Sociedade

Novo ouvidor é farinha do mesmo
saco da Administração Carlos Grana?

DANIEL LIMA - 13/03/2014

Tudo indica que sim. E ninguém melhor para desanuviar a desconfiança em forma de ações profiláticas do que o próprio ouvidor, José Ribas, que tomou posse ontem durante um evento típico de extensão do gabinete do prefeito Carlos Grana. Farinha do mesmo saco é mesmo uma expressão pejorativa que se encaixa perfeitamente à Administração Municipal de Santo André. A gênese da gestão petista é somar, somar, multiplicar, multiplicar, não interessa como. A conta chegará um dia com peso sobressalente de competitividade econômica e de complicações sociais.


 


A mediocridade domina o Paço Municipal, mas há certa engenhosidade em tentar perfumar o cheiro fétido de inapetências gerenciais ao rebocar ou tentando rebocar o prestígio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) local. Resta saber se a classe dos advogados entrou nessa canoa furada que pretende, sob a ótica petista, cooptar um símbolo da classe média de Santo André.


 


A OAB de atuação intrauterina sob o comando de Fábio Picarelli está longe de ser a OAB representativa da sociedade como um todo, mas essa realidade não diminui a importância que detém como instância a ser conquistada por forças políticas.


 


Quem esperava que o advogado José Ribas tomasse posse do alto de uma independência funcional que o honraria ante a OAB perdeu tempo. Nenhuma declaração que cristalizasse esse objetivo foi manifestada. José Ribas repetiu o que tanto o jornal Repórter Diário quanto esta revista digital publicaram recentemente: pretende manter um corpo a corpo com os contribuintes, descentralizando os pontos de atendimento e até mesmo realizando algumas ações itinerantes.


 


Nenhuma declaração, nenhuminha, sobre as irregularidades que dominam a gestão Carlos Grana, como dominaram a gestão de Aidan Ravin, sobretudo em áreas sensíveis ao financiamento eleitoral. Caso específico do mercado imobiliário. A proposta deste jornalista de que a ouvidoria de Santo André deixe de ser apenas uma conexão direta com o gabinete do prefeito em questões menores demandadas pelos contribuintes nem sequer foi levada em conta.


 


Fosse José Ribas revolucionário, teria anunciado que pretende a aprovação de uma legislação que possibilite a transferência de parte dos recursos financeiros de penalidades a serem aplicadas nos mercadores imobiliários que usurpam o uso e a ocupação do solo para a manutenção e a consequente autonomia orçamentária da ouvidoria.


 


Fantoche do Paço?


 


Desconfia-se que o ouvidor José Ribas seja mais um fantoche escolhido pelo Paço Municipal para sugerir à sociedade que a Administração Carlos Grana é democrática. Esse ex-presidente de sindicato e de federação de trabalhadores, tornando-se amigo pessoal do ex-presidente Lula da Silva, ao qual serviu entre outras atividades como ouvidor clandestino, também conhecido como araponga, não dá ponto sem nó. Com o suporte de marketing de um entorno midiático que lhe oferece total sustentação, inclusive a falsetes de ordem gerencial, Carlos Grana reina com a certeza de que terá nas próximas eleições a classe média a seus pés.


 


Inconformado com o fato de que apenas um terço do eleitorado de Santo André lhe deu votos em 2012, Carlos Grana e sua equipe desenharam projeto de mistificação de suporte dos moradores dos bairros mais escolarizados e de maior poderio econômico. A classe dos advogados é prioridade. José Ribas não é ouvidor por acaso. Tudo foi preparado para que se lhe abrissem espaços sem o menor risco de derrota. Não ganhou por 11 a 0 por acaso.


 


Imagem em chamas


 


Talvez o que a Administração Carlos Grana tenha subestimado é que a classe dos advogados não tem apenas uma liderança e nutre de forma majoritária certo desdém aos políticos. Mais que isso: por estar a sede da OAB e as instâncias de poder judiciário tão próximas do gabinete do prefeito, a disseminação de informações que os jornais não publicam porque não lhes interessam é tão rápida quanto instantânea. Há verdades, há especulações e há mentiras que se misturam corrosivamente, retroalimentando uma imagem pessoal e gerencial pouco nobre do prefeito junto à classe média que tanto pretende conquistar.


 


A vitória de José Ribas antecipadamente agendada pelos planos de controle da sociedade supostamente pensante de Santo André ganhou a forma de uma correspondência eletrônica que este jornalista e advogados receberam no final do ano passado. Nada mais dilacerante para transformar uma jogada de mestre de aproximação gestada pelo Paço Municipal em tropeço homérico de submissão da OAB.


 


Nestes momentos em que o País vive ambiente de tensão econômica e política, por conta de um PIB que segue patinando e de um governo federal refém das forças partidárias que lhe deram suporte ao longo dos últimos anos, chega a ganhar ares de deboche a Administração Carlos Grana vender com o apoio publicitário dos oportunistas de sempre que o novo ouvidor é um legítimo representante dos advogados de Santo André, sabendo-se como se sabe, provando-se como se pode provar, que a eleição de José Ribas foi um jogo de cartas marcadas e de contrapartidas prometidas que provavelmente vão muito além do digerível.


 


Ninguém melhor, portanto, para acabar com o ataque à credibilidade construída pela Ordem dos Advogados do Brasil de Santo André do que o próprio novo ouvidor. Se o representante da OAB não promover uma reforma completa dessa pobre instância administrativa subjugada historicamente pelo Executivo, estará praticamente liquidado junto aos pares profissionais e, mais que isso, construirá um déficit de comprometimento impagável com a sociedade, com custos imensuráveis à própria entidade que representa.


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