância, como de fato é qualquer um dos trechos do Rodoanel.
Diria o leitor mais esperto e prospectivo, quando não desconfiado, que é natural Osasco e companhia terem evoluído mais na última década, como mostraremos em números, porque foram abençoados desde o início com o trajeto do Rodoanel Oeste. Em parte o leitor tem razão, mas apenas em parte.
O que diferencia os dois microterritórios dentro da megametrópole paulistana é que a Grande Oeste, ou seja, Osasco, Barueri e os demais, conta com um traçado da obra que permite integração regional. São nada menos que 13 acessos no interior daquela geografia a retroalimentar impulsos de investimentos. Na Província do Grande ABC o traçado do Rodoanel Sul é muito mais um fetiche econômico do que realidade, já que há apenas três entroncamentos, na Imigrantes, na Anchieta e o puxadinho construído em Mauá. E mesmo assim, exceto os poucos quilômetros em Mauá, de um traçado fechado, premido pela preservação ambiental e, portanto, muito distante da logística de aproximação entre matéria prima e produtos ou, então, de multiplicação de unidades de distribuição de produtos.
Brasil versus Austrália
Trocando em miúdos, o trecho oeste do Rodoanel, que bafeja Osasco, Barueri e companhia, é uma espécie de Seleção Brasileira numa Copa do Mundo, enquanto o trecho Sul não passa de uma Austrália qualquer na modalidade esportiva mais difundida no planeta. Tratar, portanto, a Província do Grande ABC como a “melhor esquina do Brasil”, foi um exagero retórico do governador Geraldo Alckmin e do deputado estadual Orlando Morando.
Sei que o leitor está, nestas alturas do campeonato, a cobrar provas materiais de que o trecho sul do Rodoanel não é lá mesmo essas coisas para a economia da Província do Grande ABC e que os efeitos positivos teriam saltado alguns metros adiante, apenas, quando o que sugeria à ocasião era algo digno de recordistas olímpicos.
Tem razão o leitor porque não se deve mesmo ser embromado por eventuais rebuscamentos teóricos comuns entre governantes que não só lançam mão de lantejoulas com verniz acadêmico como requisitam a especialistas em enrolação dados estatísticos que, instrumentalizados, dão nó na realidade. Sei de tudo isso e por isso mesmo não vou abusar dos leitores. Apenas vou solicitar que aguardem até segunda-feira, quando publicarei as informações que tanto esperam.
Posso garantir que já as tenho disponíveis, preparadas meticulosamente em longas, cansativas, mas nem por isso desprezíveis horas de trabalho. Debruçar sobre bancos de dados para regionalizar informações é um dos meus esportes favoritos, porque a medida me dá sustentação a incursões só aparentemente suicidas. Daí ter criado o G-20, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, com o objetivo explicito e visceral de comparar com os mais competentes na propagação de riqueza os passos que andamos dando quase que tropegamente.
Prometo que na edição desta segunda-feira vou provar o quanto estamos perdendo a corrida da competitividade, mesmo tendo como referencial principal um ponto de inflexão da economia da Província do Grande ABC, no caso a chegada do presidente Lula da Silva em Brasília, contrapondo-se à dieta do antecessor Fernando Henrique Cardoso, o maior carrasco da história econômica da região.
Ou seja: mesmo com os fervilhantes anos de consumismo (e de baixíssimos investimentos) do governo Lula da Silva, não fomos capazes de empreender um ritmo de crescimento mais compatível com as demandas sociais. A riqueza do trecho oeste do Rodoanel bate de goleada na riqueza do trecho sul do Rodoanel. Se há de fato uma melhor esquina do Brasil, provavelmente está em Osasco ou em Barueri. Aqui, convenhamos, estamos numa sinuca de bico porque não podemos crescer em direção às áreas de mananciais, por motivos óbvios, e estamos encalacrados em logística em relação às facilidades de outras regiões. Inclusive na Grande São Paulo da Grande Oeste.
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